Na presença de um seleto público, composto por 63 pessoas, reunido
na sede de Paris da TFP francesa, Laure Levasseur — diplomada na École
du Louvre, mestre em Letras e História da Arte, famosa conferencista
do castelo real de Versailles e do Museu de Orsay — abordou o tema Noites
de serviço e noites de angústia no castelo de Versailles, calorosamente
aplaudida pelos assistentes.
A conferencista tratou de um aspecto habitualmente desconhecido.
Todos fazem uma certa idéia de um dia na vida quotidiana em Versailles no tempo
dos reis. Mas o que acontecia quando o sol se punha? Quando o monarca ia deitar-se
e os funcionários apagavam as velas?
Com muita competência e um savoir-dire que encantou o auditório,
Mme. Levasseur fez reviver uma realidade da vida de corte às noites.
Após uma rememoração das finalidades e funcionamento do
castelo, seu significado e simbolismo, seu valor político e sua etiqueta,
a conferencista tratou de quem tinha direito a morar nele.
Havia uma etiqueta da noite com uma regra de vida desenvolvida
especificamente para os momentos de escuridão. Ia desde o direito a usar velas ou não,
passava pelo funcionamento da segurança e dos guardas, até os
mot de passe (senhas) indispensáveis — inclusive para o rei absoluto! — à circulação
durante as noites, num palácio sempre fechado à chave nessas
horas.
Com copiosos exemplos, Mme. Levasseur fez desfilar, ante o público encantado,
homens famosos que tinham medo da noite ou da escuridão. Também
outros que, pelo contrário, nas noites de insônia gostavam de
pregar algumas peças a seus conhecidos, produzindo ruídos nos
tetos ou nas chaminés. Além dessas miudezas que fazem sorrir,
a conferencista lembrou os principais incêndios que emocionaram o palácio
e toda a França, os nascimentos e falecimentos na noite, como a morte
do príncipe real polonês Stanislas Leckzinski, a boa disposição
que manteve nesse momento extremo e o valor de Mme. Adelaide, sua neta. O passamento
comovedor do duque de Borgonha, com apenas 10 anos de idade, aceitando cristãmente
a vontade de Deus e recebendo os últimos sacramentos ao lado de sua
desconsolada mãe.
Por fim, a tremenda última noite da Família Real em Versailles,
que foi deitar-se já com a notícia de que uma chusma revolucionária
se aproximava para enfrentar os legítimos soberanos. A seguir, as diferentes
reações de Luís XVI e da rainha Maria Antonieta. E, confirmada
a pavorosa invasão, as medidas que tomaram as pessoas mais próximas
da família. Por fim, a reunião de todos no quarto do rei, até o
dramático momento em que, envoltos pelos berros, pelas blasfêmias
e ameaças proferidos em nome da liberdade, igualdade, fraternidade,
foram arrancados de sua residência e levados com violência a Paris,
onde acabariam guilhotinados após percorrer doloroso calvário.
Hoje, o castelo de Versailles é um museu visitado anualmente por milhões
de turistas... durante o dia.