A alternativa nas próximas eleições americanas
24/10/2004
Luís Dufaur
Face
ao caos: freada ou aceleração? Eis o problema que se coloca
a propósito das próximas eleições nos Estados Unidos.
Naquele país e no mundo, cresce a reação conservadora,
o que irrita as esquerdas.
Presidente
George W. Bush |
Imagine, caro leitor, que numa arena combatem dois adversários bem treinados.
Sinuosos ou incisivos, amáveis ou truculentos conforme se apresente
a ocasião, assessorados por técnicos, publicitários e
marqueteiros experientes. A platéia está repleta de participantes,
e o vencedor a inclinará para o seu lado. De fora, junto a colossais
telões e trios-elétricos, simpatizantes de um e outro combatente
discutem fogosamente, aplaudem e vaiam. Em torno deles, a multidão
curiosa e intrigada tudo observa.
Porém, algo não funciona bem. Quando um dos antagonistas empreende
um lance, o sistema de som emite ruídos agudos, tremem as telas, há interferência
de vozes confusas. Quando o outro vibra um golpe, os problemas cessam e tudo
corre às mil maravilhas.
Muitos na multidão, embora quisessem entender o que ocorre, cansam-se,
dormitam, ingerem guloseimas, consultam o relógio e se perguntam quando
essa balbúrdia terminará, para voltarem logo para suas casas.
Contudo, são retidos pela percepção confusa de que ali
se decide algo que afetará até os mais dorminhocos e desinteressados.
Estados Unidos: polarização cada
vez maior
Senador John
Kerry |
É
essa a imagem que se depreende da campanha eleitoral pela presidência
da nação norte-americana, às vésperas da votação
de 2 de novembro. A máxima potência material da Terra debate quem
a governará nos próximos quatro anos. Na arena, disputam o presidente
George W. Bush, do Partido Republicano, e o senador John F. Kerry, do Partido
Democrata. Na platéia dos políticos e na opinião pública
americana, que segue de perto a campanha, a polarização é acentuada.
Os democratas acusam os republicanos de serem uns interioranos
atrasados e moralizados, que acreditam na luta entre o bem e o mal, que defendem tenazmente
a família, a vida, a moral, a propriedade privada, o patriotismo
e as tradições americanas. Em suma, tudo o que o multimilionário
esquerdista John Sperling rotulou depreciativamente de retro,(1) ou seja, um
movimento que constitui um retrocesso na evolução do mundo rumo
ao igualitarismo e à amoralidade.
Por sua vez, os republicanos consideram os democratas esquerdistas
indivíduos
sem moral, sem pátria nem religião, promotores do aborto
e do “casamento” homossexual, pacifistas que desejam rebaixar
o país diante de seus inimigos, aumentar os impostos e estatizar
a economia. A estes, Sperling chama elogiosamente de metros, ou seja, habitantes
das metrópoles voltados para o futuro, progressistas avançados,
pragmáticos e evolucionistas.
A divergência aprofunda-se a cada dia. Os desejosos de se embrenhar
pela sombria senda do caos, que lá está crescendo, inclinam-se
por Kerry. Os que consideram já demasiado o caos existente, e tencionam
brecá-lo, propendem para Bush. E os indecisos ou centristas tornam-se
cada vez menos numerosos e, portanto, menos decisivos. O país encontra-se
assim polarizado em função da atitude a tomar em relação
ao caos: acelerá-lo ou brecá-lo?
Distorções do macro-capitalismo publicitário
O mega-sistema de sons e imagens — o macro-capitalismo publicitário — em
sua maior parte propende para o Partido Democrata. Em vista disso, na hora
de o candidato republicano falar, a mídia não costuma transmitir
dele uma imagem positiva, ou pelo menos objetiva. Na dianteira dessa tarefa
colocam-se dois jornais de projeção internacional –– o “New
York Times” e o “Washington Post” –– bem como
grandes canais de TV, como a CNN. Estes transmitem sua torcida a seus congêneres
do mundo inteiro. De outro lado, os republicanos desenvolveram impressionante
rede de órgãos de mídia locais, mas dispõem de
poucos correspondentes que lhes façam eco fora do país.
E cá estamos nós, caro leitor, ouvindo de longe a balbúrdia
dessa máquina de comunicação de centro-esquerda — cada
vez menos de centro e mais de esquerda — que nos atinge, enquanto se
joga nessa eleição grande parte do nosso futuro.
Importância para o Brasil e o mundo
O vice-presidente
Cheney e familiares na Convenção Republicana |
Um sagaz editorialista do “Courrier International” — órgão
que resume o que há de mais importante na mídia socialo-progressista — afirmou
recentemente de modo claro: “Jamais uma campanha eleitoral foi tão
importante. Nem tão próxima de nós. O super-poder de Washington é tal,
que este escrutínio virou um escrutínio mundial”.(2)
Nessa divisão entre partidários do caos e os que o recusam,
os Estados Unidos estão apenas na dianteira. Atrás, de modo talvez
não tão acentuado, segue o mundo inteiro: a Europa, a América
do Sul, o Brasil. Por isso, uma vitória do candidato dos conservadores
americanos revigorará as correntes de bom senso que crescem
no País e no universo. As esquerdas não querem sequer considerar
essa temática. Basta observar os esperneios de Fidel Castro, Hugo Chávez,
etc. contra o candidato dos conservadores.
Caos versus não-caos, alternativa mundial
Sondagens e enquêtes, comentaristas e especialistas bafejados pelo macro-capitalismo
publicitário prevêem uma eleição acirrada... enquanto
torcem desesperadamente pela vitória de Kerry. Porém, esses sistemas
de sondagem da opinião pública vêm se revelando de tal
maneira falhos e ideologicamente distorcidos — sempre, aliás,
para o lado da esquerda — que não podem ser tidos como instrumentos
de análise confiáveis.
No momento em que escrevemos, a vantagem conservadora parece
consolidar-se na reta final, enquanto certo desânimo e desacordo se esboçam
no campo democrata. Será assim até o dia da eleição?
Ou advirá alguma surpresa de última hora, que desequilibrará dramaticamente
a balança?
O certo é: qualquer que seja o vencedor, a discussão caos versus
não-caos não cessará, tanto na grande nação
americana quanto no mundo.
Reação conservadora e a mensagem de Fátima
Se sair vitorioso o esquerdista Kerry, é verossímil que a reação
conservadora à esquerdização e ao caos cresça
ainda mais.
No caso de uma reeleição do presidente Bush, provavelmente o
vozerio esquerdista anti-americano aumentará. Mas o que significa tal
vozerio? Hoje ele soa oco, carente de idéias e de capacidade de convencer.
Por isso, tentam difundi-lo no grito e no murro, método que nossos contemporâneos
cada vez menos apreciam e desejam. Pois há um desinteresse da opinião
pública pela Revolução igualitária, verdadeira
promotora desse caos que se abateu sobre a ex-Civilização Cristã.
A reação conservadora, americana e mundial, constitui um dos
indícios mais profundos disso. Ela indica que vastos setores da opinião
pública, em meio às decepções que o caos produz,
se predispõem cada vez mais a acolher favoravelmente uma intervenção
triunfante da Divina Providência na História moderna, conforme
foi anunciado em Fátima no ano de 1917.
Peçamos a Nossa Senhora, Rainha do Céu e da Terra, as graças
necessárias para a restauração da única ordem verdadeira:
a Civilização Cristã. Esta é, a nosso juízo,
a grande perspectiva em função da qual devem se dirigir a atenção
e as orações dos verdadeiros católicos, no tocante à próxima
eleição presidencial americana.
Notas:
1. John
Sperling & al., The Great Divide, PoliPoint Press,
2004, 296 pp.
2. “Courrier International”, nº 721,
26-08-04.
Veja:
http://www.catolicismo.com.br
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