Colômbia Novo governo, nova orientação?
26/09/2010
Luis Guillermo Arroyave
Se pesquisas de opinião fossem certeiras, o novo presidente colombiano seria Mockus, e não Santos. Terá este a firmeza de seu antecessor Uribe, no combate ao narco-terrorismo marxista? Ou abandonará a luta?
Juan Manuel Santos, dir., novo presidente da Colômbia, reúne-se com Chávez no primeiro encontro de ambos após a posse do colombiano |
Álvaro Uribe |
Álvaro Uribe terminou seu governo odiado pelas esquerdas, mas com altíssima popularidade: mais de 70% de aprovação. Na história recente da Colômbia, nunca um presidente foi tão querido por seu povo.
A fórmula com que Uribe governou é considerada, pelas correntes dominantes na mídia e na universidade, como atalho certo para a impopularidade mais calamitosa. Entretanto, foi a caminho para seu sucesso. Uribe não apenas saiu consagrado pelos colombianos, mas ainda elegeu seu sucessor em vitória esmagadora.
Sua fórmula realista pode assim ser resumida: bom senso, energia e franqueza. O ex-presidente chamou o crime de crime, a guerrilha de guerrilha, o narcotráfico de narcotráfico, o seqüestro de seqüestro, o roubo de roubo, a narco-guerrilha de narco-guerrilha. Não viu nos líderes guerrilheiros os propalados idealistas que sonham com o bem futuro do homem. Viu-os como são: praga atual e perigo fatal para o futuro da Colômbia. Qualificou-os como revolucionários comunistas, perigosos, amorais e inescrupulosos.
Lúcido, reagiu com energia às provocações, reprimiu sem contemplação o narcotráfico e não perdeu um segundo com negociações utópicas - ante-sala do desastre - como as que fizeram os presidentes Belisario Betancur e Andrés Pastrana. Com essa política, esses dois mandatários só haviam piorado a situação da imensa maioria ordeira da população. Daí o prestígio de Álvaro Uribe.
Uribe não fez concessões. Venceu, mas ficou isolado
Líder guerrilheiro morto durante a operação “Fénix”.
Sendo ministro da Defesa, Santos dirigiu dois dos principais lances contra a guerrilha comunista na Colômbia: as operações “Fénix” e “Xeque” |
Vejamos alguns dados. Em 2002, quando Uribe assumiu o poder, as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) controlavam 25% do país. Hoje estão acuadas, têm apoio de míseros 2% da população, e o Estado pode impor os termos da negociação. De 2003 a 2009, o número de seqüestros despencou 88%, e o número de homicídios caiu pela metade. Em Bogotá, o número de assassinatos corresponde a 20% dos que ocorrem na vizinha Caracas, a capital de Chávez. Nesse período de oito anos, mais de 50 mil colombianos abandonaram a ilegalidade da guerrilha e dos paramilitares, e foram reintroduzidos pacificamente na vida civil.
De fato, o ex-presidente ganhou a parada. Infligiu derrotas espetaculares aos narco-guerrilheiros e ao comércio de drogas, venceu nas selvas, nas cidades e nas mentes dos colombianos. Mas desagradou o bloco esquerdista na América do Sul, que se articulou para torná-lo o grande solitário. Obtendo no próprio país e em amplos círculos do mundo inteiro um incontrastável apoio moral, foi segregado na vizinhança por motivos ideológicos. Em razão das suas virtudes, e não de seus defeitos ou erros, pois os que conhecem os fatos sabem ser injusta a discriminação que sofreu.
Numa América do Sul acossada por governos de esquerda - Venezuela, Argentina, Equador, Brasil, Uruguai, Bolívia, Paraguai e Chile (até há pouco), os quais nunca esconderam seu distanciamento em relação a ele - estabeleceu aliança com os Estados Unidos. Do anti-americanismo dos vizinhos sul-americanos era assim de esperar a recusa em apoiar o governo colombiano em sua luta contra a narco-guerrilha. Essa contrastante posição claramente de direita deixou portanto o governo da Colômbia isolado na América do Sul.
Continuará Santos na trilha de Uribe?
Reféns das Farc liberados pelo exército colombiano na audaciosa operação “Xeque”
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Os oito anos de governo Uribe já estão entregues aos historiadores, e o quadriênio do novo presidente Juan Manuel Santos começou em 7 de agosto passado. A nova administração inicia-se envolta na esperança, mas o temor pelo desconhecido já cobra sua cota.
O novo presidente representa, se considerarmos sua posição no governo Uribe, a continuidade daquilo que mais odiavam as esquerdas: repressão decidida ao narco-terrorismo marxista. Foi em parte responsável por essa política, e de certo modo tornou-se símbolo dela.
Juan Manuel Santos fez parte do grupo de fundadores do Partido Social de Unidade Nacional, criado para apoiar a política uribista. De julho de 2006 a maio de 2009, foi ministro da Defesa do governo. Sob sua responsabilidade direta ocorreram os mais espetaculares golpes contra o terrorismo das FARC: a Operação Fênix, em 1º de março de 2008; e a Operação Jaque (Xeque), em 2 de julho de 2008.
A Operação Fênix foi um ataque fulminante a um acampamento da guerrilha localizado no Equador, a dois quilômetros da fronteira com a Colômbia. Além de desbaratar um ponto-chave de direção das FARC, a documentação apreendida no computador do compañero Raul Reyes foi muito reveladora e comprometedora. Pôs a nu cumplicidades e conivências com o crime, a droga e o terror, além de apoios de forças ditas progressistas estabelecidas em governos da América Latina. Depois deu-se a espetacular operação de resgate, que libertou numerosos reféns da guerrilha, entre os quais a ex-candidata a presidente Ingrid Betancourt.
O mentor desses dois golpes contra a guerrilha foi Juan Manuel Santos. Com isso ele credenciou-se ainda mais para aspirar à sucessão de Álvaro Uribe, sendo escolhido candidato presidencial.
Institutos de pesquisas, os grandes derrotados...
Antanas Mockus
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Nas pesquisas iniciais da campanha eleitoral (1º turno, 30 de maio; 2º turno, 20 de junho), o candidato de Uribe saiu disparado à frente. Mas logo depois o candidato verde, Antanas Mockus, subia como um foguete e ameaçava superar Santos. Era isso que informavam os institutos credenciados, como se pode ver no resumo que se segue:
Em 25 de março, pesquisa Ipsos: 39% para Santos, 9% para Mockus. Em 7 de abril, pesquisa CNC: 37% para Santos, 22% para Mockus. Em 27 de abril, pesquisa Gallup: 32% para Santos, 34% para Mockus. Em 7 de maio, pesquisa Datexo: 25,2% para Santos, 37,7% para Mockus. Dizia-se até que Mockus poderia vencer no 1º turno. Para o segundo turno, o instituto CNC garantia 50% para Mockus e 44% para Santos.
Mas os resultados foram muito diferentes. 1º turno: Santos 46,67%; Mockus 21,51%. Os institutos de pesquisa haviam errado escandalosamente, em prejuízo do candidato Santos. No segundo turno, os resultados foram ainda mais marcantes: Santos 69,13%; Mockus 27,47%. Mas os institutos de pesquisa já estavam menos parciais, e as porcentagens divulgadas foram mais próximas da realidade.
Enredo de um filme velho e deteriorado
Pouco antes do fim do mandato, Uribe denunciou que as FARC mantinham 1.500 guerrilheiros na Venezuela. Hugo Chávez reagiu indignado. As tensões subiram a um clima de pré-guerra, que todos perceberam como um show midiático de Chávez.
Logo depois da posse, teve lugar a espalhafatosa reunião dos presidentes da Venezuela e Colômbia, Chávez e Santos. O venezuelano chegou "embandeirado", vestindo uma blusa com as cores da Venezuela. Houve muitos risos, amabilidades, restabelecimento de relações, mas nem uma palavra sobre os 1.500 membros das FARC abrigados na Venezuela. O tema espinhoso foi jogado para debaixo do tapete...
Logo depois, no dia 12 de agosto, um carro-bomba explodiu em Bogotá, perto da emissora Caracol Rádio. Até o momento em que escrevemos, não foi possível identificar os responsáveis pelo ato. O ministro da Defesa levantou a suspeita de ter sido um atentado das FARC. Outros suspeitam que os autores estejam ligados de alguma forma aos paramilitares, que na Colômbia muitas vezes descambaram para o mundo do crime. O presidente Santos condenou o atentado, mas não apontou culpados.
A reação de Santos, nesses dois fatos tão importantes do início de seu mandato, causou perplexidade em grande parte dos colombianos. A oposição e a mídia em geral afirmam alvoroçadas que o novo governo eliminará a polarização ideológica deixada por Uribe. E qualificam a equipe do novo governo como de tecnocratas e apolítica.
Quando alguém se refere a tecnocratas, normalmente se pensa numa equipe eficiente, racional, com boa formação acadêmica, que não atua movida por emoções. Em resumo, eficiente.
Também eram eficientes os ministros de Uribe, tanto que repuseram o país nos trilhos. Mas a ênfase não era posta na eficiência, e sim no trabalho sério em prol de uma sociedade e uma nação. Punha-se em prática uma luta contra a ideologia socialista, baseado naquilo que se qualifica como civilização ocidental e cristã, a qual estava ameaçada por uma concepção diametralmente oposta. Mas o que agora parece deixar-se de lado é a defesa da civilização cristã. E a falsa esperança em que isso se baseia é que, com essa nova proposta, se diminuam ódios, incompreensões e resistências.
Já assistimos a esse filme no Brasil, na Argentina, na Bolívia, no Chile de Pinochet em sua fase final. Poderíamos encher páginas com nomes dessas sumidades tecnocratas e apolíticas. O filme é velho, e bastante deteriorado...
Essa pseudo-solução, quando aplicada, só favoreceu a esquerda. Como decorrência dela, a opinião conservadora tende a acomodar-se, desorganiza-se, deixa de lado até o mínimo de vigilância e prontidão necessárias. E logo começam a ser criadas as condições para a aceitação de uma proposta aliciante de esquerda, utópica, com tons ditos democráticos e libertários. Qual a garantia que a Colômbia, com o novo governo, trilhará um caminho diferente? Os primeiros passos de Santos, logo após a reunião com Chávez no norte do país, já começam a provocar saudades da firmeza de Uribe...
Prossegue no panorama o que é inevitável: Governos de Chávez, Evo Morales, Correa, as FARC, etc. - a grande coligação das forças esquerdistas, de seus "inocentes úteis" e "companheiros de viagem" - são dados inamovíveis. Os colombianos desconfiam deles. Cabe a Santos demonstrar que a promessa que fez de continuidade das principais políticas do anterior governo constitui uma realidade ou uma miragem. Aguardemos para ver.
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