REGULAMENTAÇÃO: O projeto que será votado apenas tira
o aborto do Código Penal. As regulamentações referentes
a como e onde ele poderá ser feito deverão ser feitas posteriormente
pelo Ministério da Saúde
PRAZOS: Também foi retirado o prazo colocado pelo texto anterior. Nele,
estava prevista a realização do aborto até a 12.ª semana
de gestação, ampliada para até a 20.ª em caso de
gravidez decorrente de estupro. Citava também os fetos com má-formação
congênita incompatível com a vida, como os anencéfalos
(sem cérebro)
ATENDIMENTO: O texto prevê que o poder público deverá fornecer
todas as informações necessárias sobre o aborto às
gestantes
Mais uma vez os parlamentares contrários ao projeto que descrimina
o aborto conseguiram impor o adiamento da votação sobre o assunto
na Comissão de Seguridade Social da Câmara. Deputados que fazem
oposição à proposta, entre eles Durval Orlato (PT-SP),
compareceram à sessão, mas não assinaram a lista de presença
da reunião. E o objetivo do grupo se cumpriu: não houve quórum
suficiente para a votação.
O grupo ligado ao movimento feminista trabalhou para que a votação
ocorresse ontem, mas reconheceu que o movimento de oposição tem
força para protelar a discussão por vários meses e até mesmo
derrubar o texto. Feministas da Jornada pelo Direito ao Aborto Legal e Seguro
contabilizaram o número de votos a favor ao texto da relatora, deputada
Jandira Feghali (PC do B-RJ), e viram que há risco de a proposta ser
rejeitada. "Queremos que a votação ocorra logo, mas nós
temos metade dos votos da comissão (que tem 33 titulares) a favor",
disse a feminista Ângela Freitas.
Para obstruir a reunião de ontem, o deputado Durval Orlato chegou a
disparar vários telefonemas para seus colegas da comissão a fim
de que não assinassem a lista de presença. A sessão foi
marcada por palavras de ordem de religiosos contrários à prática
do aborto, cantos de crianças, protestos de feministas e discussão
entre parlamentares.
Como forma de pressionar os deputados a rejeitar a proposta, vários
católicos e evangélicos lembraram que a posição
a favor ao projeto pode levar muitos políticos a perder votos nas eleições
de 2006. "Vida sim, aborto não. 2006 tem eleição",
fizeram coro, em alto som.
Irritada com a obstrução à reunião, Jandira Feghali
disse que estava ali em defesa de um texto consensual, mas que, diante da operação
para esvaziar a sessão, não via mais condições
de votar a proposta na sessão. O vice-presidente da comissão,
deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), anunciou o cancelamento da votação
porque apenas 10 dos 33 titulares da comissão assinaram a lista de presença.
Eram necessárias 17 assinaturas para que Faria de Sá desse início
aos trabalhos.
Jandira Feghali apresentou uma nova versão do relatório que é composto
por apenas três artigos, conforme antecipou o Estado na edição
de ontem. A proposta restringe-se a retirar do Código Penal os dispositivos
que tipificam como crime o aborto feito com o consentimento da gestante.
O texto apresentado anteriormente pela relatora regulamentava a prática
da interrupção da gravidez, definindo que o Sistema Único
de Saúde (SUS) e os planos privados de saúde passariam a realizar
o procedimento. Segundo a deputada, caberá ao Ministério da Saúde,
caso a projeto seja aprovado, fazer a regulamentação. Jandira
disse que iria pressionar a presidência da comissão a incluir
a votação do projeto na pauta de hoje.
"Eu estava lá e vários outros deputados da comissão
corajosamente também estavam prontos para a votação. Nós
temos os votos para aprovar. Mas outros, contrários, se acovardaram
e fizeram uma manobra para obstruir a discussão. Infelizmente, foram
muitos problemas", afirmou a deputada.
O QUE DEVE SER VOTADO
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