Auto-retrato filosófico de Plinio Corrêa de Oliveira
22/07/2004
Plinio Correa de Oliveira
Dentro da perspectiva
de Revolução e Contra-Revolução , o êxito dos êxitos alcançado pelo
comunismo pós-staliniano sorridente foi o silêncio enigmático, desconcertante
e espantoso, apocalipticamente trágico, do Concílio Vaticano II a respeito
do comunismo.
A evidência dos
fatos aponta, pois, o Concílio Vaticano II como uma das maiores calamidades,
se não a maior, da História da Igreja. Depois dele penetrou na Igreja, em
proporções impensáveis, a fumaça de Satanás [*], que se
vai dilatando dia a dia, com a terrível força da expansão dos gases. Para
escândalo de incontáveis almas, o Corpo Místico de Cristo entrou no sinistro
processo de autodemolição , do qual falou Paulo VI[**].
[*] Cfr. alocução
de 7 de dezembro de 1968.
[**] Cfr. alocução
de Paulo VI de 29 de junho de 1972.
Nota da redação Também
João Paulo II, em diversas ocasiões, tem-se referido aos problemas do mundo
moderno e a sua relação com a tempestade que se abate sobre a Santa Igreja.
Muitos destes problemas, afirma o Papa, incluem a difusão de verdadeiras
heresias, no campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões e rebeliões (Alocução de 6 de fevereiro de 1981, in Insegnamenti
di Giovanni Paolo II , Libreria Editrice Vaticana, 1981, vol. IV, 1, p. 235).
Ficava assim delineada
a situação da III Revolução, como ela se apresentava pouco antes do 20° aniversário
da publicação de Revolução e Contra-Revolução .
Entretanto, esse
panorama não seria completo se se negligenciasse uma transformação interna
na III Revolução: é a IV Revolução que dela vai nascendo.
Como é bem sabido,
nem Marx nem a generalidade de seus mais notórios sequazes viram na ditadura
do proletariado a etapa terminal do processo revolucionário. Na mitologia
evolucionista inerente ao pensamento de Marx e de seus seguidores, assim
como a evolução se desenvolverá ao infinito no suceder dos séculos, assim
também a Revolução não terá termo. Da Iÿ20Revolução já nasceram duas outras. A terceira, por sua
vez, gerará mais uma. E daí por diante...
Não é impossível
prever, por ora, dentro da perspectiva marxista, como será a IV Revolução .
Ela deverá consistir, segundo os próprios teóricos marxistas, na derrocada
da ditadura do proletariado em conseqüência de uma nova crise, por força
da qual o Estado hipertrofiado será vítima de sua própria hipertrofia. E
desaparecerá, dando origem a um estado de coisas cientificista e cooperativista,
no qual dizem os comunistas o homem terá alcançado um grau
de liberdade, igualdade e fraternidade até aqui insuspeitável.
Como? É impossível
não perguntar se a sociedade tribal sonhada pelas correntes estruturalistas
não dá uma resposta a esta indagação. O estruturalismo vê na vida tribal
uma síntese ilusória entre o auge da liberdade individual e do coletivismo
consentido, na qual este último acaba por devorar a liberdade. Em tal coletivismo,
os vários eus ou as pessoas individuais, com o seu pensamento,
sua vontade e seus modos de ser, característicos e conflitantes, se fundem
e se dissolvem segundo eles na personalidade coletiva da tribo
geradora de um pensar, de um querer, de um estilo de ser densamente comuns.
A Parte III de Revolução
e Contra-Revolução termina
com considerações sobre essa IV Revolução nascente.
Metamorfose
do comunismo rumo à sociedade autogestionária
A década seguinte,
dos anos 80, não se encerraria sem que os prognósticos feitos na Parte III
de Revolução e Contra-Revolução recebessem uma extraordinária confirmação
nos fatos.
Não conseguindo
esconder mais seu estrondejante fracasso econômico, bem como o desumano cerceamento
de liberdades legítimas, a Rússia soviética optou por admitir o fato desinibidamente
diante do mundo. E assim, depois das convulsões geopolíticas espetaculares
que se seguiram aos programas liberalizantes da glasnost (1985) e da perestroika (1986) desencadeados por Gorbachev, o regime
soviético se esboroou (1989-1991) e parece desde então evoluir para um modelo
menos distante do que vigora no Ocidente.
Essa transformação
coloca um problema estratégico novo para os não comunistas, pois parece conter
um apelo: assim como se dissolveu a estrutura granítica do comunismo, torne-se
também o Ocidente menos rígido em sua aplicação dos princípios da propriedade
privada e da livre iniciativa, aceitando dar passos decisivos na direção
do socialismo. Desse modo, Ocidente e Oriente convergirão para um ponto intermédio não
necessariamente a meio caminho, e possivelmente bem mais próximo do comunismo
que do capitalismo e estará encontrada uma solução definitiva para
a paz mundial.
Quantos no Ocidente
não se têm deixado seduzir por esta perspectiva! Quantos não são propensos
a dizer: é melhor aceitarmos um regime mais igualitário, com menos liberdade
civil e econômica, a fim de evitarmos que a situação na Rússia retroceda,
os comunistas retomem o poder e volte a nos importunar o terrível espectro
do holocausto nuclear, do qual milagrosamente nos livramos!
A essa ponderação
cabe responder que as guerras são castigos pelos pecados dos homens. A aceitação
de um regime antinatural e contrário à Lei de Deus, como é o comunismo, ainda
que algum tanto mitigado, constitui enorme pecado que, desdobrando inevitavelmente
seus efeitos maléficos, só pode acarretar a ruína e a infelicidade dos homens.
Assim, face ao
esfacelamento do império soviético, no Ocidente os espíritos mais argutos
se perguntam o que isso tudo tem de autêntico, de consistente, de irrefragável,
que autorize esperanças solidamente fundadas. E embora não faltem otimistas
pressurosos de abrir os braços de par em par para tais perspectivas enganadoramente
alvissareiras, a prudência recomenda muita circunspecção diante da enigmática
retração do comunismo, que muito bem pode não ser mais do que uma metamorfose
para atingir a meta última deste, que é a sociedade autogestionária.
Advertiu-o honestamente o próprio Gorbachev, em seu ensaio propagandístico
Perestroika Novas idéias para o meu país e o mundo [*]: A finalidade
desta reforma é garantir .... a transição de um sistema de direção excessivamente
centralizado e dependente de ordens superiores para um sistema democrático
baseado na combinação de centralismo democrático e autogestão. Autogestão esta que, de mais a mais, era o
objetivo supremo do Estado soviético , segundo estabelecia a própria
Constituição da ex-URSS em seu Preâmbulo.
[*]
Ed. Best Seller, São Paulo, 1987, p. 35.
Todas estas considerações
encontram-se mais amplamente explanadas na edição atualizada de Revolução
e Contra-Revolução publicada
em 1992 [*].
[*] A Parte III
de Revolução e Contra-Revolução , acrescida pelo Autor de alguns comentários,
foi publicada no Catolicismo n° 500,
de agosto de 1992.
Edições atualizadas
da obra se sucederam na Argentina, Chile, Colômbia, Equador e Espanha (todas
em 1992), nos Estados Unidos (1993), no Brasil (1993), no Peru (1994) e na
Romênia (1995).
Se
o Brasil não conheceu a desgraça da pulverização agrária, deve-o a RA-QC
É o momento de
mencionar algumas realizações contra-revolucionárias de envergadura, levadas
a cabo pelas TFPs nos respectivos países.
Em 1960, fervilhava
no Brasil uma agitação agrária... quase toda ela urbana! Uma propaganda sabiamente
orquestrada nas grandes cidades procurava fazer crer que todo o nosso mundo
rural estava a ponto de explodir em virtude do descontentamento da classe
dos trabalhadores manuais. Segundo se dizia, para desarmar a efervescência
das massas rurais prevenindo assim uma hecatombe impunha-se
fazer uma Reforma Agrária. Esta consistiria fundamentalmente em que o Poder
Público expropriasse a preço vil os latifúndios improdutivos, em vista de
distribuir terra aos pequenos agricultores. O próprio dinamismo do espírito
igualitário que animava os agro-reformistas levá-los-ia entretanto a eliminar
progressivamente todas as grandes e médias propriedades, transformando nossa
estrutura rural numa imensa contextura de pequenas propriedades de dimensão
familiar. Foi quando veio a lume o livro Reforma Agrária Questão
de Consciência . Obra de grande porte, exigia um trabalho de equipe.
Foi assim que redigi a primeira parte do livro, submetendo-a depois à consideração
de dois ilustres prelados, Dom Antonio de Castro Mayer, então Bispo de Campos,
e Dom Geraldo de Proença Sigaud, então Bispo de Jacarezinho, depois Arcebispo
de Diamantina, para que fizessem a revisão do texto, sob o ponto de vista
especificamente teológico. A segunda parte, de natureza técnica, ficou
a cargo do economista Luiz Mendonça de Freitas [*].
[*] Reforma
Agrária Questão de Consciência teve
dez edições, nos seguintes países: Brasil (2 edições em 1960, uma em 1961
e outra em 1962), Argentina (1963), Espanha (1969) e Colômbia (3 ed. em
1971 e uma em 1985), num total de mais de 41 mil exemplares.
A obra teve uma
acolhida muito favorável nos meios rurais e foi objeto de manifestações de
aplauso da parte de governadores, deputados estaduais e federais, senadores,
centenas de prefeitos, câmaras municipais e entidades de classe.
Os mesmos autores
publicamos em 1964 a Declaração do Morro Alto , programa positivo
de Reforma Agrária[*].
[*] A Declaração
do Morro Alto teve duas edições em português. Com a transcrição
em Catolicismo , sua tiragem totalizou 32.500 exemplares.
No seu conjunto,
essas obras constituíram ao mesmo tempo uma franca e enérgica defesa do princípio
da propriedade privada, negado mais ou menos veladamente pelo agro-reformismo
socialista e expropriatório, bem como uma afirmação da função social do referido
princípio, para a correção de abusos e falhas existentes em nossa situação
rural.
Reforma Agrária Questão
de Consciência deu origem a
polêmicas que alertaram a opinião pública para os verdadeiros objetivos
das reformas de estrutura então preconizadas pelas correntes de esquerda,
e desse modo contribuiu para a formação do clima ideológico e psicológico
que cortou o passo à instalação da república sindicalista então desejada
pelo Presidente João Goulart.
Inegavelmente,
se nosso País não conheceu a desgraça da pulverização de sua estrutura agrária
num número incontável de minifúndios de baixa produção, deve-o em muito larga
medida a esse livro.
Acordo
com o regime comunista: para a Igreja, esperança ou autodemolição? Carta de louvor de Congregação
da Santa Sé
Entretanto, de
minhas obras, a que teve maior divulgação foi incontestavelmente A
liberdade da Igreja no Estado comunista, que, nas últimas edições, saiu com
o título de Acordo com o regime comunista: para a Igreja, esperança ou
autodemolição? [*]
[*] Este ensaio,
publicado pela primeira vez em 1963, teve dez edições em português: Brasil
(1963, 7 ed. em 1965, 1967 e 1974); onze em espanhol: Brasil (1963 e 2 ed.
em 1964), Chile (1964), Espanha (2 ed. em 1970, 2 ed. em 1971, e outras 2
ed. em 1973) e México (1965); cinco em francês: Brasil (1963, 1964, 1965)
e França (1975, 1977); uma em alemão (1965); uma em húngaro (1967); quatro
em inglês (1963 e 3 ed. em 1964); duas em italiano (1963 e 1964); e duas
em polonês. As edições nestes últimos cinco idiomas foram todas publicadas
no Brasil. Essas sucessivas edições atingiram o total de mais de 163.500
exemplares.
Além disso, o
trabalho foi transcrito na íntegra em 40 jornais ou revistas do Brasil, Alemanha,
Angola, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, França,
Itália, México e Portugal.
A obra foi prestigiada
por uma carta de louvor da Sagrada Congregação dos Seminários e Universidades
da Santa Sé, em data de 2 de dezembro de 1964, assinada pelos Cardeais Pizzardo
e Staffa.
Repercutiu, este
estudo, para além da cortina de ferro. O semanário católico -esquerdista Kierunki e
o mensário Zycie i Mysl, ambos poloneses, o atacaram violentamente.
Zbigniew Czajkowski, colaborador destes dois periódicos, publicou extensos
e indignados artigos contra meu ensaio. Respondi através das páginas de Catolicismo .
Daí se seguiu uma polêmica, na qual interveio em apoio à minha obra o periódico LHomme
Nouveau, de Paris, pela pena de seu colaborador Henri Carton, enquanto Témoignage
Chrétien turbulento órgão comuno-progressista francês se
colocava ao lado de Czajkowski.
Assim como Reforma
Agrária Questão de Consciência , também A liberdade da Igreja
no Estado comunista foi escrita em função de um problema concreto.
Já então se ia generalizando entre os católicos astutamente propagada a
idéia de que o único obstáculo que os impede de aderir ao regime comunista é que
este costuma tolher o exercício do culto. A partir dessa noção gravemente
incompleta, foi fácil aos marxistas, simulando respeito à liberdade da
Igreja, obter decidido apoio de certos católicos para um hipotético comunismo
que deixasse inteira liberdade aos diversos cultos.
Essa manobra propagandística
poderia render e rendeu ao comunismo incalculáveis benefícios.
Pois, na medida em que influenciasse as massas católicas, enfraqueceria ou
anularia a oposição que os 800 milhões de católicos existentes no mundo haveriam
de fazer ao comunismo.
Em meu ensaio,
procurei frustrar essa manobra já em 1963, mostrando que é intrínseco ao
regime comunista eliminar ou mutilar muito gravemente o instituto da propriedade
privada, o que, por sua vez, é contrário à doutrina da Igreja. Para ser fiel à sua
missão, a Igreja não poderia deixar de combater tal regime, ainda que este
lhe reconhecesse inteira liberdade de culto. Tal combate criaria um inevitável
conflito entre os católicos e qualquer Estado comunista.
Baldeação ideológica
inadvertida e diálogo denuncia manobra para debilitar a resistência
ideológica dos católicos
Também Baldeação
ideológica inadvertida e diálogo alcançou ampla repercussão[*].
[*] Publicado
pela primeira vez em 1965, teve treze edições, sendo cinco em português (4
ed. em 1966 e uma em 1974), uma em alemão (no Brasil, em 1967), seis em espanhol
(uma na Argentina em 1966, duas na Espanha em 1966 e 1971, uma no México
e duas no Chile em 1985) e uma em italiano (1970). Foi transcrito em nove
jornais ou revistas do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Espanha, Estados
Unidos e Portugal, atingindo o total de 136.500 exemplares.
Este ensaio mostra
por que forma os comunistas se valem do diálogo para debilitar sub-repticiamente
a resistência ideológica de seus adversários, e especialmente a dos católicos.
O assunto aí versado é por demais sutil e extenso para sequer ser resumido
aqui. Uma das observações mais importantes de ordem prática contidas
nesse estudo é que, por meio do falso diálogo, os comunistas não visam tanto
alcançar dos católicos que renunciem explicitamente à Fé, mas que aceitem
uma interpretação relativista e evolucionista da doutrina católica. Assim,
corrompe-se a Fé, que por sua natureza exige uma certeza incompatível com
o estado de dúvida inerente ao relativismo e ao evolucionismo. E, alcançado
esse resultado, não é difícil à propaganda comunista induzir os católicos
a esperar do diálogo com o comunismo o encontro de uma síntese... a qual
bem poderia ser, em último termo, o mesmo comunismo com outra roupagem.
A
Igreja ante a escalada da ameaça comunista Apelo aos Bispos silenciosos
Em 1976 publiquei
o livro intitulado A Igreja ante a escalada da ameaça comunista Apelo
aos Bispos silenciosos[*]. Constitui esse meu trabalho uma análise marcadamente
doutrinária das posições então assumidas pela Hierarquia eclesiástica no
Brasil, em favor do comunismo. A pregação claramente pró-comunista de D.
Pedro Casaldáliga, Bispo de São Félix do Araguaia, por exemplo.
[*] Dado a lume
em junho de 1976, o livro alcançou quatro edições (duas em 1976 e outras
duas em 1977), num total de 51 mil exemplares, vendidos por sócios e cooperadores
da TFP em 1.700 cidades de 24 Unidades da nossa Federação.
No livro, mostro
a imensa transformação que se operou no seio do Episcopado nacional, adversário
ferrenho do marxismo até os idos de 1948. Precisamente por essa época, começou
uma rotação para a esquerda do Episcopado. A nova orientação recebeu grande
impulso quando, em 1952, com a formação da CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil), D. Helder Câmara foi eleito o primeiro secretário-geral
desse organismo. Os frutos dessa rotação foram os padres de passeata ,
as freiras de mini-saia e os líderes católico -esquerdistas,
que apoiaram as agitações comuno-janguistas.
Após 1964, deu-se
um expurgo de comunistas em numerosas instituições brasileiras. Os meios
católicos, entretanto, permaneceram incólumes. Com isso, as tendências esquerdistas
se refugiaram neles. E, assim protegidas, medraram de modo impressionante,
a ponto de mais de uma figura do Episcopado nacional se ter transformado por
ação ou por omissão em valioso esteio dos que se esforçam para comunistizar
o Brasil.
Formulei no livro
um apelo veemente aos Bispos silenciosos para que falassem. Eram
eles numerosos e dispunham de prestígio suficiente para salvar o Brasil se
simplesmente dessem ampla difusão entre os fiéis dos numerosos documentos
pontifícios sobre o assunto.
Paralelamente
a essa triste evolução do Episcopado, mostrei a luta toda ela legal
e doutrinária que, em prol da Igreja e da civilização cristã, vem
sendo travada por um grupo de católicos fiéis que se reuniu inicialmente
em torno do Legionário, depois de Catolicismo , e hoje,
já muito avolumado, constitui a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição,
Família e Propriedade TFP.
Esse trabalho
eu o quis publicar como estudo introdutório a uma condensação de La Iglesia
del Silencio en Chile La TFP proclama la verdad entera , brilhante best-seller publicado em janeiro de 1976 pela TFP chilena.
Pois existe entre ambos os trabalhos íntima afinidade. Tal afinidade resulta
da semelhança de situações entre o Brasil e o Chile no que concerne à atuação
da Hierarquia eclesiástica. Lá, ainda mais claramente do que aqui, a maior
parte do Episcopado (e não apenas setores dele, como no Brasil) trabalhou
pela comunistização do país, como prova com abundância de documentos o referido
livro chileno. E isto tanto pela preparação da ascensão de Frei, o Kerensky chileno [*], e posteriormente de
Allende à presidência da República, quanto pelo apoio que os Bispos deram
a este último durante seu nefasto governo, como ainda pelo esforço que desenvolveram
após sua queda, no sentido de fazer retroceder o país irmão para as malhas
do comunismo.
[*] Sobre o sentido
comunistizante da atuação do ex-presidente do Chile, Eduardo Frei, e da Democracia-Cristã chilena,
veja-se Frei, o Kerensky chileno , de Fábio Vidigal Xavier da Silveira.
Publicado pela primeira vez em 1967 por Catolicismo (n° 178/179), teve dez edições, sendo duas
em português, sete em espanhol (três na Argentina, uma na Colômbia, uma no
Equador e três na Venezuela) e uma em italiano. Teve, também, duas tiragens
em Catolicismo (Brasil) e três em Cruzada (Argentina).
O diário La Verdad, de Caracas, o transcreveu na íntegra, e excertos
apareceram em outros três jornais da mesma cidade. O total dessas edições é de
128.800 exemplares.
É bem de ver que,
com a ascensão de João Paulo II ao sólio pontifício, em 1978, todo este processo
passou por importantes transformações, as quais implicam em ajustes não pequenos
nesse quadro, para se descrever como ele atualmente se apresenta.
Tribalismo
indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI
Para o estruturalismo ,
cujo expoente máximo foi o filósofo Lévy Strauss, a sociedade indígena, por
ter resistido à História , é a que mais se aproxima do
ideal humano. E é para essa forma de vida pré-neolítica que segundo
essa corrente filosófica devemos retornar.
Se causa espanto
que filósofos ateus defendam teses tão absurdas, mais ainda deve estarrecer
que missionários católicos propugnem como padrão perfeito de homem o índio
selvático, e como modelo ideal de vida humana a vida na taba.
Não obstante, é bem
isto o que acontece. Uma nova corrente missiológica, com livre trânsito nos
meios eclesiásticos, sustenta que a civilização atual deve desaparecer, para
dar lugar ao sistema de vida tribal. Institutos como a propriedade privada,
a família monogâmica e o casamento indissolúvel devem ser eliminados. A figura
clássica dos missionários evangelizadores e civilizadores ,
como o foram os Padres José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, deve ser abandonada.
A nova corrente missiológica, porque não quer civilizar, não quer catequizar.
E porque não quer catequizar, também não quer civilizar.
Insinua-se nessa
conduta uma questão tática. Se a missiologia atualizada elogiasse
a comunidade de bens implantada nos países comunistas, expor-se-ia inevitavelmente
a críticas e refutações incômodas.
Esquivando o perigoso
assunto, os novos missionários fazem a apologia do sistema de vida tribal:
exalçam nele a comunidade de bens, a inexistência de lucro, de capital, de
salários, de patrões e empregados, de privilegiados e marginalizados,
de opressores e oprimidos, como dizem. E assim aproveitam
a ocasião para invectivar a propriedade privada, em vigor nas nações civilizadas
do Ocidente.
O efeito concreto
dessa tática é que o elogio torrencial da nova missiologia à propriedade
comum, vigente nas tribos indígenas, nem de longe levantou entre nós a celeuma
que a apologia direta das sociedades comunistas de além cortina de ferro
certamente despertaria.
Não cabe entretanto
a menor dúvida. É bem uma sociedade de tipo comunista que transparece nessa
visão idílica do índio selvático, apresentada pela neomissiologia como ideal
para o homem do século XXI.
O maior problema
suscitado por esses delírios não está nos próprios missionários nem nos índios,
cumpre repetir. Está em saber como, na Santa Igreja Católica, pôde esgueirar-se
impunemente essa filosofia, intoxicando seminários, deformando missionários,
desnaturando missões. E tudo com tão forte apoio de certa retaguarda eclesiástica.
Tribalismo
indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI foi o livro que publiquei no final de 1977,
para dar a conhecer aos brasileiros essa faceta inesperada da crise na
Igreja.
Catolicismo o
publicou em primeira mão (n° 323/324, de novembro-dezembro de 1977). Ainda
em dezembro de 1977, a Editora Vera Cruz lançou a primeira edição em forma
de livro, e depois mais seis edições, totalizando 76 mil exemplares.
O
católico pode e deve ser contra a Reforma Agrária
A CNBB constitui
um órgão oficial do Episcopado brasileiro. Assim sendo, seus pronunciamentos
devem ser recebidos normalmente pelos católicos como representando o pensamento
da Igreja.
Não podia portanto
deixar de causar a maior perplexidade entre os fiéis a publicação, ao final
da reunião plenária do provecto organismo eclesiástico, em 1980, na habitual
fazenda de Itaici, do documento Igreja e problemas da terra (IPT).
Verdadeiro manifesto agro-reformista, o documento da CNBB procurava suscitar
a ofensiva geral do País contra as propriedades rurais grandes e médias.
Ademais, sugeria às autoridades governamentais medidas concretas para a imediata
efetivação da partilha rural.
Este fato criava
gravíssima questão de consciência, não apenas para os fazendeiros, mas também
para todos os católicos formados segundo a doutrina tradicional da Igreja,
bem como para os homens de pensamento e de ação existentes no País. Essas
três amplas e ponderáveis categorias de brasileiros muito explicavelmente
poderiam se perguntar qual a efetiva validade magisterial de tantas afirmações,
novas e singulares, contidas no IPT. E qual a autoridade dos argumentos doutrinários
do IPT para lançar tão hirsutas e explosivas asseverações.
Estava no papel
da TFP romper o silêncio e dar a resposta a essas perguntas. Ela o fez por
meio do livro Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária? (1981,
360 pp., 4 edições, 29 mil exemplares), de minha autoria, em colaboração
com o Master of Science em
Economia Agrária (pela Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA), Prof.
Carlos Patricio del Campo.
O livro demonstra
que o católico deve ser fiel, acima de tudo, aos ensinamentos tradicionais
do Supremo Magistério da Igreja. Ora, um exame detido do IPT leva à conclusão
de que não há consonância entre aqueles ensinamentos e a Reforma Agrária
preconizada pelo documento da CNBB. Em conseqüência, o católico anti-agro-reformista
tem não só o direito, como também o dever de continuar contrário à Reforma
Agrária.
A parte econômica
da obra prova que o documento da CNBB apresenta graves lacunas, ao traçar
o panorama da situação econômica da lavoura brasileira e ao apontar para
a solução: a Reforma Agrária que pleiteia. Assim, ainda que o
pronunciamento episcopal não fosse objetável do estrito ponto de vista da
doutrina católica, seria inaceitável do ângulo econômico.
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