As noites no Palácio de Versailles


04/12/2006

Marcelo Dufaur

Amigos e simpatizantes da TFP francesa realizaram um admirável passeio espiritual pelas noites do palácio de Luís XIV, construído numa época de esplendor para a qual inúmeros franceses olham com saudades

Na presença de um seleto público, composto por 63 pessoas, reunido na sede de Paris da TFP francesa, Laure Levasseur — diplomada na École du Louvre, mestre em Letras e História da Arte, famosa conferencista do castelo real de Versailles e do Museu de Orsay — abordou o tema Noites de serviço e noites de angústia no castelo de Versailles, calorosamente aplaudida pelos assistentes.

A conferencista tratou de um aspecto habitualmente desconhecido. Todos fazem uma certa idéia de um dia na vida quotidiana em Versailles no tempo dos reis. Mas o que acontecia quando o sol se punha? Quando o monarca ia deitar-se e os funcionários apagavam as velas?

Com muita competência e um savoir-dire que encantou o auditório, Mme. Levasseur fez reviver uma realidade da vida de corte às noites. Após uma rememoração das finalidades e funcionamento do castelo, seu significado e simbolismo, seu valor político e sua etiqueta, a conferencista tratou de quem tinha direito a morar nele.

Havia uma etiqueta da noite com uma regra de vida desenvolvida especificamente para os momentos de escuridão. Ia desde o direito a usar velas ou não, passava pelo funcionamento da segurança e dos guardas, até os mot de passe (senhas) indispensáveis — inclusive para o rei absoluto! — à circulação durante as noites, num palácio sempre fechado à chave nessas horas.


Com copiosos exemplos, Mme. Levasseur fez desfilar, ante o público encantado, homens famosos que tinham medo da noite ou da escuridão. Também outros que, pelo contrário, nas noites de insônia gostavam de pregar algumas peças a seus conhecidos, produzindo ruídos nos tetos ou nas chaminés. Além dessas miudezas que fazem sorrir, a conferencista lembrou os principais incêndios que emocionaram o palácio e toda a França, os nascimentos e falecimentos na noite, como a morte do príncipe real polonês Stanislas Leckzinski, a boa disposição que manteve nesse momento extremo e o valor de Mme. Adelaide, sua neta. O passamento comovedor do duque de Borgonha, com apenas 10 anos de idade, aceitando cristãmente a vontade de Deus e recebendo os últimos sacramentos ao lado de sua desconsolada mãe.

Por fim, a tremenda última noite da Família Real em Versailles, que foi deitar-se já com a notícia de que uma chusma revolucionária se aproximava para enfrentar os legítimos soberanos. A seguir, as diferentes reações de Luís XVI e da rainha Maria Antonieta. E, confirmada a pavorosa invasão, as medidas que tomaram as pessoas mais próximas da família. Por fim, a reunião de todos no quarto do rei, até o dramático momento em que, envoltos pelos berros, pelas blasfêmias e ameaças proferidos em nome da liberdade, igualdade, fraternidade, foram arrancados de sua residência e levados com violência a Paris, onde acabariam guilhotinados após percorrer doloroso calvário.

Hoje, o castelo de Versailles é um museu visitado anualmente por milhões de turistas... durante o dia.

Veja:
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