Agropecuária brasileira: modelo de eficácia apesar de fatores adversos


26/09/2011

Hélio Brambilla

Exemplo de reflorestamento, superávit atual de 63 bilhões de dólares, recordes mundiais em rebanho bovino e exportação de carne

Enquanto a agropecuária vencia obstáculos de toda ordem, provia à mesa dos brasileiros e atingia 63 bilhões de dólares de superávit na balança comercial em 2010, a metalurgia para a fabricação de veículos amargava seis bilhões de dólares de déficit. Outros setores, como o eletro-eletrônico e o farmacêutico, também vêm registrando déficits colossais.

Embora os preços tenham sido favoráveis aos produtores da agropecuária, é oportuno recordar a declaração clarividente de Dr. Nelson Paludo, presidente do Sindicato Rural de Toledo (PR): “Não façamos ilusões, a boa safra e os bons preços ajudaram a pagar apenas os prejuízos acumulados durante anos!”.

Recordes mundiais da pecuária brasileira

O Brasil possui o maior rebanho bovino do mundo, ultrapassando a marca de 200 milhões de cabeças – o dobro dos EUA, o segundo colocado. A população brasileira aumentou, como também sua renda e o consumo de carne.

O País tornou-se também o maior exportador mundial de carne. Contudo, enfrentando anos a fio índices aviltados e incertos quanto aos preços futuros, os produtores aproveitaram o bom momento e abateram indiscriminadamente novilhas e vacas reprodutoras do plantel. Com isso nosso rebanho baixou quase 30 milhões de cabeças, criando um déficit na oferta, tanto para o mercado interno quanto para o de exportação, pressionando a inflação. Contudo, essa quebra vem sendo paulatinamente reposta com o nascimento de novos filhotes, que estarão prontos para abate ou cria dentro de 20 ou 30 meses.

Recorde nacional na produção de grãos

O total de grãos produzidos em 2010 atingiu 149,5 milhões de toneladas. Embora seja um belo número, convém mencionar o dos EUA, que produziram 520 milhões de toneladas, e o da China, supostamente quase 500 milhões de toneladas.

Tanto organismos internacionais como órgãos da mídia têm ressaltado a questão do aumento da fome no mundo, atribuindo a elevação do preço dos alimentos em grande medida aos biocombustíveis. Não dispomos de dados para fazer uma avaliação relativa aos EUA. Mas convém frisar que no Brasil apenas 1% do território é usado para o cultivo da cana, com a consequente produção de açúcar e álcool; para este último, estima-se que seja apenas 0,50 %.

O que tais organismos e certos órgãos de comunicação sistematicamente “esquecem” entretanto de dizer é que a malfadada Reforma Agrária desperdiça hoje no Brasil mais de 80 milhões de hectares, que se transformaram em gigantescas favelas rurais! Se o governo se despojasse de seus preconceitos ideológicos e entregasse essa verdadeira “Terrabrás” à iniciativa privada – apenas 2% dos assentados da Reforma Agrária receberam título de propriedade, enquanto 98% do território pertencem à União – nossa produção, não só de grãos, mas de proteína animal, biocombustível, madeira, etc., poderia ser imensamente aumentada. Com tal crescimento seriam beneficiados não somente a população, mas também outros setores.

Outra acusação lançada pelos ambientalistas radicais refere-se às pastagens e ao flagelo de áreas degradadas pela erosão e em fase de desertificação. Contudo, tais ambientalistas olvidam temas como o abordado por “O Estado de S. Paulo” (2-1-11): a desertificação, imensamente maior que a nossa, em curso no norte da China de 1950 a esta parte: 385 mil km², ou seja, o equivalente à área conjunta dos estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro... É óbvio que a degradação de áreas do território nacional é tão censurável quanto a do Norte da China, e que o bom senso recomenda que esses terrenos sejam restaurados o quanto antes.

É oportuno ressaltar também o estranho silêncio dos ambientalistas quanto a um fenômeno análogo: os milhares de quilômetros da África subsaariana sujeitos à invasão do deserto do Saara rumo ao sul, atingindo especialmente o Senegal, Mali, Níger e Chade. Tal desertificação ocorre em larga medida porque mais de 90% das necessidades energéticas das civilizações primitivas que ali habitam são supridas com a madeira, além do uso desta na construção e nas cercas.

Os ambientalistas, que atacam a censurável degradação do solo no Brasil, não cobram dos organismos internacionais medidas contra esse avanço clamoroso do deserto! E para investir contra o eficiente agro-negócio brasileiro, procuram associá-lo ao fenômeno da degradação em fase da desertificação.

Reflorestamento criterioso pela iniciativa privada


Com um novo sistema que está sendo implementado no Brasil, o eucalipto de três anos já é passível de corte

O Brasil possui a segunda maior floresta nativa do mundo, só perdendo para a Rússia, cujo território é o dobro do nosso (17 milhões de km² contra 8,5 milhões de nosso País). Entretanto, grande parte da floresta nativa russa está localizada nas geleiras da Sibéria. A área de floresta brasileira ocupa 60,7 % do território nacional, superando de longe as áreas dos EUA, Canadá e China (“Boletim Informativo Faep”, n.º 1131).

Nosso país possui a segunda maior floresta plantada do mundo, logo atrás da China. Cruzamos o ano de 2010 para 2011 com mais de 50% de toda a madeira usada no Brasil e na exportação (construção, móveis, papel, celulose, carvão para siderurgia e lenha combustível) provenientes de florestas plantadas, evitando-se o corte das florestas nativas.

O Brasil detém hoje a quarta posição na produção mundial de papel e celulose, e ascenderia facilmente à primeira se não fossem os entraves governamentais à produção. A ABRAF – Associação Brasileira de Ativos Florestais – denunciou que, desde o plantio de uma árvore até o seu corte alguns anos depois, são necessárias 32 licenças do Poder público! (cfr. “Valor Econômico”, edição de 28-12-2010).

De acordo com a ABRACEL – Associação Brasileira, dos Produtores de Celulose —, existe hoje a fabulosa quantia de 20 bilhões de dólares aguardando liberação dos entraves burocráticos governamentais para ser aplicada no setor de floresta. O entrave mais complicado é o ambiental, porque o reflorestamento é feito com espécies denominadas “exóticas” – eucalipto, pinus, teça, neem, etc. Elas são abominadas pelos ainda mais exóticos ecologistas radicais, que consideram as plantações de eucalipto “desertos verdes”.

Avanço nas pesquisas referentes ao eucalipto

Os especialistas brasileiros têm alcançado auspiciosos progressos nos estudos dessa espécie de madeira através do desenvolvimento dos chamados “clones” ou mudas “clonais” — pequenos pedaços retirados de uma “árvore mãe” e germinados em laboratório. Tal sistema propicia um desenvolvimento 30% mais rápido do que as mudas por semente. Enquanto em outros países as plantas levam até 20 anos para alcançarem o ponto de corte, no Brasil, com este novo sistema e para algumas utilidades como a celulose, o eucalipto de três anos já é passível de corte.

É obvio que desenvolvimento tão rápido exige da planta utilização de muito mais umidade, ressecando em alguma medida a superfície do solo. Em contrapartida, estudos mais recentes concluíram que o eucalipto é o maior repositor de água do lençol freático. Suas raízes em forma de cunha aprofundam-se muito, perfuram o solo duro e até o subsolo rochoso, drenando a água para o lençol freático. Além disso, o eucalipto é o melhor regenerador de pastagens degradadas pela erosão.

Veja:
Revista Catolicismo

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