Auto-retrato filosófico de Plinio Corrêa de Oliveira
22/07/2004
Plinio Correa de Oliveira
O
socialismo autogestionário em vista do comunismo: barreira ou cabeça de
ponte?
O título em epígrafe
constitui ampla exposição e análise crítica do programa autogestionário de
Mitterrand, então recém-eleito Presidente da República Francesa. Esse trabalho,
redigido por mim — endossado e divulgado em nome próprio pelas treze
TFPs então existentes –, foi estampado a partir de dezembro de 1981
na íntegra em 45 diários de maior circulação de 19 países da América, Europa
e Oceania. Um substancioso resumo do mesmo foi publicado em 49 países dos
cinco continentes, em treze idiomas. Assim, a difusão do documento atingiu
uma tiragem total de 33,5 milhões de exemplares.
Para aquilatar
o alcance do mencionado estudo, é preciso ter em conta que, no período que
precedeu a primeira eleição do Presidente François Mitterrand, a expressão – socialismo
autogestionário correspondeu a uma espécie de primavera propagandística mundial,
de maneira a tornar-se moda nos ambientes da esquerda.
Todo intelectual
que se quisesse mostrar aggiornato , isto é, em dia, dizia-se socialista
autogestionário .
Tal se devia ao
fato de que as palavras “socialismo” e “socialista” estavam
em franco processo de envelhecimento, o qual se tratava de sustar mediante
um disfarce qualquer. Algo à maneira de uma senhora cujos cabelos estão branqueando,
e que por isso procura tingi-los.
Assim, o socialismo,
velho de tantas e tantas décadas, e já com o prateado de sua velhice estampado
nos cabelos, refazia seu semblante chamando-se autogestionário . Era
o modo de revitalizar-se e rejuvenescer.
A denúncia mundial
contra o socialismo autogestionário foi de tal porte que as palavras autogestão e autogestionário saíram de moda. E o socialismo não pôde, em
seu processo de envelhecimento, continuar a recorrer à tintura que entretanto
lhe estava proporcionando tão bons resultados propagandísticos.
De lá para cá,
só obteve escassos sucessos...
Pior, o fato concreto é que
o processo de envelhecimento chegou ao ponto em que, hoje em dia, o socialismo é declarado
decrépito pelos seus próprios dirigentes e partidários.
Uma sumária crônica
dos fatos posteriores à publicação da referida análise, de minha autoria,
atesta o que dissemos.
1. Com efeito, em 12 de dezembro de 1981 (ou seja,
três dias após a publicação do mencionado documento), um prestigioso quotidiano
de língua inglesa editado em Paris pelo “New York Times” e pelo “Washington
Post”, o “International Herald Tribune”, difundido no mundo
inteiro, assim descreveu a reação do governo socialista francês face à aludida
análise a respeito do Projeto Socialista para a França dos anos 80 : ”Em
Paris, fontes governamentais autorizadas disseram que não estavam preparadas
para reagir a esta publicação, mas que a estavam estudando. ‘Absolutamente
não há pânico, e estamos bem mais interessados em saber quem ou o que se
encontra por detrás desta publicação’, declarou quinta-feira um porta-voz
do Eliseu, acrescentando que ‘mais tarde’ poderia haver alguma
reação” . Reação esta que em vão se esperaria, pois que não houve.
2. Convém recordar o que afirmava o referido Projeto
Socialista para a França dos anos 80 : ”Não pode haver um
Projeto Socialista só para a França. O dilema ‘liberdade ou servidão’, ‘socialismo
ou barbárie’ ultrapassa as fronteiras de nosso País .... O socialismo é internacional,
por natureza e por vocação .... A França ou é uma aspiração coletiva,
ou ela simplesmente não é .... Imensas possibilidades existem para um
país como o nosso .... de levar alto e longe, na Europa e no mundo, a
mensagem universal do socialismo” (cfr. –Projet
socialiste pour la France des années 80, Club Socialiste du Livre, Paris,
maio de 1981, pp. 18, 108, 126, 164).
Igualmente é oportuno
lembrar que os socialistas da velha guarda se ufanavam de sua filiação
marxista. Assim, escrevia em 1980 o ex-Primeiro-Ministro Pierre Mauroy: – “Permanecemos
fiéis ao espírito do marxismo” (cfr. Documentation Socialiste ,
suplemento n° 2).
3. Em dezembro de 1991 – ou seja, depois de
10 anos de fracassadas tentativas do governo socialista de aplicar seu –Projet — em
congresso extraordinário realizado pelo PSF no Arco da Defesa, o radical
programa de 1981 foi substituído pelo anódino Novos Horizontes .
Com
efeito, pode-se ler nesse novo projeto: – “Na verdade, o empobrecimento
das classes operárias, previsto por certa análise marxista, não se produziu.
O nível de vida, na França, foi quadruplicado entre 1950 e 1990 .... Já não
se trata, como ocorria no que concerne à antiquada autogestão (sic!), de
eliminar os empresários para substituí-los por dirigentes designados pelo
Estado ou eleitos pela base .... Os representantes dos assalariados não
devem substituir os chefes na direção da empresa .... A força do mercado
está em ser insubstituível .... Todas as tentativas de substituí-lo acabaram
por fracassar .... O socialismo reivindica e quer outra organização do
Planeta, mas esta deverá desenvolver-se no contexto de um capitalismo mundializado” (cfr.
Michel Charzat, –Un nouvel Horizon, pp. 94, 96 e 97).
4. Em outubro de 1992, a ministra da Habitação
francesa, Marie-Noèlle Lienemann declarou: “O
Partido Socialista acabou. Nós temos que criar uma nova estrutura, um novo
partido” (cfr. “Folha de S. Paulo”, 22-10-92).
Tais
declarações equivalem a um verdadeiro atestado de óbito do sonho autogestionário
dos socialistas franceses [*].
[*] Nota da redação — O
leitor desejoso de conhecer mais pormenores sobre mais este eficaz e salutar
documento do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira — e isto em nível internacional –,
se verá plenamente atendido consultando o livro Um homem, uma obra, uma
gesta (pp. 286 a 297).
CEBs:
instrumento da esquerda católica para reformar o Brasil num sentido socializante
Uma corrente teológica
dita ”da libertação” , explicitada pelos teólogos Gustavo
Gutiérrez e Hugo Assmann e impulsionada pela Conferência do Episcopado Latino-americano
de Medellin, em 1968, se expandiu largamente em círculos teológicos de todo
o mundo. Ela procura fundamento na Sagrada Escritura para erros veiculados
por duas correntes doutrinárias distintas, mas intimamente conjugadas entre
si: uma constituída pelo progressismo no
campo da Teologia, da Filosofia e da Moral, com os conseqüentes reflexos
entre os estudiosos do Direito Canônico, da História Eclesiástica etc. E
a outra pelo esquerdismo no
campo da sociologia católica, também com reflexos conseqüentes nos estudos
de Economia e de Política promovidos sob a influência católica, bem como
na vida, no pensamento e na ação das correntes políticas denominadas democratas-cristãs , socialistas
cristãs , socialistas católicas , etc.
A doutrina da
Teologia da Libertação foi condenada em vários de seus aspectos por João
Paulo II, em sua Alocução de Puebla (1979). Não obstante, ela continuou a
se expandir tranqüilamente por todo o Brasil.
As potencialidades
de ação suscitadas ou estimuladas pelo progressismo pedem, por sua própria
natureza, uma organização que dê, no plano concreto, unidade de metas e de
métodos aos clérigos e fiéis engajados no empreendimento de reformar o
Brasil num sentido socializante.
Esta organização é constituída
pelas CEBs.
Para alertar o
Brasil contra essa ameaça, os irmãos Gustavo Antonio Solimeo e Luiz Sérgio
Solimeo, e eu escrevemos o livro intitulado As CEBs... das quais muito
se fala, pouco se conhece — A TFP as descreve como são .
Na primeira parte,
mostro como as CEBs são o instrumento da esquerda católica para semear o
descontentamento na população (especialmente entre os trabalhadores manuais),
transformar em seguida o descontentamento em agitação e, através dessa agitação,
impor aos Poderes Públicos a tríplice Reforma: Agrária, Urbana e Empresarial.
Tudo isso, muito provavelmente, com vistas a instituir no Brasil um regime
socialista autogestionário.
A Parte II da
obra informa o público brasileiro sobre a realidade das CEBs — a doutrina
disseminada por estas, sua organização, seus métodos para recrutamento de
aderentes, e para a ação dos mesmos aderentes sobre o conjunto do corpo social.
Para este efeito, os autores dessa parte da obra foram colher os dados, por
assim dizer, dos próprios lábios daquelas organizações, isto é, dos escritos
em que elas se autodefinem para seus aderentes e para o público. Completam
as informações assim coligidas, outras notícias de jornais e revistas inteiramente
insuspeitos de distorcer os fatos em detrimento das CEBs.
A partir de agosto
de 1982, sócios e cooperadores da TFP encarregaram-se da difusão da obra
por todo o Brasil – 1510 cidades foram visitadas pelas beneméritas caravanas
de propagandistas da TFP — tendo-se escoado 6 edições do livro, num
total de 72 mil exemplares.
A
propriedade privada e a livre iniciativa, no
tufão agro-reformista
Com a inesperada
doença e em seguida a morte do presidente eleito, Tancredo Neves, e a ascensão à Presidência
da República do Sr. José Sarney, em 15 de março de 1985 inaugurou-se no Brasil
a Nova República. Veio ela disposta a levar avante a Reforma Agrária, encalhada
desde o Estatuto da Terra, promulgado em novembro de 1964 pelo Governo Castelo
Branco.
Concomitantemente,
o País estava sendo tumultuado por invasores de propriedades individuais,
os quais procuravam justificar suas investidas tomando por base uma fundamentação
doutrinária de aparência católica.
Nesse momento
em que o País ia entrando numa fase de grandes controvérsias sobre matérias
doutrinárias, técnicas e outras, que marcavam a fundo o desempenho da Nova
República, publiquei o livro A propriedade privada e a livre iniciativa,
no tufão agro-reformista. Nele analiso, item por item, o Plano Nacional
de Reforma Agrária (PNRA), então lançado pelo Governo federal. Como sempre,
tomo como base doutrinária os ensinamentos do Supremo Magistério da Igreja,
na defesa da propriedade privada e da livre iniciativa — e das respectivas
funções sociais — gravemente feridas pelo PNRA.
Em ampla campanha
de esclarecimento da opinião pública acerca da Reforma Agrária, 52 duplas
de propagandistas da TFP e quatro caravanas de sócios e cooperadores da entidade
percorreram 694 cidades em 19 Unidades da Federação, fazendo escoar duas
edições do livro, num total de 16 mil exemplares, e mais 30 mil exemplares
de uma edição especial de Catolicismo (n° 415-416, de julho-agosto de 1985), com
excertos do livro.
Nessa verdadeira
epopéia anti-agro-reformista, os propagandistas da TFP contactaram então
mais de dez mil fazendeiros de norte a sul do Brasil.
Guerreiros
da Virgem: a réplica da autenticidade — A TFP sem segredos
Toda a luta que
venho desenvolvendo contra a Revolução não ficaria adequadamente descrita
se não mencionasse a contra-ofensiva dos adversários, que se segue a cada
lance maior desse combate.
Enveredar pela
narração pormenorizada de tal contra-investida seria alongar em demasia este
auto-retrato filosófico. Restrinjo-me a um exemplo típico.
Apenas oito dias
após seu primeiro lance na batalha anti-agro-reformista que acaba de ser
descrita, a TFP era objeto de uma investida publicitária em matéria alheia à controvérsia
agrária: uma reportagem publicada em “O Estado de S. Paulo”, ocupando
página inteira, sob o título Guerreiros da Virgem, escravos da TFP .
Tal reportagem
fora precedida por vistosa propaganda publicada durante todos os dias da
semana anterior.
Fazendo eco à publicidade
de “O Estado de S. Paulo”, 29 outros jornais e revistas de todo
o País divulgaram matérias de variadas extensões, com esse mesmo conteúdo.
O eixo de toda
a celeuma era o livro Guerreiros da Virgem — A vida secreta da TFP ,
pouco depois colocado à venda nas livrarias de São Paulo e de outras cidades
do Brasil. Seu autor, o Sr. José Antonio Pedriali, fora cooperador da entidade,
e agora integrava o quadro de jornalistas de “O Estado de S. Paulo”.
Para condensar
numa única frase todo o extenso corpo de acusações do Sr. J.A.P., pode-se
dizer que, segundo ele, a TFP seria uma seita de
caráter iniciático que, por meio da lavagem cerebral , produz efeitos
altamente danosos sobre seus sócios e cooperadores.
Tão pesadas acusações
eram feitas em tom de uma aparente naturalidade, quase sorridente. Ao mesmo
tempo, o livro inclui descrições tão cruamente imorais, e até tão obscenas,
de lances da conduta do autor em seu processo de afastamento da TFP, que
poderiam figurar na farta literatura pornográfica atualmente em curso no
País.
Tudo isto vinha à tona,
como foi dito, no preciso momento em que a TFP se erguia mais uma vez contra
a Reforma Agrária socialista e confiscatória. Procurava-se inculcar no público
uma nova imagem da entidade: a TFP não seria... anticomunista! Não seria
o que todo o povo brasileiro sabe que, desde sua fundação, ela é de modo
ininterrupto, notório e heróico. Seria, pelo contrário, uma seita obscura, e todo o gigantesco esforço anticomunista de seus sócios
e cooperadores não passaria de uma miragem, de um embuste.
Apesar da propaganda
estrondejante que precedeu e acompanhou o lançamento desse livro, ele nem
de longe causou o efeito que seu autor e a lançadora pareciam esperar.
”Tudo
quanto é exagerado é insignificante” – afirmou
Talleyrand. O desmesurado, o evidentemente inverossímil da acusação do
Sr. J. A. Pedriali reduziu-a liminarmente à merecida insignificância.
A resposta da
TFP a essas acusações constou do livro que escrevi, Guerreiros da Virgem:
a réplica da autenticidade — A TFP sem segredos (Editora
Vera Cruz, São Paulo, 1985, 333 pp.). Nele aponto as manipulações que se
têm feito da palavra seita , com vistas a denegrir as entidades que,
como a TFP, levantem obstáculos ao processo revolucionário. Ali mostro, também,
que lavagem cerebral é uma expressão jornalística que os cientistas de bom quilate não
levam a sério.
Como de hábito, à réplica
da TFP seguiu-se o silêncio dos adversários, que nada encontraram para treplicar.
Na verdade, as
batalhas da TFP, nas quais, como é óbvio, me encontro pessoalmente envolvido,
caracterizam-se por um ritornello : 1°) a uma campanha nossa segue-se
uma contra-ofensiva dos adversários sobre um ponto extrínseco ao tema da
campanha; 2°) a TFP refuta as acusações dos adversários e estes se calam;
3°) tempos depois (às vezes anos), os adversários (os mesmos ou outros) voltam às
acusações iniciais, como se nada houvesse sido refutado!...
25
anos de luta contra o agro-socialismo confiscatório
A Nova República
prosseguia no seu esforço inglório de implantar no Brasil o agro-socialismo
confiscatório. A TFP, sempre atenta, acompanhava de perto cada lance.
Em 1986, a meu
pedido, o conhecido Master of Science em
economia agrária, Carlos Patricio del Campo, sócio efetivo da TFP brasileira,
escreveu o livro Is Brazil Sliding Toward the Extreme Left? – Notes
on the Land Reform Program in South America’s Largest and Most Populous
Country , que a TFP norte-americana lançou em Washington, em outubro
de 1986. Receberam o livro os principais centros de decisão norte-americanos:
todos os membros de primeiro e segundo escalão do Governo dos Estados Unidos;
todos os senadores e deputados, embaixadores norte-americanos; bancos internacionais
com sede nos Estados Unidos, centenas de intelectuais conservadores, brazilianists e 1.100 jornalistas.
A obra apresenta
penetrante análise da realidade sócio-econômica brasileira, solidamente baseada
em estatísticas insuspeitas. Os prestidigitadores da fome e da miséria, os
quais, sob esse pretexto, queriam impingir ao País uma Reforma Agrária socialista
e confiscatória, ficavam, assim, privados de sua insustentável argumentação.
No prefácio do
livro descrevo, em rápidas pinceladas, o Brasil real, em confronto com o
quadro profundamente pessimista e tendencioso apresentado pela propaganda
esquerdista no Exterior.
Entrementes, a
TFP se preparava para entrar em nova campanha, desta vez para divulgar o
livro de minha autoria, No Brasil, a Reforma Agrária leva a miséria ao
campo e à cidade — A TFP informa, analisa, alerta (Editora
Vera Cruz, São Paulo, 64 pp.), no qual faço um balanço de 25 anos de luta
contra o agro-socialismo confiscatório, e incito os fazendeiros e produtores
rurais a não se deixarem embair pelo velho slogan agro-reformista ceder para não perder , alertando-os para
o fato de que a irresolução deles era a primeira condição de êxito da investida
agro-reformista.
Da obra foram
feitas quatro edições, num total de 55 mil exemplares, vendidos diretamente
ao público em campanhas de rua, pelos propagandistas da TFP.
Rumo à socialização
integral do País: uma Constituição que a maioria da população não quer
Dado que o modelo
de democracia-direta – que vigiu, por exemplo, nos Estados
de dimensões municipais da Antigüidade helênica — é impraticável nos
Estados contemporâneos, devido à amplitude de sua população e de seu território,
a democracia se exerce neles de modo indireto , ou seja, representativo .
Assim, os cidadãos
elegem representantes, que votam as leis e dirigem o Estado segundo as intenções
do eleitorado. É democracia representativa .
A relação entre
o eleitor e o candidato por ele sufragado é, em essência, a de uma procuração.
O eleitor confere ao candidato a deputado ou senador de sua preferência um
mandato, para que exerça o Poder Legislativo segundo o programa que este
deve expor normalmente ao conhecimento da opinião pública durante a campanha
eleitoral.
Análogas afirmações
cabem quanto às eleições para o preenchimento de vagas no Poder Executivo.
Em conseqüência
de quanto fica aqui exposto, a autenticidade do regime democrático repousa
por inteiro sobre a autenticidade da representação.
É isto óbvio.
Pois, se a democracia é o governo do povo, ela só será autêntica se os detentores
do Poder Público (tanto o Executivo como
o Legislativo ) forem escolhidos e atuarem segundo os métodos e tendo
em vista as metas desejados pelo povo.
Se tal não se
dá, o regime democrático não passa de uma vã aparência, quiçá de uma fraude.
Tal problema se
colocava de modo agudo para os brasileiros que tinham sido chamados a eleger,
em 15 de novembro de 1986, parlamentares que formariam a futura Assembléia
Nacional Constituinte.
Realizado o pleito
eleitoral, impunha-se fazer um estudo que versasse ao mesmo tempo sobre a
representatividade da Constituinte então eleita e sobre o Projeto de Constituição
que ela estava elaborando.
O resultado desse
estudo foi o livro Projeto de Constituição angustia o País , que concluí em
outubro de 1987, e que foi oferecido a todos os Constituintes como contribuição
para evitar o funesto desfecho que se podia vislumbrar ante o eventual divórcio
do novo texto constitucional em relação ao pensamento majoritário da Nação.
Na Parte I desse
trabalho analiso os requisitos para a representatividade de uma eleição.
Faço aí a distinção entre políticos-profissionais e profissionais-políticos , e mostro
como o ingresso destes últimos na vida pública, como representantes autênticos
das mais variadas profissões ou campos de atividade, enriqueceria o quadro
político do País.
Nisso estaria,
a meu ver, o meio para desfazer o alheamento do eleitorado (manifestado pela
surpreendente porcentagem de abstenções, votos brancos e nulos) e sanar a
carência de representatividade da Constituinte, melancólico resultado da eleição-sem-idéias de 1986 (Parte II).
A essa carência
de representatividade congênita veio somar-se outra, decorrente do funcionamento
tumultuado e anômalo da própria Constituinte, em que as inautenticidades
se sucediam em cadeia: 1°) o Plenário da Constituinte era menos conservador
do que o eleitorado; 2°) as Comissões temáticas eram mais esquerdistas que
o Plenário; 3°) a Comissão de Sistematização (que coordenava o trabalho preparado
pelas Comissões temáticas) apresentava a maior dose de concentração esquerdista
da Constituinte. Assim, uma minoria esquerdista ativa, articulada, audaciosa,
ameaçava arrastar o País por rumos não desejados pela maioria
da população
(Parte III).
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