Peru: Manifesto de Tradición y Acción reforça corrente de opinião antimarxista


25/07/2011

Alejandro Ezcurra Naón

O candidato da esquerda, Ollanta Humala, venceu as eleições presidenciais no Peru, mas para alcançar êxito viu-se obrigado a camuflar sua posição e apresentar-se como “Humalinha paz e amor”, e não como “chavista”

 


Fac-símile do documento publicado na cidade de Cuzco

Ao contrário do que muitos supõem, a vitória do candidato esquerdista Ollanta Humala nas eleições presidenciais do Peru, no dia 5 de junho, não significou uma guinada da opinião pública do país para a esquerda. Numa eleição muito disputada no segundo turno, Humala prevaleceu sobre a candidata Keiko Fujimori por uma margem muito estreita — menos de 3% dos votos —, e devido a fatores primordialmente extra-ideológicos. Para evitar a rejeição dos eleitores de centro, Humala mudou completamente sua imagem carrancuda e agressiva, bem como encobriu suas idéias socialistas. E de tal maneira, que houve quem o chamasse de “Humalinha paz e amor”, comparando-o com a mudança de look operada em Lula no ano 2000.

Numa eleição sem idéias, o papel de Tradición y Acción

Além disso, na reta final e decisiva da campanha, irromperam denúncias de forte impacto moral contra membros do comando eleitoral da Sra. Fujimori, acusados de promover a esterilização forçada de 300 mil mulheres indígenas na década de 90, durante o período presidencial do pai da candidata, Alberto Fujimori. A rival de Humala não conseguiu desvincular-se das acusações com a celeridade e a contundência que o caso requeria, o que lhe acarretou uma considerável perda de votos. Pode-se assim dizer que a eleição foi decidida por um caso de natureza moral, e não por um tema ideológico.

Nesse quadro de ausência de idéias, no dia 24 de maio, Tradición y Acción por un Perú Mayor — entidade peruana coirmã de associações que defendem os valores da tradição, da família e da propriedade, disseminadas pelo mundo — publicou na imprensa nacional um importante manifesto. Nele, advertia que o programa da aliança Gana Perú — nome do partido do Humala — conjuga o socialismo econômico com a nova revolução anarco-sexual, atacando assim simultaneamente a propriedade e a família. O documento assinalava que votar contra tal programa de inspiração marxista era um dever de consciência, sobretudo para aqueles que tinham intenção de anular seu voto ou votar em branco.

Ampla divulgação de efeito palpável

Sete jornais de circulação nacional e regional reproduziram em página inteira o documento. Resumos do mesmo, com chamadas remetendo para o texto completo — contido no site www.MarxismoNuncaMas.com —, foram estampados em outros dez jornais, nacionais e provinciais. Em seu conjunto, essas publicações somaram quase 900 mil exemplares, em 17 jornais do país.

O número e a qualidade das repercussões recebidas indicam que o efeito foi e continua a ser considerável. E embora não possa ser quantificado, algumas pesquisas eleitorais assinalaram, nos dias subseqüentes às publicações do manifesto, uma notória queda na intenção de voto nulo ou branco. E não há dúvida de que o documento de Tradición y Acción pesou significativamente para que essa votação inválida (que segundo as previsões seria muito alta) finalmente caísse para 6,3%, uma das mais baixas da história do país, enquanto a diferença final a favor do Humala — decidida como vimos por fatores totalmente alheios ao debate ideológico — não passou de 2.9%.

Fortalecimento antiesquerdista, furiosa reação marxista

 


Ollanta Humala

Mas o efeito mais profundo do manifesto, corroborado pelo testemunho de incontáveis leitores, foi o de ter dado consistência ideológica à resistência de um vastíssimo setor da opinião pública ao programa da aliança Gana Perú. Uma prova indireta desse efeito foram os ataques da esquerda ao documento: desde as habituais rajadas de injúrias — “marca registrada” esquerdista — até o imoral recurso de juntar frases separadas do texto para atribuir aos autores do documento acusações absurdas contra o candidato de Gana Perú.1 Tais ataques, carentes de toda seriedade, apenas mostraram quanto a declaração de Tradición y Acción incomodou a esquerda, bem como a crônica incapacidade desta para responder a uma argumentação católica veraz, serena e elevada.

Poder-se-á objetar, em favor da inutilidade do esclarecimento de Tradición y Acción, que a vitória final foi do candidato de Gana Perú. Muito pelo contrário!

Em primeiro lugar, a reduzida porcentagem de votos nulos e brancos, já assinalada, demonstra que o apelo a não viciar o voto teve efeito. Ademais, como foi dito, a vitória eleitoral de Ollanta Humala se impôs devido sobretudo a fatores extra-ideológicos. Sua eleição não teve o significado esquerdista que alguns quiseram atribuir-lhe: grande parte de sua votação proveio do eleitorado de centro, e foi mais fruto de circunstâncias de momento do que de idéias.

Na situação peruana: o pólo forte e o polo frágil

As adesões ao humalismo dificilmente serão estáveis numa população como a peruana — em alguns aspectos volúvel e temperamental — por carecerem de fundamento ideológico. O próprio Salomon Lerner, principal assessor de Humala, deixou claro que seu governo não terá condições de levar adiante uma política nos termos do chavismo ou similares.2 A distribuição de forças no Congresso, onde Gana Perú reúne apenas um terço dos parlamentares, também lhe dificultará exercer um governo desse tipo.

  Em sentido oposto, a resistência ao humalismo teve um caráter nitidamente ideológico, o que é de molde a torná-la mais consistente e durável, podendo ainda acentuar-se caso Gana Perú se aventure a aplicar o socialismo no terreno econômico, ou a agenda marxista da revolução sexual antifamiliar.

O Peru emerge fortemente polarizado dessas eleições. E, nessa situação, o pólo duro é o anti-socialista, devido justamente a sua maior densidade ideológica.

Fortalecer esse bloco de opinião antimarxista, aumentar-lhe a consistência com informações oportunas e argumentações sólidas — baseadas nos ensinamentos da doutrina social da Igreja e nas teses do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobre o processo revolucionário expostas em Revolução e Contra-Revolução — tem sido o intuito específico da atuação de Tradición y Acción.

Certamente o novo governante do Peru não poderá desdenhar essa grande corrente de opinião. Ainda mais num contexto internacional sumamente frágil e instável como o atual, muito pouco propício para embarcar outra vez o país em aventuras ideológicas já fracassadas. A trágica experiência do século XX demonstrou para sempre que essas utopias só geram catástrofes.

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Notas:
1. Ver, por exemplo, artigo de Arturo Rivas, Una cuestión de inconciencia, en http://isotes.wordpress.com/2011/06/02/una-cuestion-de-inconciencia-marxismo-nunca-mas/
2. Cfr. entrevista a “La Tercera”, Santiago do Chile, 7-6-11, pág. 7.

Veja:
Revista Catolicismo

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