O navio, a lupa e o agronegócio
13/03/2007
Hélio Brambilla
Apesar
de
marginalizado
por setores do governo, prejudicado por invasões
dos ditos "movimentos sociais" e injustamente atacado por certa mídia,
o agronegócio continua sendo coluna da economia nacional
Um navio singra
os mares rumo ao Oriente. Ao ancorar, depara com o espectro de uma conspiração contra o agronegócio brasileiro.
A China teria descoberto três ou quatro grãos contaminados de
agrotóxico por tonelada de soja, razão para devolver todo o
carregamento. Embora tenha ocorrido em 2005, o triste episódio somou-se à maior
crise do agronegócio no Brasil nos últimos 40 anos, conforme
palavras de Roberto Rodrigues, então ministro da Agricultura. Naqueles
dias sombrios, o preço da saca de soja despencou de R$ 50 para R$
30. A partir dessa crise os preços do produto — carro-chefe
das exportações da agricultura brasileira — não
se recuperaram mais. Estima-se que em 2007 a situação se equilibre,
e quiçá seja solucionado em 2008 (vide seção “Informativo
Rural” desta edição).
Enquanto isso, teria início outro fato sinistro. O governo, para financiar
suas dívidas, vende títulos da dívida pública a
juros altíssimos, atraindo aplicadores de bilhões de dólares
no mercado, o que tem provocado a valorização do real e a depreciação
do dólar. Não tardou para que o efeito dessa medida se refletisse
como um raio sobre os produtos do agronegócio, bem como de outros segmentos
industriais e comerciais, arrastando-os à beira da falência. Os
ruralistas compram insumos, cotados em dólar à razão de
R$ 3,50, e na hora da colheita vendem a safra com o dólar cotado a R$
2,20. Cumpre ressaltar que na bolsa de Chicago –– ponto de referência
das cotações mundiais –– os preços continuaram
inalterados ou mesmo em alta. Mas, com o dólar defasado, no Brasil caíram
assustadoramente.
Misteriosa mão e lupa seletiva
Ao mesmo tempo, uma misteriosa mão tomava uma lupa, superdimensionava
alguns fatos e os fazia circular por todo o Brasil nos grandes órgãos
da mídia, sobretudo televisiva. Apenas para exemplificar: em abril de
2006, iniciou-se a veiculação de notícia sobre a auto-suficiência
brasileira de petróleo. A campanha durou quatro meses. Em dezembro,
dois jornais brasileiros de grande tiragem –– “Folha de S.
Paulo” e “O Estado de S. Paulo” (15-12-06) –– noticiaram
que a auto-suficiência só viria em fevereiro de 2007, se tanto!
O presidente da Petrobrás apressou-se em desmentir que a notícia
da auto-suficiência tivesse fins eleitoreiros. Entretanto, um pesquisador
da Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação
em Engenharia) da UFRJ, Giuseppe Bacoccoli, criticou a posição
da Petrobrás ao anunciar a auto-suficiência: “Sem dúvida,
a campanha teve objetivo eleitoral. A notícia não foi dada em
cima de um fato, mas sim baseada numa estimativa”. Outro especialista
do CBIE (Centro Brasileiro de Infra Estrutura) Adriano Pires, comentou: “Claramente,
houve uso político da companhia. Quando foi anunciada, a auto-suficiência
não existia”. “Folha de S. Paulo”, 15-12-06.
A mesma lupa também inflou os 11 milhões de bolsas-família
e as 200 mil bolsas de estudo universitárias, denominadas Prouni, além
de outros programas sociais do governo.
Essa mesma sinistra mão direcionou a lente para a “gripe aviária”.
Detectou-se ao longe, nos países do Oriente, um vírus que contagiava
as aves, matando algumas delas, o que teria obrigado as autoridades a dizimar
edifícios de criação de aves para evitar um possível
contágio humano. Esses fatos reais, um tanto preocupantes, foram noticiados
no Brasil com uma tendência nitidamente de “terrorismo publicitário”.
Com isto, nossas exportações de carne aviária despencaram.
As corporações produtoras acumularam grandes estoques. A solução
foi desová-los no mercado interno a preços aviltados. Em conseqüência,
a mesma mídia deixava entender que o governo teria se tornado “o
pai dos pobres”, uma vez que a população nunca havia comido
carne de frango a R$ 0,99 o quilo.
Mais uma vez a mão dirige a lupa para um novo episódio.
Em decorrência da falta de controle das autoridades sanitárias,
como denunciaram vários especialistas, focos de febre aftosa surgidos
em assentamentos de “sem-terra” teriam contaminado o rebanho de
uma fazenda, através das águas de um rio que passa pelo assentamento.
Tal rebanho é de alta genética, sendo suas rezes vacinadas até quatro
vezes ao ano. De lá, segundo o noticiário, a febre ter-se-ia
espalhado para o estado do Paraná. Autoridades, de forma autoritária
edesastrada, ordenaram que fossem abatidas milhares de cabeças de gado
para evitar uma possível proliferação. A mesma mão
assesta a lupa, aumenta o fato e o estrondeia para o Brasil e para o mundo,
através de certa mídia. Nossas exportações de carne
bovina e suína (os suínos também podem contrair a febre
aftosa) despencaram, e os frigoríficos, com grandes estoques, colocaram
o excedente no mercado interno, fazendo os preços desabarem no varejo.
E a mesma mídia tocou o realejo: “Nunca o povão comeu carne
bovina e suína a preço tão barato”. Fato curioso:
pouco mais de um ano depois, laudos oficiais comprovam que os focos de febre
aftosa não existiram no Paraná (Cfr. “Folha de S. Paulo” 29-12-06
e “Estado de S. Paulo” 29-12-06). Os prejuízos do setor
de carnes, de acordo com o Boletim da Coopavel (Cooperativa de Agropecuária
de Cascavel), superaram o valor de 5 bilhões de dólares
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Veja:
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