02/11/2005
BERTRAND DE ORLEANS E BRAGANÇA
A exemplo
do comunismo clássico,
também as esquerdas de todos
os matizes atuam em dois comprimentos de onda. Em um, de ordem político-social,
visam depauperar a propriedade privada, eventualmente até sua extinção.
Em outro, a vítima é a família e a moral familiar que
a protege. É o incentivo ao "casamento" homossexual, à distribuição
de preservativos, podendo chegar ao amor livre dos anarquistas. Aí não
poderia faltar também a aprovação do aborto. Tendo as
esquerdas galgado o poder no Brasil, a aplicação desse desiderato
radical encontra obstáculos na opinião pública, à qual
chocam propostas tão antinaturais.
O público católico, constituindo a maioria da opinião
pública nacional, recusa uma lei que descriminalize o aborto
No caso específico do aborto provocado, há a agravante de que
se trata de uma matança de inocentes. E o público católico,
constituindo a maioria da opinião pública nacional, recusa uma
lei que descriminalize o aborto. Aos católicos se somam outros segmentos
da população, evangélicos ou simplesmente pessoas
a cujo bom senso repugna esse crime.
Argumentam as abortistas
que o tema não deve ser analisado do ponto
de vista moral, mas apenas do ponto de vista dos "direitos" da mulher:
laicismo rançoso muito próximo do ateísmo militante. Mas
isso pouco impressiona a grande maioria dos brasileiros. Sabem eles perfeitamente
que o direito sagrado da mulher é o de ser mãe amorosa na defesa
de seus filhos, e não o de matá-los. As pesquisas a respeito
o têm demonstrado.
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) é, inquestionavelmente,
a defensora inata, no Brasil, dos direitos da população contra
a aprovação do aborto. Tem ela o dever inalienável de
se insurgir contra as manobras que visam impor ao nosso país essa iníqua
lei. Negar-lhe o direito de defender, nos foros competentes, a moral católica,
que é a mesma moral natural, é vestir a camisa do totalitarismo
anticristão.
Diferente é o caso da reforma agrária, a respeito da qual a CNBB
tem se pronunciado, de modo geral, com base em estatísticas duvidosas
e dados técnicos contestáveis. Não é sua missão
específica atuar no campo temporal. Sua opinião, nesse caso,
tem o valor da opinião de um particular não especializado.
Outra é a situação quando se trata de defender a vida
do nascituro. A missão outorgada por Deus aos bispos inclui de
modo preponderante a defesa da moral.
Por isso, causa espanto
que a CNBB tenha sido excluída, como o foi,
da comissão tripartite (Executivo, Legislativo e sociedade civil) criada
pelo governo para estudar a questão do aborto no Brasil. O pretexto
foi o de manter a discussão em nível técnico, focado em
saúde pública e direitos humanos da mulher. Ou seja, eliminar
do debate a questão moral.
É
preciso deixar a CNBB falar contra o aborto, pois a ela compete defender a
vida inocente, não somente com base em estatísticas e direitos
humanos mas, principalmente, mostrando se tratar de um pecado grave contra
a lei de Deus e a lei natural, que, além do mais, envolve excomunhão.
"
Quem provoca aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão automática",
1398). Tal prescrição canônica para os católicos
se aplica não apenas à mãe mas a todos os que colaboram
para levar a termo um aborto. O aborto é a produção de
excomungados em série. Além do mais, os bebês assassinados
no seio de suas mães não recebem o batismo e, com isso, não
poderão ver a Deus.
Tais são os ensinamentos que a maioria da população espera
ver a CNBB proclamar com toda a força no momento em que o poder civil
os quer negar ou simplesmente eludir. Impedir que ela o faça nas comissões
especializadas é colocar-lhe uma mordaça intolerável.
Dirá alguém: mas, se a CNBB não tiver entrada nas comissões
governamentais, poderá clamar fora delas, a exemplo de são João
Batista, dizendo: "Não te é lícito". Isso é verdade.
O que aqui estou analisando é outra coisa, é o dever do governo
civil de dar representação à maioria católica da
população.
Após aquela absurda exclusão da entidade episcopal, uma declaração
promissora foi feita pelo secretário-geral da entidade, dom Odilo Scherer: "Não
ficaremos de braços cruzados".
Essa participação oficial da CNBB no debate se torna mais importante
nesse momento em que a comissão tripartite entregou seu relatório
e a deputada Jandira Feghali, do PC do B, apresentou um projeto de lei substitutivo
ao projeto 1.135 de 1991, do ex-deputado Eduardo Jorge. Segundo esse substitutivo,
que se aproveita das conclusões da comissão tripartite, ficam
supressos do Código Penal os artigos que declaram o aborto um crime.
E coloca a interrupção da gravidez como um direito da mulher.
O que equivale a erigir ao patamar de um direito o crime da mãe que
assassina seu próprio filho indefeso.
O projeto, com relatório pela aprovação da própria
deputada Jandira Feghali, está em discussão nas comissões
da Câmara dos Deputados.
Bertrand de Orleans e Bragança, 64, é tetraneto do imperador
dom Pedro 1º.br>
@ - dombertrand@terra.com.br
Veja:
http://www1.folha.uol.com.br/
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