Socialistas tentam impor lei liberticida de ensino
11/01/2006
Renato Murta de Vasconcelos Correspondente – Espanha
O governo socialista espanhol pretende aprovar uma nova Lei de Ensino de cunho
liberticida, naturalista e ateu.
A opinião pública reage indignada.
Manifestação
contra o projeto de ensino na Espanha |
No último dia 12 de novembro, mais de um milhão e meio de pessoas
encheram as ruas de Madrid, em portentosa manifestação contra
o projeto de lei do governo socialista de Zapatero que pretende impor uma nova
Lei de Ensino (LOE – Ley Orgánica de Educación).
A nova legislação de ensino, se aprovada, vai eliminar dos colégios
a aula de religião; impedirá que os pais escolham livremente
a escola de seus filhos; proibirá o financiamento das escolas particulares
por fundações ou donativos; tornará obrigatória
a educação mista e introduzirá a educação
sexual no currículo escolar.
O projeto tem suscitado ondas crescentes de inconformidade,
tanto mais que os socialistas, muito “democraticamente”, mostram-se refratários à discussão
e aos debates, querendo impor de modo ditatorial uma reforma de ensino cujas
raízes já se podiam notar, por exemplo, na Comuna de Paris do
século XIX.(1)
* * *
Manifestação
contra a nova Lei de Ensino do governo socialista espanhol |
A manifestação do dia 12 de novembro, da qual participaram seis
bispos e incontáveis sacerdotes e religiosas, é verdadeiramente
insólita, seja pela avalanche de participantes, seja pelo grau de sua
rejeição à plataforma governamental.
E não é para menos. O primeiro-ministro Zapatero tem feito ouvidos
moucos aos clamores do descontentamento popular, precisamente ele que dois
anos atrás, quando deputado oposicionista, reclamava que o governo de
Aznar não ouvia a voz do povo. E agora, depois do dia 12 de novembro,
atacou rijamente a Igreja por haver apoiado a manifestação e
ameaçou cortar-lhe o financiamento público.(2)
Os princípios igualitários que norteiam o projeto
de lei socialista podem ser assim sintetizados:
Quanto aos pais:
Outro
aspecto da manifestação |
Embora principais responsáveis pela educação dos filhos,
nega-lhes o direito, reconhecido pela constituição espanhola,
de escolher onde, como e o que se deve ensinar a seus filhos.
Com os critérios (zoneamento, comissões de admissão)
que devem ser aplicados para o ingresso no colégio, atenta-se contra
o direito e a liberdade dos pais de escolherem a escola que julguem mais adequada
para seus filhos.
Quanto aos alunos:
Conhecimentos — A lei deixa de lado o papel fundamental do ensino, que é precisamente
transmitir conhecimentos a crianças e jovens, tornando ainda mais grave
o problema do baixo nível escolar.
Esforço pessoal — O esforço pessoal perde sua importância;
o aluno pode passar de um curso a outro sem haver alcançado o nível
de escolarização adequado. Surge um vazio difícil de ser
preenchido ao cabo dos anos, e que ameaça o futuro dos jovens.
Supressão de notas — A eliminação das notas nas
respectivas matérias impede que se avalie o nível de conhecimento
alcançado pelo aluno.
Assistência às aulas — Os alunos poderão decidir,
por meio de voto, se querem assistir às aulas ou não, sem que
o professor ou a diretoria do colégio possa intervir.
Quanto aos professores:
Aspecto
da gigantesca manifestação contra a nova Lei de Ensino
do governo socialista de |
Autoridade — Mantém a linha atual que favorece a redução
da autoridade dos professores e da diretoria dos colégios.
Remuneração — Ausência de propostas para o aumento
dos salários dos professores, peças-chave no processo educacional.
Professores de Religião — Deixa indefinida a situação
dos atuais 17.000 professores, uma vez que as aulas de Religião foram
excluídas do currículo; a assistência a elas é opcional
e não há mais notas.
Quanto aos colégios
Imposição da educação mista
a todas
as escolas.
Introdução de matérias escolares com forte viés
ideológico — como por exemplo a matéria “Educação
para a cidadania”.(3)
Apoio financeiro — Controle excessivo sobre a ajuda econômica
dada pelo governo a colégios particulares, pressão que vem sendo
exercida há anos.
Cartaz
convoca o público para protestar contra a Lei de Ensino, em
Madrid. |
Fica bem claro o objetivo visado pelos socialistas com a nova
Lei de Ensino. Trata-se de acabar com a influência católica no ensino e plasmar “democraticamente” as
futuras gerações. Logo na Espanha, bastião da catolicidade
na Europa.
As reações a esse plano pipocam de todos os lados. Com o fito
de sopitá-las, Luiz Pizarro, secretário do PSOE andaluz, iniciou
há pouco uma campanha de esclarecimento sobre a LOE. Contudo, sem fornecer
dados sobre o projeto, insulta seus opositores, atribuindo-lhes o desejo de “enfraquecer
o governo” sob pretexto de combater o projeto de lei. Mas deixa claro: “A
nova lei de ensino é um instrumento de poder para conseguir democraticamente
a igualdade entre os espanhóis”.(4)
O secretário provincial do PSOE de Cádiz, Francisco González
Cabana, atropela a verdade de modo descarado ao dizer que “a LOE visa
que os pais escolham os colégios de seus filhos, e não o contrário
como quer o Partido Popular”. Fazendo uma referência à manifestação
de 12 de novembro, ameaça os descontentes: “Devemos nos pôr
em pé de guerra, porque parece que a direita pegou o costume dos jovens
de fazer manifestações; ela gosta das ruas aos sábados,
mas esse vício não lhe sairá grátis. Vamos enfrentar
quem usa a rua para obter privilégios”.(5)
* * *
Apesar
da forte reação católica contra as reformas
propostas pelo primeiro-ministro Zapatero (à esq.), este insiste
em implantar um governo antirreligioso na Espanha. |
O PSOE defrauda desta forma aqueles que esperavam
uma campanha informativa séria e que explicasse o conteúdo da lei. Dando sinais do nervosismo
que domina suas fileiras depois de resultados pouco animadores colhidos nas últimas
pesquisas eleitorais, próceres socialistas recorrem à mentira
e à ameaça. E com seu projeto de reforma da Lei de Ensino mostram
a sua verdadeira face de inimigos da Igreja e da Civilização
Cristã.
Educação
cristã
Papa Pio XI |
Sobre a educação sexual e o ensino misto, ensinou Pio XI em sua
Encíclica Divini illius magistri, de 31-12-1929:
“ 65. É muito comum o erro dos que, com perigosa segurança
e com um termo horrível, promovem uma assim chamada 'educação
sexual`, imaginando falsamente que poderão imunizar os jovens contra os
perigos da sensualidade através de meios meramente naturais, tais como
uma iniciação temerária e uma instrução preventiva
para todos, indistinta e até publicamente; e pior ainda, expondo-os numa
tenra idade às ocasiões, a fim de os acostumar, segundo argumentam,
e fortalecê-los contra tais perigos.
68. Igualmente errôneo
e pernicioso à educação cristã é o
método chamado de 'co-educação`. Este também é fundado,
para muitos de seus propugnadores, no naturalismo e na negação
do pecado original, mas o é sobretudo numa deplorável
confusão de idéias que toma uma promiscuidade e uma igualdade
niveladoras pela legítima convivência entre os sexos”. |
______________
Notas:
1. A Comuna de
Paris tentou instalar uma república comunista na capital
francesa. A experiência durou menos de três meses, de 18 de março
a 28 de maio de 1871. Entre as reformas da Comuna de Paris constava uma nova
lei de ensino que previa: “Em breve desaparecerão nas escolas
de Paris as aulas de religião. Contudo, em muitas escolas permanece
ainda a lembrança dessas aulas sob a forma de crucifixos, imagens da
Virgem e outros símbolos. Os mestres e mestras devem retirar estes objetos,
cuja presença ofende a liberdade de consciência. Objetos desses
que sejam de metal nobre devem ser entregues à Casa da Moeda” (Decreto
do Delegado para o Ensino, Ed. Vaillant, de 1.5.1871, in Die Pariser Kommune
1871, DTV, München, 1971, p. 233).
2. A este respeito é interessante a carta que Alejandro Díaz
Garcia escreveu ao diretor de “Hispanidad”, de 17-11-05: “Em
2004, através do IRPF, o Estado contribuiu com 30,2 milhões de
euros para a Igreja. Ora, somente a organização católica
Caritas gastou 57. Os colégios da Igreja atendem a 990.774 alunos com
um custo de 2.961 milhões de euros, dos quais o Estado só financia
1.783. A Igreja dispõe de 101 hospitais com 51.312 leitos, 596 residências
para anciãos, 876 casas de acolhimento, 937 orfanatos, 312 jardins de
infância e 365 centros de educação para excepcionais. O
custo anual dessa assistência social ascende a 5,056 milhões de
euros. Para os espanhóis sai mais barato que a Igreja se encarregue
de prestar esses serviços do que pagar salários a novos funcionários. É supérfluo
dizer que o desaparecimento de todo esse conjunto de obras sociais representaria
um autêntico desastre humanitário. A Igreja também desempenha
um grande trabalho de conservação do patrimônio histórico
e artístico, em grande medida de caráter religioso. Sem a colaboração
dos religiosos encarregados de mosteiros, igrejas catedrais e respectivos museus,
seria impossível ao Estado custear a manutenção de todos
esses bens culturais. Não se deve ser hipócrita. É preciso
menos demagogia e mais seriedade”.
3. Neste contexto
há grave risco de que sejam introduzidos textos como
o Guia para Moças, distribuído pela Comunidade de Castilla-La
Mancha. Numa demonstração de ódio à liberdade dos
pais de educarem seus filhos, o “Instituto de la Mujer de Castilla-La
Mancha” pretende difundir em todos os centros educativos da região
um “Guia para chicas”, que promove a masturbação,
o uso de anticoncepcionais, as relações homossexuais e o aborto
como alternativa para gravidezes inesperadas.
4. “Pizarro (PSOE) cree que el PP tiene ‘un sentido pobre’ de
la educación”, www.lukor.com, 7.12.05.
5. “El PSOE basa en insultos y amenazas su campaña informativa”,
www.hazteoir.org, 26-11-05.
Veja:
http://www.catolicismo.com.br/
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