“Ad intra” as reformas econômicas concederam
aos citadinos a liberdade de fundar pequenas empresas, e aos camponeses
a de plantar e vender seus produtos. “Ad extra”
abriram as portas aos investimentos estrangeiros, que ascendem hoje a mais
de 50 bilhões de dólares anuais. Empresas multinacionais instalando-se
no país, fábricas de automóveis, de aparelhos eletrônicos,
de eletro-domésticos, de artigos desportivos,
de brinquedos, e quanto mais se possa imaginar, surgiram como cogumelos
por toda a parte.
Trabalho quase escravo gerando produtos ordinários
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Chineses trabalham numa das inúmeras fábricas montadas com apoio
de multinacionais ocidentais e asiáticas como as do Japão
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A
mão-de-obra de custo ínfimo, fornecida por uma
população de 1,3 bilhão de pessoas a trabalharem muitas vezes em condições sub-humanas,
encheu prateleiras dos macro, super e mini-mercados do
mundo inteiro com produtos baratíssimos — de qualidade muito discutível
—, provocando desemprego em muitos países ocidentais.
A par das multinacionais surgiram empresas nacionais
bem sucedidas, cujos donos, mestres na arte do “guanxi” –– isto é, captar as boas
graças dos líderes comunistas –– tornaram-se em poucos anos verdadeiros cresos. Muitos deles, despóticos e contando com cumplicidade
oficial, atuam como verdadeiros chefes de máfias.(2)
E
vai se verificando uma curiosa regra de três: assim
como empresários americanos e europeus montam fábricas na China, aproveitando-se
da mão-de-obra barata, assim também empresários chineses estabelecem fábricas
nas cidades limítrofes da Sibéria, onde os salários são ainda bem mais
baixos. E aos poucos a China vai sendo chamada de os Estados Unidos da Ásia.
Xangai, por exemplo, tornou-se uma cidade que compete
em tamanho e riqueza com Nova York e Tóquio.
No boulevard Bund, às
margens do rio Huang-pu, em meio a uma floresta
de arranha-céus, encontram-se numerosos hotéis de cinco estrelas, um dos
quais, o Hyatt, é o
mais alto do mundo.
A
China virou o país dos superlativos. O país de
maior extensão territorial, com a população mais numerosa da Terra, está terminando
de construir no rio Yang-tsé a maior represa
de todos os tempos e lugares, próximo da grande Tomkin com seus 31 milhões de habitantes.
Compreende-se
que em outros campos a China não queira
ficar atrás. Em 2001 mandou ao espaço seu primeiro “taikonauta” (de taikon, espaço).
No campo da genética, está avançada nas pesquisas com embriões, pouco se
importando com a moral. E o laboratório da Micro-Soft Research Asia, com
sede em Pequim, representa o que atualmente existe
de mais sofisticado na área da informática.
Poderio militar do dragão e desejo de abocanhar Taiwan
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O dragão continental não ousou até agora abocanhar, pela força,
a ilha Formosa. Na foto desfile do exército comunista em Xangai
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A China destina anualmente uma verba de cerca de
40 bilhões de dólares para gastos militares.
Dispõe de um exército de 4 milhões de soldados que devem ser reduzidos
a dois milhões, na medida em que os armamentos forem modernizados. O arsenal
do exército vermelho provém da antiga União Soviética e encontra-se obsoleto
graças ao embargo à venda de armas lançado pela ONU.
Ora, com seu “boom” econômico a
China tornou-se mercado interessantíssimo para países exportadores de armas.
E na surdina vem sendo feita uma campanha para levantar o embargo da ONU.
Ainda há pouco, Gerhard Schröder,
chanceler da Alemanha, defendeu de modo claro que o embargo deveria ser
suspenso. De modo algum, argumenta ele candidamente, seu país deseja fazer
comércio de armas com a China. Longe dele tal pensamento! O problema é que
tal embargo não mais se coadunaria com a atual quadra mundial…
Taiwan possui forças militares muito
bem treinadas e equipadas com armamentos modernos. O que é um
argumento dissuasório de peso...
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Isso
justamente no momento em que o dragão amarelo
solta rugidos rumo a Taiwan (ou Formosa, como os portugueses a chamavam),
ameaçando anexá-la à força, caso não se reúna
de boa vontade ao continente dentro dos próximos 15 anos. E a propósito
da invasão nipônica na segunda guerra mundial,
bate a cauda em direção ao Japão, com ameaças
implícitas...
Em 1945, quando os comunistas de Mao-Tsé-Tung ganharam a guerra civil, os nacionalistas liderados
por Chiang-Kai-Chek refugiaram-se na ilha de
Taiwan e aí constituíram um governo independente que, desde o início, declarou-se legítimo governo de todos os chineses. Assim o
entendeu a comunidade internacional, e Taiwan foi membro da ONU até 1970,
ano em que este organismo admitiu a República Popular da China e excluiu
Taiwan.
País independente e fortemente anticomunista, com
20 milhões de habitantes, Taiwan é um dos tigres
asiáticos e possui a terceira maior reserva monetária do mundo. Mas também
um exército muito bem treinado e equipado com armamentos modernos. É o
que em boa parte explica por que o dragão continental não ousou até agora
abocanhar a ilha Formosa.
Perseguição aos católicos fiéis a Roma
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Num país oficialmente ateu, paradoxalmente observam-se manifestações
que tendem a "divinizar" os líderes da revolução marxista
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Os
líderes
chineses declaram-se adeptos do maoísmo-leninismo.
O ateísmo é ensinado oficialmente nas escolas do país. Não há padrões morais
normativos. E por isso mesmo, o respeito aos chamados direitos humanos é mínimo
ou inexistente.
O
primeiro e o mais importante dos direitos naturais (humanos) é o de conhecer e praticar a Religião
verdadeira. Nada favorece esse direito na China, apesar da entrada em
vigor, a 1° de março deste ano, de diretivas destinadas a melhor proteger os “direitos legítimos”
dos que têm fé.
A
situação dos 15 milhões de católicos chineses —
o que corresponde à população do Chile — é aflitiva. Há cerca de duas décadas
o governo comunista instituiu, com a infeliz cumplicidade de católicos
acovardados e oportunistas, a assim chamada igreja católica patriótica, a
qual recebe suas ordens não do Vaticano, mas dos sátrapas de Pequim.
Igreja católica na cidade de Jinan:
suas portas foram fechadas e lacradas pelo governo comunista
chinês
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Os
católicos fiéis a Roma — cerca de 10 milhões
— vivem perseguidos, em regime catacumbal.
Diversos bispos, numerosos sacerdotes e leigos já foram presos e torturados por
não se dobrarem ante as autoridades atéias e
marxistas.
“Sanguis christianorum semen” (o sangue dos cristãos atua como
semente), proclamava Tertuliano no
século II, apostrofando os perseguidores dos cristãos. É o que se verifica
na China, quando se considera o aumento contínuo do número de católicos.
Apesar da pertinaz perseguição do regime comuno-ateu de
Pequim, são batizadas anualmente 160.000 crianças
chinesas.
Inexistência dos mais básicos direitos humanos
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Bandeira de Hong Kong e
figura de Mao. Os bilhões de
dólares do Ocidente são vitais para a China tornar-se uma potência econômica
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No
que diz respeito ao direito à vida, existe uma
verdadeira esquizofrenia. De um lado, o governo aplica despoticamente a
norma de um só filho por casal. Com isso, milhões de abortos compulsórios
— e um aborto não passa do frio assassinato de um nascituro no ventre materno
— são praticados anualmente. Dessa norma draconiana de um filho por casal,
não escapam nem mesmo mulheres chinesas morando temporariamente no exterior.(3)
De
outro lado, o governo aplica a pena de morte a delitos menos graves,
como furtos,
sonegação de impostos e comércio de
drogas, freqüentemente executada em centros esportivos,
na presença de centenas de espectadores. Por vezes, junto ao local da execução
já se encontra uma ambulância devidamente apetrechada para retirar do sentenciado órgãos
para efeito de transplante. De passagem, interessa notar que essas mais
de 10 mil execuções capitais por ano não despertam alarido proporcional
ao que se faz a propósito dos cerca de 500 criminosos condenados à morte
nos EUA no mesmo período.(4)
Uma “terceira via”? Ela conseguirá iludir o mundo?
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O atual panorama
chinês
caracteriza-se por um duplo aspecto. Um flexível, o das reformas econômicas rumo
a um “socialismo de mercado”, que criou condições para uma explosão da
economia e um enriquecimento, não do povo em geral, mas de uma camada privilegiada
do país; as populações agrícolas continuam imersas numa situação de miséria,
apesar da existência de ilhas urbanas de prosperidade e do “boom” econômico.
Outro aspecto, rígido, o da inflexibilidade político-ideológica,
onde não houve qualquer mudança fundamental. Os “laokai”
–– os terríveis campos de concentração –– se abarrotam de dissidentes
e opositores do regime.
Uma
pergunta salta ao espírito: Não será este “boom”
desenvolvimentista uma excelente tática para
apresentar ao mundo embasbacado um novo modelo de convergência entre capitalismo
e socialismo? Estará, por acaso, sendo experimentada uma espécie de “terceira
via”, cuja fórmula eficaz até agora não havia aparecido, embora muitas
vezes tentada? Por exemplo, a do “socialismo de face humana”?
Em
1936, Hitler manipulou os jogos olímpicos de Berlim
para fazer propaganda do regime nazista. Os próximos realizar-se-ão em
Pequim, em 2008. Dois anos depois, em 2010, será inaugurada a Exposição
Mundial em Xangai. Dois eventos aptos a assestar o
foco da atenção do mundo inteiro sobre o antigo Império do Meio, criando
“condições objetivas” propícias para a propaganda
em nível mundial de uma presumível terceira via, que faz sua propaganda
nesta surpreendente simbiose comuno-capitalista.
Alimentado pelo capitalismo ocidental com 50 bilhões de
dólares anuais, foco da atenção geral, o dragão amarelo será tentado a
abrir orgulhosamente suas asas e a lançar fogo pelas ventas. Antes disso
o dragão finge sorrir para o Ocidente. Não se trata de uma preparação de
terreno, para depois incendiar o mundo?
Notas:
1. O
“boom” chinês foi largamente tratado na edição
especial da revista alemã "Der Spiegel",
nº 5, de 2004.
2. Ver
a respeito interessante artigo de James Meek para o diário inglês "The Guardian",
reproduzido no "Jornal do Brasil" de 14-11-04.
3. Chi An, uma jovem estudante chinesa, relata em seu livro O coração
estraçalhado, publicado em 1993, as tremendas pressões que sofreu do
governo comunista chinês para abortar seu segundo filho, nascido nos
EUA, quando seu marido fazia um curso de especialização ("Das zerrissene Herz", Goldman Verlag, Berlim, 1994).
O caso teve na época grande repercussão internacional.
4.
De acordo com cálculos de Thomas Hengsen,
especialista da insuspeita "Anistia Internacional".