Notre Dame restaura sinos destruídos pela Revolução Francesa


03/06/2013

Marcelo Dufaur

O sino “Dionísio” (2.502 kg; 153,6 cm de diâmetro) lembra a São Dionísio, primeiro bispo de Paris. Enviado pelo Papa, o bispo sofreu o martírio. Neste sino está inscrita a terceira jaculatória do Angelus: “Eis a escrava do Senhor”. Sete faixas simbolizam os sete dons do Espírito Santo e os sete sacramentos da Igreja. Há também desenhos simbolizando o martírio, Cruz de Glória, inscrições e desenhos idênticos aos anteriores.

O sino “Marcelo” (1.925 kg; 139,3 cm de diâmetro), em memória de São Marcelo, nono bispo de Paris, muito venerado pelos parisienses por sua caridade para com os pobres e os doentes. Neste sino está inscrita a quarta frase do Angelus: “Faça-se em mim segundo tua palavra”. Cinco faixas simbolizam as três pessoas da Santíssima Trindade e as duas naturezas formando um só Deus em Jesus Cristo encarnado. No demais, acompanha os modelos anteriores.

O sino “Estêvão” (1.494 kg; 126,7 cm de diâmetro) relembra a catedral de Paris que precedeu a atual e que era dedicada a Santo Estêvão. Neste sino está gravada a quinta jaculatória do Angelus: “E o Verbo se fez carne”. Uma faixa em honra dessa jaculatória e motivos diversos evocam o martírio de Santo Estêvão. Cruz de Glória, frases e imagem de Nossa Senhora, Menino Jesus e perfil de Notre Dame como nos anteriores.

O sino “Bento-José” (1.309 kg; 120,7 cm de diâmetro) em alusão ao então Papa Bento XVI e a São José. Inscrição com a sexta frase do Angelus: “E habitou entre nós”. Doze faixas simbolizam os doze Apóstolos sob as chaves de São Pedro. Cruz de Glória e outros detalhes como nos anteriores.

O sino “Maurício” (1.011 kg; 109,7 cm de diâmetro) em memória de Maurício de Sully, 72º bispo de Paris, que colocou a primeira pedra da catedral de Notre Dame em 1163. Nesse sino está inscrita a sétima frase do Angelus: “Rogai por nós, Santa Mãe de Deus”; oito faixas simbolizam a plenitude (7+1); há ainda elementos arquitetônicos do plano da catedral, evocação de seus construtores, Cruz de Glória etc., como nos anteriores.

 O sino “Jean-Marie” (782 kg; 99,7 cm de diâmetro), o menor deles, recebeu esse nome em alusão ao cardeal Jean-Marie Lustiger. Nele está inscrita a oitava e última frase do Angelus: “A fim de que sejamos dignos das promessas de Cristo”; nove faixas simbolizam as nove hierarquias angélicas; no corpo do sino, as iniciais dos quatro evangelistas, cada um com seu símbolo. Cruz de Glória, inscrição e imagens como nos anteriores.

Além dos dez sinos mencionados acima, há outros três na flecha da catedral, totalizando 13.

Toques e melodias

Os toques e as melodias dos sinos de Notre-Dame de Paris se subdividem em quatro grandes categorias:

— o carrilhão das horas das cerimônias litúrgicas;

— o carrilhão do Angelus três vezes por dia: 6h00, 12h00 e 18h00, segundo costume do rei Luís XI, que se generalizou na Cristandade;

— o carrilhão das horas (toque breve a cada quarto de hora; melodia curta a cada hora, e mais de 50 toques e melodias diversas do fundo musical de Notre-Dame que variam ao longo do ano litúrgico);

— o carrilhão das grandes ocasiões: acontecimentos ligados ao Papado ou de outra índole, de importância nacional e internacional, datas históricas, grandes desgraças na humanidade etc.

Os sinos continuarão a fazer-se ouvir com a mesma frequência respeitada até agora. A grande variante será dada pela riqueza do novo conjunto, que permitirá uma diversidade maior de melodias e toques.

O “Emanuel” fica reservado para as grandes solenidades como Natal, Epifania, Páscoa, Ascensão, Pentecostes, Assunção, Todos os Santos etc.

O entusiasmo pela restauração dos sinos da grande catedral de Paris não se cingiu a um evento meramente religioso; foi uma amostra a mais das profundas inversões de tendências que estão ocorrendo na opinião pública da França hodierna.

Simbolismo e importância do sino para a Igreja

Eis uma substanciosa explicação das bênçãos do toque do sino feita por Mons. Jean-Joseph Gaume (1802-1879), célebre por sua ciência teológica.

“Como todas as coisas grandes e belas, é à Igreja que devemos o sino.

O sino nasceu católico, por isso a Igreja o ama como a mãe ama seu filho. Ela benze o metal de que é feito. Logo que ele veio ao mundo, a Igreja o batizou e fez dele um ente sagrado.

Com razão, porque o sino é destinado a cantar tudo o que há de santo e de santificante na Terra e no Céu. Pelas orações e cerimônias que o acompanham, o batismo vai dizer-lhe a sua vocação.

A Igreja sempre considerou com muito respeito o sino, o que se constata com novo esplendor nas preces e nas cerimônias de seu batismo.

Reunidos os fiéis em torno do sino suspenso a alguns metros acima do solo, chega majestosamente o bispo em hábitos pontificais, acompanhado do clero e seguido do padrinho e da madrinha do sino.

Em nome de Deus, de quem é ministro, o bispo invoca sobre essa maravilhosa criatura a virtude do Espírito Santo, tornando-a fecunda no primeiro dia de sua criação.

Certo de ser atendido, o bispo asperge o sino com água benta, conferindo-lhe o poder e o dever de afastar de todos os lugares onde seu som repercutir, as potências inimigas do homem e de seus bens: os demônios, os redemoinhos, o raio, o granizo, os animais maléficos, as tempestades e todos os espíritos de destruição.

Vejamos sua missão positiva.

A sua voz proclamará os grandes mistérios do cristianismo, aumentará a devoção dos cristãos para cantarem novos cânticos na assembleia dos santos, e convidará os anjos a tomarem parte nos seus concertos. O sino fará tudo isto, porque esta missão lhe é confiada em nome d’Aquele que possui todo o poder no Céu e na Terra.

Cada badalada faz retinir ao longe os dois mistérios da morte e da vida — alfa e ômega — necessários para orientar a vida do homem e consolar suas esperanças.

Não admira, pois, que o bispo, dirigindo-se ao próprio sino, o dedique a um santo ou a uma santa do Paraíso dizendo-lhe, com uma espécie de respeitosa ternura: “Em honra de São N., a paz doravante esteja contigo, caro sino”.

Como o sino deve ter um nome, cumpre que tenha também um padrinho e uma madrinha. O nome do sino é gravado abaixo da cruz em relevo, que o marca com o selo de Nosso Senhor e o consagra ao seu alto culto.

Daí vem um fato pouco notado: o amor dos verdadeiros filhos da Igreja ao sino e o ódio que lhe votam os inimigos de Deus. Uma das mais doces alegrias de nossos pais, ao se libertarem da Revolução Francesa, foi ouvir os sinos, emudecidos durante muitos anos.

Esse incontestável poder do sino contra os demônios do ar justifica as virtudes de que ele goza: dissipar os ventos e as nuvens, afugentar diante de si o granizo e o raio, conjurar as tempestades e os elementos desencadeados, pois que todas essas perniciosas influências da atmosfera provêm muito menos de coisas naturais do que da maldade desses espíritos maléficos.

Nossos pais, na hora do perigo, faziam ouvir pelo Pai Celeste o som dos sinos, seu primeiro grito de alarme. O Senhor não permanecia muito tempo insensível à voz de seu povo.

         A corda que serve para tocar o sino, que sobe e desce sem cessar, indica o trabalho do pregador, e é também uma imagem da nossa vida” (Mons. Gaume, L’Angelus au dix-neuvième siècle, Editions Saint-Remi, 2005).

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