O povo brasileiro aguarda solução


28/07/2005

Plínio Vidigal Xavier da Silveira

A crise política atual só pode ser resolvida se for respeitada a índole de nosso povo, que rejeita o caos em que se debatem algumas nações vizinhas

É tarefa ingrata analisar — no momento em que escrevo este artigo, em fins de junho — a situação nacional. Não é missão de uma revista mensal, como Catolicismo, tratar de uma situação que pode ser alterada a qualquer momento. Mas a gravidade do quadro exige que se fale a respeito. Exceto se algo de muito inesperado ocorrer, a situação política do Brasil deve seguir por um caminho mais ou menos previsível. Mas é pouco provável que, no momento em que a edição de julho saia a lume, o País tenha vencido a crise e estabilizado seu quadro institucional.

A política sempre apresenta surpresas. Quem diria, há três meses, que junho se encerraria com o quadro convulsionado de hoje? Que razões levaram o País à situação atual?

Povo pacato e ordeiro

Já escrevemos nestas páginas sobre a índole pacata e ordeira de nosso povo. Essa índole, que nada indica ter-se alterado, é o fundo de quadro em que se processam todas as manobras políticas, as acusações mútuas entre governistas e oposicionistas e as denúncias cada vez mais graves. E o público, mais uma vez, assiste atônito aos acontecimentos que se desenrolam. Nosso povo atravessará essa crise e sairá, sempre cordato e ordeiro, do outro lado do túnel? É uma questão importante a ter-se em vista.

Liderança diferente

Há três anos, em plena campanha eleitoral para o pleito de 2002, o candidato eleito — atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva — era apresentado como um homem simples, que viria a alcançar a suprema magistratura da Nação com o slogan “a esperança venceu o medo”. Se nas três vezes anteriores o seu nome incutia temor a grande parte da população, uma propaganda bem orquestrada levou 60% do eleitorado a sufragá-lo no segundo turno.

Um líder diferente dos que anteriormente governaram o País, um operário que chegava à chefia da Nação. Isto fez com que muitos brasileiros encontrassem nele sua esperança, vendo nessa alternativa a possibilidade de nossa Pátria caminhar no rumo certo.

Um “trator” na Casa Civil


José Dirceu chega à Câmara dos Deputados, para assumir sua cadeira nesta

Formado o novo governo, constatou-se que sua figura mais proeminente era o ministro José Dirceu, chefe da Casa Civil da Presidência. Antigo terrorista, homem que não aceitava transigir, considerado o “trator” que conduzia o regime. O Brasil já tivera antes, no governo Fernando Henrique, outro “trator”, que anunciara que o PSDB governaria por 20 anos: o ministro Sérgio Motta, prematuramente falecido ainda no primeiro quadriênio de governo do seu chefe.

Passado pouco mais de um ano do governo Lula, veio a lume o caso Waldogate: o primeiro caso envolvendo o Sr. José Dirceu. O seu principal articulador político, Waldomiro Diniz, foi acusado de grave irregularidade. Afastado esse auxiliar, o ministro da Casa Civil esperou restabelecer, com seus métodos impositivos, a estabilidade do governo. Seu estilo mostrou-se diferente do de Fernando Henrique, que sempre agia de modo prudente, afastando imediatamente qualquer auxiliar sobre o qual pairasse suspeita de irregularidade.

Sabendo bem o que queria, José Dirceu enfrentou a primeira crise e logo voltou a ser visto — por todos os radicais do PT — como o homem capaz de levar a uma reeleição do presidente Lula.

Tsunami político


Roberto Jefferson depõe na CPMI dos Correios, no Senado

Vários órgãos de imprensa passaram a denunciar fatos grandes ou pequenos, que modificaram a situação. Chegou-se a um flagrante: o caso de corrupção, por três mil reais, na Empresa dos Correios e Telégrafos. Quem diria que uma importância relativamente pequena poderia convulsionar o País? Mas era o início, outros casos surgiram.

Os três mil reais transformaram-se em um tsunami político. Envolveu o presidente de um dos partidos da base do governo, o deputado Roberto Jefferson. Conhecido criminalista, que já enfrentou árduas sessões de júri, experiente orador, esse deputado resolveu acusar, para assim não ficar como a única vítima de um caso político que lhe custaria, talvez, a cassação do mandato.

Iniciada a batalha, entrou em cena o chamado “mensalão”. Para usar um jargão caro aos pecuaristas, era o “estouro da boiada” — um só animal que, no meio de uma boiada, se assusta e corre, pode provocar uma disparada incontrolável de toda ela.

Roberto Jefferson está sendo julgado pela Comissão de Ética da Câmara dos Deputados. Instaurou-se a CPI sobre o caso dos Correios. Renunciando e voltando à sua cadeira de deputado, Dirceu relembrou seus tempos de guerrilheiro e conclamou o MST e quejandos para manifestarem-se nas ruas em favor do governo. O STF mandou reabrir a CPI dos bingos, várias mudanças no ministério se vão sucedendo. Como terminará tudo isto?

O brasileiro rejeita o caos

Em meio a esse assustador tsunami político, o que deseja nosso povo? Antes de mais nada, que se restabeleça a ordem no País. Mas é preciso considerar que a verdadeira ordem consiste na “paz de Cristo no Reino de Cristo”, fruto de uma civilização autenticamente cristã.

Que o Brasil reencontre sua trajetória, fiel às vias traçadas pela Divina Providência, é o que de melhor pode acontecer ao nosso povo, para trazer-lhe a ordem e a paz autênticas a que tanto aspira.

Veja:
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