Reeleição na Colômbia — um clamor nacional
08/11/2005
Sociedad Colombiana Tradición y Acción
No
início de outubro p.p., quando a Corte Constitucional colombiana
deveria julgar se a reeleição presidencial seria possível,
a Sociedade Tradición y Acción publicou manifesto (cuja transcrição
segue abaixo) no jornal “El Tiempo”, o principal do país.
O documento faz um apelo ao alto Tribunal para não interferir nos veementes
desejos da opinião pública, de que o Chefe de Estado possa ser
novamente eleito. Três semanas depois, a Corte aprovava tal possibilidade,
eliminando a incerteza reinante. Se o apelo fosse rejeitado, a insegurança
cresceria rapidamente.
* * *
Que
a sentença da Corte Constitucional não frustre
as justas aspirações do povo colombiano
Fac simile
do manifesto publicado em "El
Tiempo" |
Nos próximos dias, a Corte Constitucional deve reunir-se em sessão
plenária para decidir em Direito sobre a reforma à Carta aprovada
pelo Congresso na legislatura passada. Trata-se da reeleição
presidencial, um tema que gerou não poucas polêmicas entre seus
defensores e detratores, e que é da maior transcendência para
o futuro de nossa Pátria.
A Sociedad Colombiana Tradición y Acción, como entidade cívica
inspirada na doutrina católica, que analisou atentamente todo o processo
sócio-político da Colômbia nos últimos 30 anos — primeiramente
como Tradición, Familia y Propiedad – TFP, e agora como Tradición
y Acción — não pode deixar passar este momento histórico
sem fazer um pronunciamento público.
A Colômbia viveu duas décadas
de caos
A partir dos anos 80, a
Colômbia veio se convertendo em um dos paradigmas
mundiais do caos. A guerrilha marxista e o narcotráfico, numa guerra
sem quartel contra a sociedade e o Estado, demoliram a ordem jurídica,
fazendo de nosso país um dos mais violentos e perigosos do mundo. Incontáveis
cidadãos honestos e trabalhadores foram literalmente massacrados por
hordas assassinas, com dezenas de milhares de mortes por ano.
Centenas de pequenos povoados
foram arrasados pela ação desses
grupos criminosos. O seqüestro alcançou níveis escandalosos,
com mais de duas mil vítimas por ano. A extorsão se apoderou
dos campos e das cidades, levando incontáveis cidadãos honestos
a se esconder ou ir para o exterior, enquanto bandidos e assassinos campeavam
desafiantes por toda parte.
Claudicando ante
o crime, não
se consegue a paz
Como pôde acontecer tudo isso, à vista de todo o país,
sem que ninguém o impedisse? — Essa é uma das grandes interrogações
que a História deverá responder. Durante duas décadas,
muitos de nossos dirigentes políticos preferiram claudicar diante dos
agressores, em vez de enfrentá-los de acordo com a Lei. Entregou-se
tudo ante as ameaças dos subversivos, alegando que assim se obteria
a paz. E cada dia que passava, a paz estava mais distante, enquanto a extorsão
e o crime dominavam todos os ambientes da nação.
O
presidente Álvaro Uribe (primeiro plano) interveio ante a Corte
Constitucional para defender os critérios do Governo |
O sangue de muitos inocentes
foi derramado caudalosamente, demonstrando que a paz não se obtém claudicando ante os criminosos, mas lutando
com heroísmo na defesa dos princípios e instituições
ameaçados. Bispos, magistrados, juízes, ministros, governadores,
prefeitos, generais e candidatos presidenciais caíram abatidos por causa
do erro de que através da transigência se obtém a pacificação
dos violentos. Mas, apesar das evidências, os que detinham os cargos
de maior responsabilidade continuavam impondo à opinião pública
suas capitulações, fazendo o impossível para que continuasse
o processo de demolição da nação colombiana.
Uma advertência profética
Em novembro de 1982, quando
começava o carrossel de capitulações,
um documento anunciou o que haveria de vir. A Sociedad Colombiana de Defensa
de la Tradición, Familia y Propiedad – TFP — entidade que
já não existe, tendo alguns de seus integrantes fundado Tradición
y Acción — publicou um manifesto nos nove principais jornais do
país: “Anistia aos guerrilheiros: Medida de pacificação,
ou transferência da guerrilha do fundo das selvas para o coração
das cidades?” (cfr. “El Tiempo”, 9-11-1982). Essa análise,
pouco ouvida na ocasião, foi uma denúncia profética do
que sucederia durante os 20 anos seguintes, caso o país não reagisse
ao processo de falsa pacificação que o conduzia ao desastre.
Quando os pertinazes disparates
dos claudicadores chegaram ao extremo de entregar à subversão
partes importantes de nosso território, começou finalmente uma
reação vigorosa e salvadora. A opinião pública,
saturada de tantas mentiras, sofismas e crimes, tornou-se implacável
na censura contra todos aqueles que propiciaram a entrega da Colômbia
aos grupos ilegais.
Essa sã reação levou o Dr. Álvaro Uribe à Presidência
e, uma vez no Poder, seu combate frontal a todos esses males mudou completamente
a fisionomia de nossa Pátria. Hoje, depois de três anos de governo,
os papéis se inverteram. Os bandidos voltaram para as selvas ou saíram
do país, tendo de se manter escondidos ou trânsfugas para não
serem capturados ou mortos; e os colombianos honestos já podem sair
para o campo, pelas estradas, mover-se e trabalhar livremente, dentro de um
processo de recuperação notável que apenas começa,
e no qual ainda falta muito caminho para percorrer.
Apoio ou recusa a um clamor nacional
Presidente
colombiano Álvaro Uribe |
O que então está em jogo, com a decisão a ser tomada nos
próximos dias pela Corte Constitucional, não é só se
o povo colombiano poderá ou não reeleger o atual Presidente por
outros quatro anos. Decide-se também algo muito mais transcendental:
se se reconhece a transformação profunda de nossa Pátria,
que exige dos governantes, dos líderes espirituais, das autoridades
civis e militares, da Polícia e dos órgãos de segurança,
dos juízes e dos magistrados, dos congressistas, dos deputados e dos
vereadores, e de todos que têm em suas mãos os destinos da nação,
uma atitude firme, intrépida e sem concessões em face das minorias
criminosas que nos impuseram o caos durante 20 anos.
Ninguém pode negar que no plano político essa luta foi assumida
pelo Presidente da República, e essa é a razão pela qual
goza de tão altos índices de popularidade. Ele obteve resultados
notáveis em recuperar a confiança da população,
sem a qual uma nação não progride, mas se empobrece, arruinando
as fontes de emprego e de bem-estar do país. Truncar essa obra na metade
do caminho, quando a imensa maioria dos colombianos a apóia com vigor
e entusiasmo, equivale a decapitar as aspirações mais profundas
da Colômbia e a recomeçar o funesto processo de demolição
nacional.
Essa é a razão pela qual, entre os que recusam a reeleição
presidencial, encontram-se muitos dos que foram indolentes ou cúmplices
quando a Pátria estava sendo destruída. Por isso fazemos um apelo
público à reflexão, esperando que a Corte Constitucional
saiba interpretar as mais legítimas e nobres aspirações
do povo colombiano, no momento de tomar uma decisão de tanta transcendência.
A opinião pública não poderá ser emudecida em
um assunto desta importância, pois todas as pesquisas que auscultaram
o sentir da Colômbia indicam que esta deseja de modo categórico
a reeleição, precisamente porque anseia a verdadeira pacificação,
com base no império da Moral e do Direito. Isto não deve ser
ignorado pela honrada Corte Constitucional, pois fazê-lo desvirtuaria
a própria essência de nossas instituições e relançaria
o país no abismo.
Como católicos, imploramos a intercessão do Sagrado Coração
de Jesus, a Quem nossa Pátria está consagrada há quase
um século, para que ilumine com sua Sabedoria e Prudência aqueles
que têm em mãos um assunto de tanta importância. Da resposta
que eles emitam proximamente, depende que na Colômbia continue sendo
restaurada a vigência dos princípios da civilização
cristã, ou que de novo seja subjugada pelos partidários do crime,
graças à indolência de numerosos homens públicos.
Sociedad Colombiana
Tradición y Acción
Veja:
http://www.catolicismo.com.br/
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