Auto-retrato filosófico de Plinio Corrêa de Oliveira
22/07/2004
Plinio Correa de Oliveira
Esta última,
eu a tenho exercido num campo muito definido: a difusão doutrinária, feita
ora com o caráter de diálogo, ora por mais que a noção e a palavra
pareçam anacrônicas, sinto todo o desembaraço ao fazer o presente depoimento também
de polêmica.
O
ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido
de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução .
As
grandes transformações históricas resultam da atitude do espírito humano
perante a Religião e a Filosofia
Um
dos pressupostos desse ensaio é que, ao contrário do que pretendem tantos
filósofos e sociólogos, o curso da História não é traçado exclusiva ou
preponderantemente pelas injunções da matéria sobre o homem. Estas influem,
sem dúvida, no agir humano. Mas a direção da História pertence ao homem,
dotado que é de uma alma racional e livre. Em outros termos, é ele que,
atuando ora mais profundamente, ora menos, sobre as circunstâncias em que
se encontra, e recebendo também, em medida variável, as influências destas,
comunica aos acontecimentos o seu curso.
Ora,
o agir do homem se faz normalmente em função de suas concepções sobre o
universo, sobre si mesmo e sobre a vida. Isto importa em dizer que as doutrinas
religiosas e filosóficas dominam a História, e que o núcleo mais dinâmico
dos fatores de que resultam as grandes transformações históricas está nas
sucessivas atitudes do espírito humano perante a Religião e a Filosofia.
Civilização
cristã: em inteira consonância com os princípios básicos e perenes da lei
natural e da Lei de Deus
Passo
a outro pressuposto de Revolução e Contra-Revolução . Uma concepção
católica da História deve levar em toda conta o fato de que a Lei Antiga
e a Lei Nova contêm em si não só os preceitos segundo os quais o homem
deve modelar sua alma na imitação de Cristo, preparando-se desse modo para
a visão beatífica, como também as normas fundamentais do procedimento humano,
conformes à ordem natural das coisas.
Assim,
ao mesmo tempo que o homem se eleva na vida da graça, vai, pela prática
da virtude, elaborando uma cultura, uma ordem política, econômica e social,
em inteira consonância com os princípios básicos e perenes da lei natural
e da Lei de Deus. É o que se chama a civilização cristã.
É óbvio
que a boa disposição das coisas terrenas não se cifra exclusivamente a
esses princípios básicos e perenes, e comporta muito de contingente, transitório
e livre. A civilização cristã abrange uma incalculável variedade de aspectos
e matizes. É isto tão verdadeiro que, de certo ponto de vista, se pode
até falar em civilizações cristãs , e não apenas em civilização
cristã . Não obstante, dada a identidade dos princípios fundamentais
inerentes a todas as civilizações cristãs, a grande realidade que paira
por cima de todas elas é uma possante unidade que merece o nome de civilização
cristã por antonomásia. A unidade
na variedade, e a variedade na unidade, são elementos de perfeição. A civilização
cristã continua una em toda a variedade de suas realizações, de maneira
a poder-se dizer que, no sentido mais profundo da palavra, há uma só civilização
cristã. Mas ela é tão prodigiosamente vária em sua unidade que, com uma
legítima liberdade de expressão, se pode afirmar, sob certo ponto de vista,
existirem várias civilizações cristãs.
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