Crescente influência de ideias contra-revolucionárias e virulenta reação de esquerdas nos EUA


16/05/2012

Marcelo Dufaur


Rick Santorum

Previsões do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a respeito dos grandes problemas hodiernos incidem no âmago da atual disputa pela presidência americana


Esta caricatura representa bem o mal-estar dos opositores de Santorum pela sua posição definidamente católica

Um outsider sem dinheiro para obter a postulação ou a vitória na próxima eleição presidencial nos EUA transformou-se num “perigo”. Para os que pensam como os esquerdistas, é claro. Seu nome é Rick Santorum, quase um desconhecido, exceto em seu estado, a Pensilvânia, do qual foi senador.

As propostas desse candidato têm sido objeto de uma tempestade de catilinárias. Na era da tolerância e dos Direitos Humanos ele colecionou impropérios: “Na Baixa Idade Média em que o partido republicano mergulhou, o conservadorismo fiscal, com a defesa do livre mercado e a limitação do papel do Estado — suas defensáveis bandeiras tradicionais — foram ultrapassados pelo conservadorismo moral, na área dos costumes. O que eles abominam acima de tudo é o direito ao aborto, sejam quais forem as circunstâncias, e o casamento entre pessoas do mesmo sexo”, escreveu editorial de um diário paulista. Santorum representaria o “que há de mais extremado, intolerante e obscurantista na mentalidade americana”.1

As críticas recrudesceram quando a esposa do jovem candidato, católica como ele, recusou-se a se submeter ao aborto de um filho que morreu duas horas após o nascimento, mas com o batismo e o nome da família. Santorum argumentou: “Se pelo fato de uma pessoa ter fé e acreditar no bem e no mal é de molde a desqualifica-la para o cargo de presidente, então vamos ter muito poucos candidatos”. Ele parece até aludir à América Latina, mas se referia aos EUA.

O ex-senador da Pensilvânia transcende os esquemas insinceros do “politicamente correto” e defende o que muitos americanos pensam, mas não se atrevem a externar. É só aparecer alguém corajoso que o faça para eles lhe concederem seu voto. Quantos são esses inconformados silenciosos? Difícil sabê-lo, como também não é fácil avaliar quantos brasileiros enfrentam análoga falta de alternativa. Todos eles, em temas da política e da sociedade referentes à família, moral e religião, sofrem como membros de uma “Igreja do silêncio” do gênero daquela sob a qual gemem os católicos nos regimes marxistas ou islâmicos.

No momento em que escrevemos, é ousado supor que seu número seja tão grande que garanta a  indignação e/ou posterior eleição de Santorum para a Casa Branca. O mundo, porém, está sabendo que tal número constitui séria alternativa de governo nos EUA.

Não seria criterioso supor, poucos anos atrás, que as posições de Santorum atrairiam tantas adesões. Contudo, o avanço do caos político, social e econômico forçou reflexões e transformações nas profundidades da opinião pública americana. Já a eleição do presidente Reagan, no início da década de 80, significou uma virada sensível do eleitorado americano rumo a posições conservadoras. Três décadas depois, surgiu o “Tea Party”, uma espécie de extrema direita americana exaltada, enfaticamente contrária ao estatismo e ao socialismo encarnados pelo presidente Obama.

Na atual corrida pela presidência dos EUA, supunha-se que os pré-candidatos do “Tea Party” atrairiam fortemente as correntes conservadoras. Mas estas, de modo geral, os ignoraram, voltando-se para um candidato sensato, católico, pai de família, que diz as verdades que elas querem ouvir de um representante do povo. Contudo, a tal ponto chegou o patrulhamento do “politicamente correto”, que o fato de um representante se colocar hoje em contato profundo com os seus representados ressoa de modo funesto para o establishment político-midiático. Explica-se, pois, a tempestade contra Santorum.

“Catolicização” do conservadorismo americano

Também os peritos buscaram uma explicação para aquilo que era inexplicável segundo a vulgata sociológica de esquerda. Destacou-se entre eles o Prof. Howard Schweber, da Universidade de Wisconsin-Madison, que publicou sua análise no “The Huffington Post”.2

Para Schweber, a direita americana está cada vez mais “católica” em duas acepções bem diversas da palavra.

No sentido estrito, hoje são os pensadores católicos que dão o tom do pensamento conservador nas universidades, na imprensa de direita e nos tribunais. Seus adeptos pregam a preeminência da Lei natural de acordo com Santo Tomás de Aquino e apelam para o “bom senso” como ponto de partida, como faziam os escolásticos medievais. Suas ideias estão pondo em xeque a agenda dos Direitos Humanos, que inclui aberrações como o aborto, o “casamento” homossexual, a eutanásia, a supressão da objeção de consciência, etc.

Porém, num sentido mais lato, mas não menos profundo, há uma inusitada “catolicização” da direita americana pelo fato de os evangélicos protestantes assumirem como natural e positiva a liderança desses católicos conservadores. “Os intelectuais católicos tornaram-se para a direita americana o que os intelectuais judeus outrora foram para a esquerda americana”, explica Schweber.


"Porque ele [Santorum] está transmitindo a visão do universo de um sujeito chamado Plinio Corrêa de Oliveira. É ele que, em 1959, escreveu um manifesto chamado Revolução e Contra-Revolução"

Essa tendência é nova, diz o professor de Wisconsin, e não tem nada a ver com a “esquerda católica” encarnada outrora por John F. Kennedy, adepta do progressismo teológico e político, bem como aliada natural do Partido Democrata.

Rick Santorum é o caso emblemático dessa recente tendência. Assumidamente católico tradicionalista e oposto à contracepção, ele apela frequentemente para a Lei natural cita pouco a Bíblia. A citação obsessiva desta, sem a interpretação oficial da Igreja, é típica dos líderes protestantes. Santorum se inspira explicitamente na Igreja Católica. E eis o fato novo: os evangélicos protestantes o seguem como se fosse seu líder natural.

A explicação, segundo Schweber, é que tais protestantes conservadores estão adotando em política uma criteriologia católica. Eles se apoderaram da ideia de que o mundo está engajado numa luta entre o Bem e o Mal, entre a Igreja e o caos. Mas Igreja aqui com maiúscula, a católica, e não em sentido plural e com minúscula que abrange as confissões protestantes.

Nesse sentido — prossegue o analista — o católico que vota pelo Partido Republicano assemelha-se a alguém que procura um comandante geral para conduzir os soldados cristãos numa Cruzada. Por isso, ele escolhe um candidato em função de suas ideias e não levando em consideração a salvação de sua alma. Em consequência, responde positivamente ao apelo de transformar o Partido Republicano no derradeiro bastião da civilização em meio a uma barbárie ovante.

O protestante conservador antigo recusava essa visão da política. Ele não queria líderes e preferia a comunidade autodirigida e absorvida pelos problemas pessoais e locais. Fora disso, o mundo lhe aparecia como uma massa de pecadores que seriam julgados individualmente, independente de qualquer engajamento com as grandes questões de sociedade. É tal modo de ver a política que entre os protestantes conservadores mudou, e nesse sentido eles adotaram a visão “católica”, aponta o professor.

Os católicos conservadores são uma minoria importante do eleitorado católico. Grande parte, infelizmente, foi muito gangrenada pela pregação progressista. Os protestantes evangélicos conservadores, por sua vez, constituem uma minoria grande entre os protestantes, numericamente maior ainda que a minoria católica conservadora. Mas a soma dessas duas grandes minorias representa uma força eleitoral capaz de mudar a política americana, sobretudo quando se considera estar ela altamente motivada pela retórica católica.

Plinio Corrêa de Oliveira no polo do catolicismo americano

Neste contexto de “catolicização” do conservadorismo americano, blogs e sites esquerdistas estão considerando que o livro de cabeceira de Rick Santorum seria Revolução e Contra- Revolução, de Plinio Corrêa de Oliveira.

Por exemplo, o blog “Corrente SBL — Personal and Politic Destruction”3 tenta demonstrar tal apreciação com relativo sucesso entre os blogueiros anarquistas. Ele destaca frases de discursos em que Santorum defende que a Revolução Francesa é a fonte da política anticatólica do presidente Obama. O blog reproduz ainda discurso em que o pré-candidato denuncia que a ofensiva em curso contra os EUA avança explorando os “grandes vícios de orgulho, vaidade e sensualidade”. E, para provar sua tese, cita Revolução e Contra-Revolução de Plinio Corrêa de Oliveira: “Este inimigo terrível tem um nome: ele se chama Revolução. Sua causa profunda é uma explosão de orgulho e sensualidade que inspirou, não diríamos um sistema, mas toda uma cadeia de sistemas ideológicos. De larga aceitação dada a estes no mundo inteiro, decorreram as três grandes revoluções da história do Ocidente: a Pseudo-Reforma, a Revolução Francesa e o Comunismo”.

O blog anarquista tenta explicar a similitude do pensamento de Santorum com o do pensador brasileiro: “Eu vou dizer a vocês por quê. Porque ele [Santorum] está transmitindo a visão do universo de um sujeito chamado Plinio Corrêa de Oliveira. É ele que, em 1959, escreveu um manifesto chamado Revolução e Contra-Revolução”. E acrescenta imediatamente uma alusão ao maître-à-penser do presidente Obama e seu livro de cabeceira, comparando-os aos que Santorum adotou: “Oliveira é o Saul Alinsky de Rick Santorum. Revolução e Contra-Revolução é o Rules for Radicals de Rick Santorum”.

O blog anarquista externa sua fúria pelo fato de o pré-candidato republicano, em palestra na Universidade Ave Maria no ano de 2008, ter afirmado que Satanás ataca as grandes instituições americanas porque deseja que o país se afaste de sua tradição.4


No prefácio de seu livro fundamental Rules for Radicals, Alinsky, mestre de Obama e Hillary Clinton, rende um preito de homenagem a Satanás, embora com certa ambiguidade, própria a seus seguidores

Satanás no meio da disputa política? Para compreender essa surpreendente avaliação, é preciso lembrar o lugar de Satanás na formação ideológica atribuída pelo citado Saul Alinsky ao presidente Obama e, muito especialmente, à Secretária de Estado, Hillary Clinton, que também foi sua discípula. No prefácio de seu livro fundamental Rules for Radicals, Alinsky rende um preito de homenagem a Satanás, embora com certa ambiguidade, própria a seus seguidores: “Não nos esquecermos pelo menos de externar um reconhecimento ao verdadeiro primeiro radical de nossas lendas, mitologia e história, ao primeiro radical que o homem conheceu que se rebelou contra o establishment e o fez tão bem a ponto de ganhar um reino: Lúcifer”.5

E para afastar qualquer dúvida, o mesmo Alinsky, entrevistado por uma conhecida revista pornográfica observou: “Satanás e pornografia combinam bem.

“Digamos que, se existe uma vida após a morte, eu sem dúvida nenhuma escolheria ir para o inferno.

“Playboy: Mas por quê?

“Alinsky: O inferno seria um céu para mim. [...] Assim que eu chegar no inferno vou começar a organizar os destituídos lá em baixo”.6

Compreende-se, então, a reação irada do referido blog de esquerda contra a American Society for the Defense of Tradition, Family and Property – TFP, inspirada no pensamento e na obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e, com maior razão, contra a página do site da TFP americana dedicada ao Exorcismo Breve e à oração a São Miguel Arcanjo que o Papa Leão XIII ordenou que fosse recitada no final de cada Missa.

Seria tedioso elencar os sites e blogs extremistas que reproduziram a matéria supra citada. Entretanto, para concluir, gostaria de não omitir um, cujo descabelado radicalismo toca ao cômico. No site Naked capitalism7 o militante, que se esconde sob o pseudônimo “LeonovaBalletRusse”, afirma:

“Olha, ‘valores familiares’ é um código para o Movimento Pancristão Totalitário (sic) que tem o Papa Bento em conta de Deus Pai. Mas veja, seu verdadeiro Mein Kampf já foi publicado com o título Nobreza e Elites Tradicionais Análogas nas Alocuções de Pio XII, de Plinio de Corrêa de Oliveira”.

Previsão de Plinio Corrêa de Oliveira

Para além dos delírios e exageros mencionados, uma constatação se impõe: as múltiplas ofensivas que hoje se voltam contra a vida, a família, a religião, vem patenteando a unidade de seu objetivo e o ódio frio e sinistro que os inspira. Esta constatação está sendo feita por um número crescente de pessoas nos vários quadrantes do pensamento humano, no mundo e, obviamente, nos EUA.

Tendo aumentado o número dessas pessoas de modo relevante, não é de estranhar que um político colado à realidade adote ideias como as externadas pelo pré-candidato Rick Santorum.

O espantoso êxito que ele vem conseguindo, talvez insuficiente para conduzi-lo à nomeação como candidato presidencial republicano e, mais ainda, a presidente dos EUA, mostra, contudo, duas coisas. De um lado, que a tendência da opinião pública apreciadora desses pensamentos cresceu de modo inimaginável. Por outro lado, o acerto profético do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira que, há mais de meio século, veio denunciando aquilo que hoje constitui o cerne dos grandes problemas atuais.

__________
Notas:
1. “O Estado de S. Paulo”, 10-1-12.
2.http://www.huffingtonpost.com/howard-schweber/the-catholicization-of-th_b_1298435.html.
3. http://correntesbl.blogspot.com/2012/02/rick-santorums-little-handbook-of.html.
4.http://www.rightwingwatch.org/content/santorum-satan-systematically-destroying-america
5. apud Diane Vera, “Saul D. Alinsky – A role model for left-wing Satanists”, http://theisticsatanism.com/politics/Alinsky.html.
6. http://www.progress.org/2003/alinsky2.htm
7.http://www.nakedcapitalism.com/2012/02/spinning-necessity-as-a-virtue-families-to-stand-in-for-fragmenting-social-safety-nets.html.

Veja:
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