Na Colômbia: Intensa pressão esquerdista internacional e sadia reação da opinião pública


20/08/2007

Luis Guillermo Arroyave

Ante a impossibilidade de a guerrilha colombiana obter uma vitória militar, desencadeou-se poderosa pressão internacional, que tenta neutralizar a reação antiguerrilheira do país e produzir o derrotismo


Imponente manifestação contra a guerrilha na cidade de Medellín
Nicolas Sarkozy assumiu a presidência na França em 16 de maio último. No mesmo dia, à tarde, viajou para a Alemanha a fim de se encontrar com a chanceler Angela Merkel. Desejava destravar as relações franco-alemãs e acabar com o marasmo político existente na União Européia. O ritmo frenético do mandatário francês assustou. Mas aquilo era só o começo. Surpreendeu mais uma vez telefonando, no dia seguinte, para Álvaro Uribe, presidente da Colômbia. Sugeriu várias medidas ao colega colombiano, entre as quais a libertação de Rodrigo Granda, o “chanceler” das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), grupo narcoguerrilheiro que há anos vem afligindo a nação. Órgãos da imprensa perguntaram ao presidente Uribe se ele havia questionado Sarkozy sobre os motivos de suas apressadas solicitações. “Preferi a confiança à curiosidade”, respondeu o colombiano, alegando ainda “razões de Estado”. A partir de então, a solicitação do chefe de Estado francês ficou parecendo exigência. Uribe estava numa posição defensiva. Como reagiria?

A manobra do “chanceler” das FARC


O “chanceler” das FARC, Rodrigo Granda, libertado a pedido do presidente francês
Rodrigo Granda foi libertado. E muitos outros guerrilheiros, 111 no total. O primeiro e mais espetacular resultado esperado pelo presidente francês a seu gesto surpreendente era a libertação da franco-colombiana Ingrid Betancourt, candidata presidencial nas eleições de 2002, e que fora seqüestrada naquele ano pelas FARC. Espera até hoje em vão a libertação, e parece que continuará a aguardar...

O dito “chanceler” das FARC passou a viver na sede da Conferência Episcopal Colombiana. Ali declarou-se, com descaramento, um seqüestrado do Estado, como se fosse possível comparar as condições inumanas dos reféns das FARC com o tratamento que recebe na sede dos bispos da Colômbia. Aproveitou ainda sua libertação para tentar virar o jogo, colocando as FARC sob luz favorável. Declarou repetidamente que, se fosse assassino, delinqüente ou narcotraficante, não teria sido libertado; e que a França, com seu pedido, tinha concedido às FARC reconhecimento político internacional. Em outras palavras, as FARC não seriam organização criminosa, mas um grupo que mereceria tratamento semelhante ao dispensado a um Estado soberano!


Sarkozy cumprimenta a filha de Ingrid Betancourt...
Merecem ser ressaltados outros aspectos da reação das FARC ao gesto unilateral de Álvaro Uribe. Elas não libertaram ninguém. Pelo contrário, seqüestraram o chefe da polícia do município de Florida, no departamento do Valle, e ainda assassinaram friamente 11 deputados que haviam sido capturados em 2002. Quase ninguém duvida que foi assassinato, e a esmagadora maioria dos colombianos não acredita que tenha havido choque militar.

Até o momento em que escrevemos este artigo, os guerrilheiros das FARC não entregaram os 11 cadáveres dos políticos assassinados que estavam em seu poder. Em outras palavras, a unilateral e generosa atitude governamental –– provocada, segundo parece, pela pressão internacional, e não apenas proveniente de Paris –– teve como resposta o recrudescimento da violência.

Vigorosa reação da opinião pública


...que aparece na foto, extraída de filmagem realizada nas selvas colombianas, onde ela se encontra seqüestrada pela guerrilha
No âmbito interno, elevou-se um rugido impressionante: o potente brado das ruas, que repercutiu no país inteiro. Em 5 de julho, mais de cinco milhões de manifestantes enfurecidos exigiram em alta voz o fim da violência, dos seqüestros, dos inqualificáveis crimes e da impunidade das FARC. Reclamaram ainda a liberdade imediata dos mais de 2 mil colombianos seqüestrados por essa organização terrorista, que alia o crime a um programa revolucionário radical. Proporcionalmente, seria como se no Brasil 22 milhões de pessoas desfilassem indignadas pelas ruas e praças das grandes cidades. O brado tonitruante de “basta!” ecoou pelos vales, montanhas, ruas e praças do país; sobretudo clamou no interior das consciências. De fato, foi mais uma demonstração, agora mais candente, da inconformidade popular em relação à guerrilha. Que já vem de bom tempo, pois decididamente a Colômbia não suporta as FARC.

O que ganhou Uribe com seu gesto de boa vontade? Talvez tenha melhorado o seu prestígio no exterior, mas não se sabe em que medida. E é de lá que estão partindo os tiros mais danosos contra ele. Manifestou disposição de diálogo, e recebeu como resposta uma estrepitosa bofetada das FARC; foi hábil neste aspecto, pois ficou numa posição de quem quer dialogar, mas encontrou o interlocutor fechado e irredutível.

As diversas perdas do presidente Uribe


Nas ruas da cidade de Cali, cartazes em homenagem aos 11 deputados assassinados
Internamente, Uribe perdeu muito:

1ª perda –– É claro que o exército, que já sofreu o desfalque de muitos dos seus combatentes em prol da lei e da ordem, não se sentiu animado, quando seu comandante-em-chefe libertou inimigos encarniçados sem nada exigir em troca. A tentação foi de desânimo, logo agora que injeções de estímulo e coragem seriam necessárias. Num combate, o pior é a perda de confiança dos comandados em relação a seu chefe.

2ª perda –– Se foram libertados criminosos culpados de graves delitos, não teriam direito a semelhante indulto outros delinqüentes hoje encarcerados por crimes muito menores? Eles reclamaram. Se a libertação valeu para os mais culpados, não valeria igualmente para os que têm culpas menores? Criminosos comuns e pessoas ligadas ao narcotráfico, mas com folha corrida menos carregada, desejam receber tratamento análogo.

3ª perda –– As chamadas forças paramilitares cometeram numerosos crimes, e muitos de seus membros estão presos. Mas entre eles há pessoas que cometeram menos delitos do que muitos dos 111 guerrilheiros liberados. A misericórdia vale só para estes? Por que essa política que tem mão e não tem contramão? Por que "dois pesos e duas medidas"? Eles também querem receber o mesmo tipo de tratamento.

4ª perda –– A sensação generalizada nos setores mais sadios e enérgicos da Colômbia foi a de que Uribe é sensível a pressões. Ele verga, se for muito pressionado. Com isso, verificou-se uma quebra de confiança.

Valeria a pena trocar as claras e ponderáveis perdas internas pelo discutível ganho externo? Konrad Adenauer, o prestigioso chanceler alemão da reconstrução de seu país após a Segunda Guerra Mundial, teria uma resposta: A primeira preocupação de um político é cobrir sua própria área de influência; depois fará o resto, se der.

Agressão externa contra a Colômbia


O clamor da indignação popular tomou as ruas das principais capitais do país
De fato, a extemporânea intervenção de Nicolas Sarkozy só teve êxito fácil por não ser isolada. Exprimia o anseio mais ou menos generalizado de políticos no exterior. Seu efeito foi humilhar o presidente Uribe, não especialmente pelo que ele é, mas sobretudo pelo que, de momento, representa –– o símbolo mais importante e visível da inconformidade popular em face da guerrilha narcocomunista. Por isso, Uribe está sendo agressivamente tratado por muitos esquerdistas que gozam de inegável influência na mídia do mundo inteiro. Ele precisa ser abatido, para que sua causa fique por terra. Entre tais setores simpáticos à guerrilha, é necessário lembrar forças poderosas nos Estados Unidos. Elas têm o vezo já antigo de agredir amigos e prestigiar inimigos. São os paladinos da autodemolição da Colômbia. Exemplo mais notório disso foi a recusa do candidato derrotado à presidência norte-americana, Al Gore, hoje "garoto-propaganda" da causa dos verdes, de participar de um fórum em Miami, pelo fato de a ele ter comparecido Álvaro Uribe. A esse propósito, Francisco Santos, vice-presidente da Colômbia, observou que a atitude de Al Gore constituiu uma afronta ao povo colombiano. E concluiu: “Não se pode brincar com a dignidade nacional, como ele fez”.

Os pastores ouvirão os justos clamores do povo?


Álvaro Uribe, presidente da Colômbia
Estamos diante de uma jogada política clássica. Existe um problema grave para os simpatizantes –– declarados ou dissimulados –– das FARC. Na Colômbia consolidou-se um amplo e forte setor, bastante lúcido, que não está disposto a ceder diante da guerrilha, e seu programa é extirpar do país as FARC. Como liquidar tal setor, se internamente ele está resistindo com galhardia aos ataques?

Já começou a tentativa de sua liquidação. Os golpes contra ele estão vindo, sobretudo do exterior. E assim, trabalha-se agora para criar na opinião pública colombiana (em especial, nos seus segmentos mais reativos) a impressão de que ela está totalmente isolada, de que sua causa não desperta nenhuma simpatia no mundo. E que, em conseqüência, se ela quiser estar em sintonia com o que há de mais moderno e influente, precisaria mudar logo de posição. Se não, virá o ostracismo, e a Colômbia tornar-se-á uma nação pária no concerto mundial. Ceder ante essa pressão constitui uma colossal tentação.


O alvo principal da pressão internacional é a parte mais reativa do país, o setor mais conservador e católico

Tal campanha pró-guerrilheiros apresenta ataques arbitrários e flagrantemente injustos contra o presidente colombiano; mas, na realidade, seu alvo principal é a parte mais reativa do país, seu setor mais conservador e católico, que deseja que a nação não rompa com seu passado de tradição cristã. É necessário trucidar rapidamente esse setor, pois ele tem obtido vitórias significativas. Sobre essa parte sadia da opinião pública colombiana, majoritariamente católica, deveria incidir de forma especial a solicitude do clero. O Episcopado deveria protegê-la e fortalecê-la, segundo a frase da Sagrada Escritura: “Eu vi a aflição do meu povo. O clamor dos filhos de Israel chegou até mim e eu vi a sua aflição” (Ex., 3, 7-9). Desejamos muito que a Hierarquia católica o faça. Esperança vã? Só o futuro dirá.

O lançamento de um Hugo Chávez colombiano?

Se não houver reação pujante e consciente, à altura da campanha internacional que se desencadeou contra o povo colombiano, é de se temer que, em pouco tempo, o veneno da insegurança penetre até nos setores mais enérgicos. Após a insegurança virá o desânimo; a seguir, o derrotismo. É o que espreitam os pró-guerrilheiros.

Ninguém, com um mínimo de senso da realidade, julga que as próprias FARC calculem obter uma vitória militar; muito menos, conseguir adesão da opinião pública a seus princípios socialo-comunistas. Seus objetivos são outros, e o primeiro deles está à vista. Com o derrotismo, estarão postas condições propícias para o lançamento de uma candidatura presidencial de oposição, provavelmente ligada ao Pólo Democrático, cujo programa apresentará semelhanças com o de Rafael Corrêa do Equador e Hugo Chávez da Venezuela. Financiamento do exterior, certamente não lhe faltará; artimanhas de toda ordem, também não. E então, se a candidatura do Pólo Democrático for vitoriosa, ocorrerá o trucidamento do que a Colômbia tem de melhor, e as FARC alcançarão estrondosa vitória. Diante de tão grave perspectiva, a apatia e a indiferença tornam-se criminosas.

Veja:
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