Franceses interpelam bispos sobre a constituição européia
28/07/2005
Benoît Bemelmans
A denominada
“Constituição Sodoma e Gomorra”, apoiada até por alguns bispos,
foi rejeitada na França. Aderentes da associação Avenir de la Culture
foram mobilizados para dizer NÃO a uma constituição contrária à moral
cristã.
Um calhamaço de quase 200 páginas
tamanho ofício, contendo um texto em letras diminutas, foi distribuído
aos franceses com vistas ao plebiscito de 29 de maio último. É o Tratado estabelecendo uma Constituição para
a Europa, ou seja, a futura constituição européia.
A segunda parte desse calhamaço corresponde à Carta dos direitos fundamentais
da União, baseada sobretudo na convenção européia de
salvaguarda dos direitos do homem, datada de 1950.
“Passa-moleque”
favorece homossexuais
A
citada convenção estipulava que
“a partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de se casar
e de fundar uma família”. A constituição que se quer impor aos europeus
declara simplesmente: “O direito de se casar e o direito de fundar uma
família são garantidos conforme as leis nacionais que regem o seu exercício”.
Esta
nova formulação, que exclui
a menção a homem e mulher, parece ter sido lavrada expressamente para favorecer
as uniões homossexuais, pois a fraquíssima barreira das “leis nacionais” não
poderia se opor ao “direito de se casar e de fundar uma família”, reconhecido
a todos os indivíduos, inclusive do mesmo sexo. Estaria excluída assim,
entre outras coisas, a finalidade primária do matrimônio, que é a perpetuação da espécie.(1)
Nota-se
ainda que, ao suprimir a referência a duas pessoas (“o homem e a mulher”), a constituição européia abre
as portas também para a poligamia...
O
diário católico francês “La Croix”
— insuspeito de qualquer hostilidade à constituição européia —
afirma: “Os homossexuais que reivindicam o casamento não hesitarão em referir-se
ao texto da constituição européia, ou de recorrer à corte
de justiça européia para cuidar de levar a cabo
sua reivindicação”.(2)
Todos
pelo "sim": homossexuais,
políticos e bispos!
Por
outro lado, na França os lobbies homossexuais,
próximos tanto do partido do governo (UMP de Chirac)
quanto da oposição (socialistas), não hesitam em fazer propaganda em favor
do “sim” à constituição européia.(3)
Se
tudo isso não bastasse, o artigo
II-81 da própria constituição proíbe “toda discriminação em nome da
orientação sexual”. E já se sabe que afirmar os princípios da moral
cristã, que reprova mais do que justamente os atos homossexuais, é considerado
discriminação pelos ativistas que procuram impor uma revolução moral. Ora, a
constituição estipula que as leis européias se
impõem às legislações nacionais. Assim, amanhã a constituição européia poderá impor
o “casamento” homossexual e a correlata adoção de
crianças a todos os Estados membros, em nome da “não-discriminação”.
Assim
a aprovação jurídica da prática
homossexual seria imposta pela lei fundamental européia! É justamente o que João Paulo II pedia que se evitasse,
quando declarou com ênfase: “A aprovação jurídica da prática homossexual
não é moralmente aceitável” (Angelus de
20-9-94).
* * *
“La Croix” é condenado pela Justiça
por negar direito de resposta a Avenir de la Culture
Principal jornal católico da França, “La Croix”,
em 31 de março último, reconheceu que
o artigo II-69 do tratado que institui a constituição européia deixa “a porta aberta para o casamento homossexual”. Apesar
disso, o diário incitou seus leitores a votar "sim" no
plebiscito de 29 de maio!
“La Croix”
aprova assim uma constituição que vai permitir impor na França
um “casamento” antinatural entre dois homens ou entre duas mulheres.
Não surpreende que tal jornal — sem qualquer mandato para falar
em nome da Igreja católica — costume denegrir a ação da
associação francesa Avenir de la Culture,
valorosamente oposta ao “casamento homossexual” e a outros atentados
legais contra a instituição da família. No mesmo número em que
toma essa posição a favor da constituição européia, o jornal foi obrigado pela Justiça a publicar
um “Direito de resposta”, formalidade legal que impôs a seu diretor a pena de pagar multa por ter recusado direito
de resposta a Avenir de la Culture. “La Croix” protelou o quanto pôde
tal publicação: o julgamento foi há mais de um ano (5 de março de
2004) por um artigo que remonta a 2002...
|
* * *
Interpelação à Conferência
Episcopal francesa
O
pior é que o presidente da Conferência
dos Bispos da França, D. Jean-Pierre Ricard,
num documento do Conselho das Igrejas Cristãs da França, de 29 de março de
2005, conclama à aprovação desse tratado constitucional.
Para
um católico, votar por um texto
constitucional que abre campo à aprovação jurídica da prática homossexual é,
em consciência, moralmente inaceitável. Por isso, a associação francesa Avenir de la Culture lançou uma petição
dirigida ao presidente da Conferência Episcopal, na qual milhares de famílias
francesas perguntam respeitosamente a Mons. Ricard, que é também Arcebispo de Bordeaux:
“—
O Sr. Arcebispo não teme que,
amanhã, quando o “casamento” homossexual e a adoção de crianças por homossexuais tiverem sido impostos
pela lei fundamental européia, os cristãos possam
pensar que Vossa Excelência os aconselhou mal?
“—
O Sr. não teme que, quando os
católicos forem arrastados diante dos tribunais europeus por terem seguido
o que ensina o catecismo católico sobre a homossexualidade, eles pensem
com tristeza no entusiasmo um tanto cego com o qual V. Exa. os levou a
votar ‘sim’?
“—
Com todo o respeito devido a V. Exa., somos obrigados a dizer que ‘a
aprovação jurídica da prática homossexual
não é moralmente aceitável’”.
Felizmente os aderentes de Avenir de la Culture foram sensíveis
a essa petição e se mobilizaram para fazê-la distribuir entre seus círculos
de amizade ou difundi-la através da Internet. Isso permitiu alertar muitos
incautos, que de outro modo ter-se-iam deixado levar pela lábia da mídia, dos políticos... e de bispos a favor de um dispositivo
legal que a mencionada petição pôde chamar de “Constituição de Sodoma e Gomorra”, por favorecer
a dissolução da moral cristã.
“Os bispos da Europa apóiam a
Constituição”, estampa “La Croix”
em sua manchete de 24 de março de 2005. A resposta
da França em 29 de maio foi um vigoroso brado:
NÃO!
E-mail do autor : benoit@catolicismo.com.br
_____________________
Notas:
1.
A geração e educação da prole corresponde ao mandato divino: “Crescei e multiplicai-vos,
enchei toda a Terra e dominai-a” (Gen. I,
28).
2.
“La Croix”, Paris, 31-03-05.
3.
Ver “Libération”, Paris, 28-03-05.
* * *
Cardeal lembra o dever de opor-se
ao
“casamento” homossexual
Multitudinária manifestação contra o "casamento" homossexual em Madri
|
A aprovação de um projeto de
“casamento” de homossexuais pela Câmara de Deputados da Espanha,
em 21 de abril último, levantou uma onda de protestos naquele país.
A polêmica acendeu-se ainda mais com
as declarações do Cardeal Alfonso Lopez Trujillo,
presidente do Conselho Pontifício para a Família, que lembrou aos
católicos o dever de se oporem à lei que institui o “casamento”
entre pessoas do mesmo sexo e as autoriza a adotarem crianças.
“Não podemos impor coisas injustas aos povos. Ao contrário,
porque são injustas, a Igreja conclama com urgência a favor da
liberdade de consciência e do dever de se lhes opor”, declarou
o Purpurado. “Os cristãos, inclusive funcionários estatais,
estão chamados a exercer a objeção de
consciência, pois a lei de que tratamos constitui uma ferida profunda à moral
e à Fé”, afirmou.
Segundo o Cardeal Trujillo, o
problema agravou-se porque as uniões homossexuais são apresentadas
como alternativa para o casamento, quando na realidade só significam
um retrocesso moral. Suas declarações, publicadas pela agência
“Fides”, da Santa Sé, denunciam o falseamento
da questão, ao se falar em casamento entre duas pessoas sem precisar
que devem ser de sexos diferentes. A carapuça serve sob medida à redação do
tratado estabelecendo uma constituição para a Europa.
Em decorrência de seu apelo, numerosos prefeitos espanhóis já declararam que se recusarão a celebrar
o “casamento” civil de homossexuais, apesar de o Rei Juan Carlos ter afirmado que assinará a lei.
Em um comunicado, os bispos espanhóis também condenaram
a lei como “radicalmente injusta e nociva ao bem comum”, concluindo:
“O bem superior dos filhos exige que eles não sejam fabricados
em laboratórios nem adotados por uniões de pessoas do mesmo sexo”.
|
Veja:
http://www.catolicismo.com.br/
|