Luci sull’Est comemora os 90 anos das aparições em Fátima


14/01/2008

Nelson Fragelli

A associação italiana Luzes sobre o Leste, inspirada na obra de Plinio Corrêa de Oliveira, relembrou de modo fulgurante passagens capitais da mensagem de Nossa Senhora de Fátima

 

Roma, 17-11-07. A reunião estava marcada para 16:30h no Auditório Augustinianum, ao lado da Praça de São Pedro. Antes mesmo de 15:30h chegavam os primeiros convidados. Por que tão cedo? Eram amigos e participantes das campanhas de Luci sull’Est. Vinham informar-se, dar opiniões, envolver-se na atmosfera de sua associação. Agradados com o ambiente, examinavam livros e publicações que iam sendo postos nos mostruários, conversavam com os responsáveis de Luci sull’Est já presentes, olhavam comprazidos a pompa do auditório. Às 16:15h, o salão estava quase repleto. Em Roma chovera torrencialmente nos dias anteriores. Céu ainda coberto, frio úmido e ventos sibilantes, num sábado à tarde: condições ideais para se ficar em casa. Não foi o que se deu. O público queria ver o que Luci sull’Est fizera em países outrora agrilhoados ao bloco soviético, vedado pela Cortina de Ferro.

Chegada a hora, uma das imagens peregrinas de Nossa Senhora de Fátima entrou solenemente no recinto, portada por quatro universitários vindos de diferentes regiões da Itália. Ao mesmo tempo, o coro das freiras franciscanas da Imaculada entoou um hino em louvor da Mãe de Deus.

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P. Massimiliano Zangheratti, F.I., professor de Teologia Moral na Universidade Urbaniana de Roma
Antecedeu os oradores a apresentação de um audiovisual sobre o significado de Fátima para nossos dias, ressaltando a mais impressionante manifestação sobrenatural do século XX: a Santíssima Virgem torna-se visível e pede oração e penitência; os homens afastam-se de Deus; a visão do inferno aterroriza salutarmente os videntes, mostrando-lhes que para lá vão os pecadores impenitentes. “Quereis oferecer-vos a Deus, suportando sacrifícios, como reparação pelos pecados e como súplica para a conversão dos pecadores?”. Sem emenda de vida, Deus castigará o mundo; a Primeira Guerra Mundial, então em curso, já era parte do castigo; um segundo conflito mundial viria, e mais tarde ainda outro, se não houvesse emenda; Nossa Senhora recomenda o santo Rosário e a consagração da Rússia, caso contrário essa nação espalharia seus erros pelo mundo.

Desde as aparições, o afastamento de Deus se acentuou. São hoje cometidos e aceitos pela sociedade pecados até piores do que os de então: contracepção, aborto, eutanásia, homossexualidade. É patente que Nossa Senhora não foi ouvida em seus pedidos. Não tendo sido ouvida, mas ainda advertindo os homens, Ela fala por meio de lágrimas maternas. Em 1972, uma das imagens peregrinas, bentas pelo Papa Pio XII, verteu lágrimas em Nova Orleans, nos Estados Unidos. O fato foi largamente divulgado pelo mundo. No íntimo de cada um Ela repete a pergunta feita aos videntes: “Queres oferecer-te a Deus? Meu filho, tu também me deixas só? Não lutas por mim?”. E cabe a cada um de nós se perguntar: “Serei eu uma pessoa a quem Nossa Senhora olharia em vão?”.

Em profundo silêncio terminava o audiovisual. Aquelas imagens da história recente revolveram o íntimo das almas. Uma história da qual somos ainda protagonistas — e agora o viam — junto à própria Mãe de Deus. Ela é a primeira entre os personagens do imenso drama da salvação da humanidade. Ela não age sem nossa contribuição. Ela nos espera há 90 anos. Alguns dos presentes chegaram à emoção das lágrimas.

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Mons. Tadeusz Kondrusiewicz, recém-empossado Arcebispo Metropolita de Minsk-Mohilev (Bielo-rússia)
O mestre de cerimônia, Sr. Júlio Loredo, membro de Luci sull’Est, convidou para presidir a sessão Mons. Tadeusz Kondrusiewicz, recém-empossado Arcebispo Metropolita de Minsk-Mohilev (Bielo-rússia), tendo sido nos últimos 16 anos arcebispo de Moscou. A seu lado, Mons. Juan Rodolfo Laise, bispo emérito de São Luis (Argentina). A mesa foi composta ainda pelo Dr. Sílvio dalla Valle, diretor de Luci sull’Est, P. Massimiliano Zangheratti, F.I., professor de Teologia Moral na Universidade Urbaniana de Roma, e o jovem sacerdote Pe. Pavlo Vyshkovsky, secretário na Nunciatura Apostólica na Ucrânia.

Numa longa e articulada exposição, o Pe. Zangheratti, primeiro orador, analisou o conteúdo teológico da mensagem, a qual ressalta os pontos mais negados pelas tendências teológicas erradas de nossos dias. Ela reafirma a existência do mal e do pecado; a existência da Lei de Deus, à qual os homens devem obedecer; a punição divina a quem a desobedece (visão do inferno e castigos); o papel da responsabilidade individual em oposição à dominação pelo Estado do homem, da sociedade, da economia, etc.

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Vista parcial do público presente
Mons. Kondrusiewicz recordou suas dificuldades em praticar a Religião quando menino. Nasceu numa família católica quando a Igreja sofria perseguições na Bielo-rússia: poucas igrejas abertas, poucos sacerdotes, falta de literatura religiosa, crianças que não podiam freqüentar igrejas, católicos praticantes que não eram admitidos nas universidades. Esse foi o maior perigo da história russa. Eis a situação quando Nossa Senhora de Fátima apareceu, pedindo orações e penitência pela conversão da Rússia. Passadas as grandes perseguições, quando católicos russos foram a Fátima 16 anos atrás, lá encontraram uma velha portuguesa que há anos fazia, entre maio e outubro, uma peregrinação a pé a Fátima, percorrendo cerca de 40 km, pela conversão da Rússia.

Os anos de ateísmo deixaram naquele país marcas profundas: o número de divórcios aumenta; cerca de 70% das novas uniões redundam em separação; o aborto é uma horrível tragédia; os jovens não podem assim receber nas famílias a necessária educação moral. Setenta anos de ateísmo militante deformaram toda e qualquer vida espiritual. Freqüentemente, os fiéis não possuem mais o “sensus Ecclesiae”.

Mons. Kondrusiewicz historiou sua luta para construir igrejas. Ao assumir a diocese de Moscou, em 1991, esta contava com dez paróquias e oito sacerdotes. Hoje ela dispõe de 230 paróquias, cerca de 30 instituições como o seminário maior Maria, Rainha dos Apóstolos, em São Petersburgo, o Instituto de Teologia, História e Filosofia Santo Tomás, em Moscou, oito editoras, dois programas de rádio (Moscou e São Petersburgo), estúdio de televisão em Novosibirsk; um jornal hebdomadário, “Svet Evangelia”. Na Federação Russa trabalham hoje 300 sacerdotes e 400 religiosos e religiosas, provenientes de 22 países. O Seminário de São Petersburgo formou até agora 45 sacerdotes.

Nesse imenso trabalho de re-evangelização da Rússia, Luci sull’Est colaborou com Mons. Kondrusiewicz, destinando a vários de seus projetos donativos obtidos na Itália.

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Pe. Pavlo Vyshkovsky
Em meio a aplausos admirativos, o Pe. Pavlo Vyshkovsky narrou o que segue. A Ucrânia, onde se passou em 1986 o fato narrado, era duramente subjugada pelos soviéticos. Pavlo, embora tivesse apenas 11 anos de idade, foi declarado pelo governo comunista “inimigo da pátria”. Por que motivo? Porque no dia de Natal, em rigoroso inverno, sobre densa neve, esgueirando-se entre árvores e casebres enregelados, evitando olhares traiçoeiros, tencionava assistir à Missa em sua paróquia. Queria comemorar o nascimento do Salvador. Em torno de sua igreja, entretanto, a polícia espreitava. Queria capturar precisamente os mais devotos, que ousavam enfrentar gelos e denúncias para honrar o Menino-Deus. À vista do campanário seus pensamentos foram tomados pela próxima visão do presépio, no aconchego da igreja, em torno a poucos irmãos de fé. Nesse instante a polícia o captura. E a terna visão da Sagrada Família junto à manjedoura, Reis Magos e pastorinhos, foi brutalmente substituída pelas faces duras de milicianos afeitos a martirizar fiéis indefesos. Preso, teve todos os agasalhos arrancados, sendo obrigado a voltar à sua casa em manga de camisa. Não teve dúvida de que o haviam condenado à morte, à terrível morte por congelamento.

Pavlo partiu. A neve era movediça sob seus pés. Percorrer cem metros exigia esforço enorme. Um quilômetro, impossível. Mas tinha que percorrer cinco quilômetros até sua casa. A agressão do frio o enrijecia todo. Na Ucrânia do leste, naquele inverno, a temperatura descia até 20 a 25 graus abaixo de zero. Petrificado pelo gelo, o frio tendia a paralisá-lo. Caía seguidamente, rolava na neve. Pensamentos quase agônicos se sucediam: lembrava-se dos muros de sua igreja, dos quais paroquianos martirizados pendiam de fios metálicos, que lhes atravessavam a cabeça de um ouvido ao outro. “Pensava nas inúmeras pessoas de minha paróquia que não hesitaram em dar a vida por Jesus. Meu avô fora enterrado vivo pelos comunistas, por recitar o Rosário, negando-se a abjurar a fé”. Essas imagens animavam-no a continuar. Foi salvo, conseguindo chegar à casa com a pele toda queimada pelo frio, fatalmente surdo de um ouvido e ouvindo mal com o outro. Sobreviveu após passar oito meses num hospital, “mas agradecido a Deus por ter-me feito sobreviver e, mais tarde, ter-me chamado ao sacerdócio”. Tendo também uma glória entre outras: sua fé, a fé de um menino de 11 anos, amedrontara um governo. Como era débil aquele bárbaro regime, que tantos do Ocidente teimavam em considerar como o mais forte do mundo!

Pe. Pavlo escreveu um livro a respeito de seu país: O martírio da Igreja Católica na Ucrânia (230 p.), publicado por Luci sull’Est.

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Os anos recentes, que para a nossa sociedade ocidental foram de facilidade material, foram os anos de martírio de incontáveis irmãos da fé. Em meio a modas devastadoras da modéstia, de ritmos musicais frenéticos, de incontida vontade de ganhar e gastar, de turismo e prazeres, muitos diziam: “Temos tanto conforto, está-se tão bem. Somos, portanto, abençoados por Deus”. Era uma simplificação, e talvez um véu para a consciência. O que chamavam de uma época “abençoada” não foi uma época de acordo com o desejo de Deus. Ao contrário: Fátima foi uma advertência a seu respeito, e castigos ainda pendem sobre nós. A História não se encerrou.

Luci sull’Est suscita essa revisão do passado recente. É um sagrado “revisionismo” à luz da mensagem de Fátima, com sua tragédia e suas esperanças. Encerrando tão brilhante reunião, em meio aos aplausos entusiásticos do público, o mestre de cerimônia referiu-se ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, o maior apóstolo de Nossa Senhora de Fátima no século XX.

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Lenta dispersão. Diferentes grupos entretinham-se com vivacidade, mas sobriamente. Palpitavam na imaginação cenas recém-vistas ou resultantes da narração dos oradores. Uma fila de assistentes pedia autógrafos ao Pe. Pavlo Vyshkovsky; pequena aglomeração junto à imagem peregrina de Fátima; outros a tocavam e tiravam fotos.


Sr. Juan Miguel Montes, diretor do Ufficio Tradizione Famiglia Proprietà, saúda Mons. Kondrusiewicz
Para as pessoas gradas, esse convívio prosseguiu na sede social de Luci sull’Est, à rua Savoia. Presentes vários sacerdotes do Leste europeu ou empenhados nesse apostolado, residentes em Roma. Nas rodas, os temas da reunião se impunham. Em momentos de distensão, cordiais e comunicativos, era notável ver homens de sacrifícios, recordando glórias, prontos a renová-los. Sua afabilidade e discreta alegria não tolhiam a impressão de ainda se ouvir em torno deles o uivar dos ventos gélidos de vastidões nevadas, o torvelinho de revoluções, o arrastar de correntes nas masmorras soviéticas. Nasceram, viveram e pregaram o Evangelho em meio às incertezas próprias a quem é indesejado, em países cujos regimes fundavam sua existência na atividade dos verdugos.

Durante o jantar, o Sr. Juan Miguel Montes, diretor do Ufficio Tradizione Famiglia Proprietà, saudou Mons. Kondrusiewicz, a quem visitara diversas vezes na diocese de Moscou. Mons. Kondrusiewicz, agradecendo as considerações do orador, declarou-se pronto ao mesmo esforço, agora à frente da Arquidiocese de Minsk. A Bielo-rússia ainda conserva um dos poucos governos comunistas remanescentes no território da gangrenada ex-União Soviética. É preciso continuar, é preciso renovar conquistas. Todos ali têm um compromisso apostólico: a obrigação de evangelizar povos cuja conversão Nossa Senhora prenunciou em Fátima. O que Luci sull’Est puder fazer sob as bênçãos de Maria Santíssima, para incrementar esse apostolado, ela procurará fazer.

Veja:
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