Pujança da produção agropecuária baseada na livre iniciativa


11/10/2007

Hélio Brambilla

Propriedade privada, agronegócio e muita pesquisa fazem com que a situação econômica do campo no Brasil venha mudando nas últimas décadas para muito melhor


Novas perspectivas energéticas
Muito se tem falado sobre os biocombustíveis no Brasil e no mundo. Uns alegam que o petróleo deve ser substituído por combustíveis renováveis, enquanto outros levantam o espectro do aquecimento global. Quase todos aplaudem iniciativas que evitem o efeito estufa –– tão alardeado, mas ainda não comprovado. E os políticos apressam-se em apresentar-se como “salvadores da pátria”, quando não do “planeta Terra”, como é o caso do presidente Lula.

Para apresentar uma visão equilibrada do tema, façamos uma retrospectiva da agropecuária brasileira, relacionando-a com a situação em outros países. Com efeito, a História registra os principais ciclos econômicos que o Brasil conheceu nos seus 500 anos. Até meados do século passado, o que produzíamos mal bastava para o consumo interno, exceção do café e do açúcar. Mas, de lá para cá, o País vem amadurecendo seu potencial produtivo através de estudos e aplicação de altas tecnologias, que já apontam para um futuro próspero nessa matéria.

A produção no século XIX

A Europa e os Estados Unidos, com solos de predominância cálcica e obedecendo bem os ciclos da natureza, produziram sempre e em abundância, o que não poderia deixar de chamar a atenção. Brasileiros e argentinos assimilaram suas técnicas. Mas, enquanto a Argentina conseguia ótimos resultados, o Brasil marcava passo.

A grande produção nacional ficava restrita às regiões de terras de maior fertilidade, como o sul de Minas, partes do interior de São Paulo, norte e oeste do Paraná, oeste de Santa Catarina e partes do Rio Grande do Sul, enquanto nossas imensas vastidões do cerrado, em razão do alto teor de acidez de suas terras, jaziam inertes ou quase tanto. Índios, em seus costumes primitivos, não titubeavam em atear fogo à vegetação do cerrado para facilitar a caça dos animais em fuga; e depois, para atraí-los pela brotação verde.

As chuvas de nosso verão tropical foram erodindo, através dos séculos, os nutrientes do terreno devastado, empobrecendo ainda mais uma grande área de nosso território. Felizmente, na segunda metade do século passado, com a atuação da Embrapa e da Emater, além de pesquisas feitas pelainiciativa privada, conseguimos o que se convencionou chamar a “redenção do cerrado”. Pitorescas foram as palavras de um diretor da Embrapa em Campo Grande (MS), que sugeriu uma mudança na carta de Pero Vaz de Caminha: “em se calcareando, tudo dá”.

Com muito esforço, pesquisa e tecnologia, a situação vem mudando para melhor nestas últimas décadas. Além da correção do solo e reposição de nutrientes em solos degradados, descobriu-se o sistema do plantio direto, que vem concorrendo para um aumento considerável da produção. Contudo, o que foi obtido até o momento é ainda muito pouco em comparação com o potencial.

A produção nacional


Área do cerrado em verde

Em termos mundiais, o Brasil ocupa o primeiro lugar na produção de 28% do café, 82% do suco de laranja e 41% do açúcar. Somos o segundo produtor de carne de frango, álcool, tabaco, complexo soja, carne bovina (temos o maior rebanho do mundo) e frango. É nosso o terceiro posto em milho e carne suína.

Mas o Brasil tem se projetado no mundo pelo conjunto de novidades que descobriu e começa a aplicar no contexto do agronegócio. No que se refere ao álcool, conseguimos dar a volta no ciclo dos combustíveis renováveis, produzindo hoje em torno de 20 bilhões de litros. Enquanto o petróleo necessita ser refinado, o álcool vai direto para o tanque do carro. Além de eficiência na produção, temos preço competitivo.

Contudo, é urgente tomar decisões e implementá-las em âmbito nacional e internacional, para dar maior segurança ao setor e fazê-lo deslanchar ainda mais. Entre outras providências, é urgente que o governo manifeste e efetive sua ‘vontade política’ para: 1) transformar o álcool em commodity agrícola, com o objetivo de conseguir estabilidade nos preços internacionais; 2) criar estoques reguladores para não faltar o produto no período da entressafra. Cumpre lembrar a grande invenção industrial brasileira que já começa a ser exportada, ou seja, carros bicombustíveis, também chamados flex.

Atuação negativa da Petrobrás


O País precisa de outras fontes de combustíveis. A Petrobrás ainda não conseguiu atingir a tão decantada auto-suficiência.
Otimismo à parte, os brasileiros devem lutar para que tais decisões sejam implementadas, pois grande parte do lobby da paquidérmica Petrobrás — mais voltada a apoiar governos do que a facilitar a vida do povo –– tentará impedi-las. Não sem razão, o grande físico e professor José Walter Bautista Vidal, considerado a justo título o pai do proálcool, numa entrevista à “Folha de São Paulo” de 24-6-07, p. B-18, fustigou a estatal: “O cérebro da elite da Petrobrás não é flex...”.

Por puro preconceito comuno-ecológico, a estatal não aceita o biocombustível, alegando degradação do meio ambiente. Fala até em utilização de mão-de-obra escrava, chegando ao cúmulo de defender que a cana concorre com o arroz e o feijão do pobre. Diga-se de passagem que, apesar de nos cobrar um absurdo pelo combustível vendido, a Petrobrás ainda não atingiu a tão decantada auto-suficiência. Conforme denunciamos em artigo nesta revista, em março/2007, a dita auto-suficiência foi utilizada apenas como peça de propaganda para a eleição presidencial. Se não fosse a produção de álcool, o déficit da conta-petróleo seria de alguns bilhões a mais...

Em relação ao álcool carburante, está provado que: 1) temos preços altamente competitivos na produção; 2) ele é “ecologicamente correto”, para usar o jargão dos ambientalistas; 3) temos terras disponíveis para ampliar nossa produção — que já responde por quase 30% do consumo — até chegarmos à auto-suficiência.

Quanto ao chamado biodiesel, o governo decretou que, a partir de 1º de janeiro de 2008, seja adicionado 2% de óleo vegetal transesterificado no óleo diesel de petróleo; e, paulatinamente, ir aumentando a dosagem na mistura. Pode-se temer que os cérebros do governo –– já que não conseguem organizar uma sadia política de segurança, de educação, de saúde, do setor aéreo; enfim, da estrutura básica do País –– dificilmente conduzirão com acerto uma política sobre o biocombustível. Um exemplo? Já começam a enveredar por um caminho totalmente errado, ao querer impor que 30% dos caroços oleaginosos sejam fornecidos pelos assentados da Reforma Agrária. Parodiando o dito “daquele mato não sai coelho”, podemos afirmar a priori que do mato dos assentamentos não sairá óleo...

O potencial oleaginoso


Caso tivéssemos políticas acertadas, o aproveitamento do nosso potencial oleaginoso poderia em breve substituir parte do óleo diesel pelo biodiesel
O Brasil produz em abundância muitas variedades de oleaginosas, entre elas a soja, o milho, o girassol, a palma (dendê), a canola. Dentre as oleaginosas com maior potencial de rendimento, destaca-se o pinhão-manso, que apresenta recorde em produtividade de amêndoa. É uma planta perene, que não exige muitos investimentos em fertilidade do solo. O plantio recupera solos degradados, devido ao baixo índice de ataques de pragas.

A árvore tem raízes profundas e a irrigação pode ser feita com intervalos entre 20 e 30 dias, por gotejamento. Em média, produz 5.000 quilos de grãos por hectare, 1.650 litros de óleo por hectare. O óleo transformado em biodiesel polui 80% menos que o diesel. Além dessas vantagens, o cultivo dispensa mecanização, tornando-se uma ótima fonte de emprego e renda fixa.

Caso tivéssemos políticas acertadas e baseadas em pesquisas sérias, sobretudo isentas de demagogia ou ideologias esquerdistas, o aproveitamento do nosso potencial oleaginoso poderia em breve substituir parte do óleo diesel pelo biodiesel. Tanto para a produção do álcool como para a do biodiesel, genericamente denominados de biocombustíveis, nossas possibilidades são incomensuráveis, sem para isso precisarmos derrubar uma só árvore da floresta amazônica. A plantação de cana ocupa hoje áreas outrora destinadas a pastagens, como também acontece com os grãos, o café e a laranja. Apesar disso, o nosso rebanho só vem aumentando. Substitui-se uma produção pela outra, mesmo crescendo sua produtividade.

Também não existe o perigo de a monocultura, centrada principalmente na produção dos derivados da cana de açúcar, comprometer a produção de alimentos.

Apelo ao presidente Lula

A mal sucedida Reforma Agrária foi responsável, só nos dois últimos governos, pelo gasto de aproximadamente U$ 30 bilhões para assentar famílias em 68,6 milhões de hectares. Conforme estudo do escritor e jornalista Nelson Ramos Barretto em Reforma Agrária – Mito e Realidade, os assentamentos se tornaram autênticas favelas rurais, onde os assentados vivem de cestas básicas e dos subsídios dos programas bolsa-família, vale-gás, luz para todos, etc. Ou seja, o governo extorque do contribuinte quase 40% do PIB em carga fiscal, e simplesmente repassa parte desse dinheiro para o bolso de pessoas que se resignaram a viver às custas do Estado-patrão. Sou testemunha ocular das assertivas de Barretto, pois, rodando 40 a 50 mil km por ano em constantes visitas a exposições agropecuárias, posso afirmar que convivo com a calamidade dos assentamentos espalhados Brasil afora.

A respeito desse assunto, temos boa ocasião para fazer um apelo ao presidente Lula: "Interrompa a Reforma Agrária e as desapropriações de terras particulares. Devolva as terras aos antigos proprietários, como, aliás, vem sendo feito por tantos países que passaram pela amarga experiência socialista da Reforma Agrária. Veja que, se a metade dos 60 milhões de hectares — área total usada até agora pela Reforma Agrária — voltasse à iniciativa privada e fosse dedicada à produção de álcool, teríamos 30 milhões de hectares com cana plantada, e produziríamos mais 200 bilhões de litros de álcool/ano, o suficiente para suprir 35% de todo o consumo de gasolina dos Estados Unidos. Ademais, estaríamos criando 15 milhões de novos postos de trabalho!”.

Para concluir, um recado para Fidel Castro: “Veja como o biocombustível gera riqueza e não fome, ao contrário do que o 'comandante' apregoou durante seus longos anos de ditadura. Fome e miséria se encontram de fato em Cuba, como também nos assentamentos de Reforma Agrária no Brasil. Os cortadores de cana do Brasil, que ele considera submetidos a trabalho escravo, ganham em média 800 reais por mês, ou seja, o mesmo que os cubanos ‘livres’ durante o ano inteiro!".

Veja:
http://www.catolicismo.com.br

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