O navio, a lupa e o agronegócio


13/03/2007

Hélio Brambilla

“Transferência de renda” prejudicial ao agronegócio


É bom lembrar que todos os fatos relacionados com os ditos “movimentos sociais” –– sem-terra, quilombolas, índios –– também passaram pela mesma lupa manipulada, enquanto importância e relevância no panorama nacional. Todos esses fatores somados levaram os especialistas a avaliar que a monumental “transferência de renda” (leia-se empobrecimento) do agronegócio para os grandes bancos, para a Petrobrás (que obteve R$ 20 bilhões de lucro em 2006) e para a população de baixa renda (bolsa-família e até cestas básicas para os sem-terra) foi de 50 bilhões de reais. Com efeito, o Ministério da Agricultura registra que o estoque de dívidas do setor agrícola é de 51,5 bilhões de reais (Cfr. “Folha de S. Paulo” 27-12-06). Conseqüências: endividamento do setor, alongamento da dívida para o “burro de carga” do produtor rural carregar por mais 10 ou 20 anos. Os setores que correram à margem da crise foram o sucroalcooleiro, o cafeeiro e a citricultura. Por enquanto, é o que sussurram os pessimólogos.


Participei, como observador, de mais de 40 grandes eventos da agropecuária brasileira no decorrer de 2006, alguns dos quais após a reeleição do presidente Lula, e pude constatar a decepção, a amargura e até mesmo o desespero dos produtores por terem sido traídos, usados e vilipendiados por setores governamentais e certa mídia. Manipulam “sem terra”, índios e quilombolas em atividades criminosas e violadoras da lei, para invadir, depredar e saquear propriedades.

Enquanto alguns dos que recebem benesses do “bolsa-família” são vadios, os que trabalham de sol a sol na agropecuária, produzindo comida barata e de alta qualidade, gerando 38 milhões de empregos,contabilizando um superávit cada vez maior, exportações com receitas líquidas de mais de 40 bilhões de dólares em 2006, e 239 bilhões de dólares nos últimos 10 anos (cfr. “Folha de S. Paulo”, 2-1-07), são tratados como bandidos e como exploradores do povo.

Sadias reações e “esquecimento” de mazelas catastróficas

Diversas vozes levantaram-se em todo o País a partir da ação destemida de lideranças de Mato Grosso, que ao norte do Estado (região de Sinop) lançou o movimento do “tratoraço”, contagiando todas as regiões produtoras do Brasil. A manifestação queixou-se da falta de respeito do governo para com os produtores, pois em virtude de um câmbio intencionalmente baixo estava quebrando o setor do agronegócio.

Destaco com satisfação a maratona de viagens, palestras, entrevistas e campanhas em defesa do agronegócio, levadas a cabo pelo Príncipe D. Bertrand de Orleans e Bragança por todo o Brasil (Campanha “Paz no Campo”), denunciando a trama urdida nos bastidores do esquerdismo em geral e, em particular, do esquerdismo católico, através de medidas contrárias ao agronegócio.

Convém não esquecer os prejuízos das indústrias de insumos agropecuários e de fábricas de calçados.

O jornal "O Estado de S. Paulo" de 25-12-06 apresentou os reflexos da crise inclusive nas vendas dos supermercados. Dados da Abras (Associação Brasileira de Supermercados) atestaram queda de 1,79 % em relação ao mesmo período do ano passado (janeiro a novembro). A propósito, o presidente daquela entidade, João Carlos de Oliveira, declarou: “Pode parecer pouco, mas para o setor, que deve fechar o ano com vendas em torno de 110 bilhões de reais, é uma redução significativa”.

O curioso é que a malandra mão invisível que, com sua lupa, superdimensionou certos fatos para favorecer a esquerda em detrimento do agronegócio, “esqueceu” de focalizar outros que falam por si. Por exemplo, o de que nossa dívida interna saltou de pouco mais de 600 bilhões de reais para 1 trilhão e 81 bilhões nos quatro anos do governo Lula (Cfr. “O Estado de S. Paulo” 21-12-06); o de que a carga tributária em 1989 foi de 304 bilhões de reais, e em 2006 foi de 812 bilhões de reais (Cfr. “Folha de S. Paulo”, 30-12-06).

Tristes vias de um País com potencial para figurar entre as primeiras potências do mundo! Políticos e administradores fisiológicos colocam os seus interesses pessoais acima do bem comum.

"Natal do luto" e atuação dos "homens de má vontade"

Atente-se para o significativo comentário da coluna Persona de “O Estado de S. Paulo” (27-12-06), sob o título Natal Enlutado: “O trânsito, nos dias próximos ao Natal, estava bom demais para ser verdade. Alguma coisa não deu certo. O que faz desconfiar de que as vendas de Natal não foram das melhores. Isso, somado à quase insignificante iluminação natalina da cidade, faz pensar num desânimo geral dos paulistanos. O Natal do luto, depois de um ano de vergonhas e escândalos desmoralizadores, que acabaram em absolutamente nada, como se tudo fosse normal e desculpável, e frente à perspectiva de mais quatro anos do mesmo.”

Observem os leitores como não somos apenas nós que avaliamos a situação brasileira com a mesma objetividade. Órgãos de imprensa que se ufanam em primar pelo equilíbrio de suas análises vêem o panorama brasileiro da mesma maneira.

Os anjos do Céu que cantaram pela passagem de mais um Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo – “Glória a Deus nas Alturas e paz na terra aos homens de boa vontade” –– certamente se referiam, entre outros, ao bom homem do campo, trabalhador, sofredor e injustiçado por sucessivos governos de índole socialista e igualitária. Que os mesmos anjos iluminem nossas inteligências e fortifiquem nossas vontades para prosseguirmos os embates ao longo deste ano.

Cabe destacar que a mensagem dos anjos é seletiva: “Paz na terra aos homens de boa vontade”. E se existem os de boa vontade, há também os de má vontade, os de má fé.

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Veja:
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