Auto-retrato filosófico de Plinio Corrêa de Oliveira
22/07/2004
Plinio Correa de Oliveira
Dado
este esclarecimento que aliás vale analogamente para o conceito
de cultura católica observo que empregarei as expressões civilização
cristã e cultura cristã no
seu sentido maior , que é o da unidade.
Dispenso-me
de fundamentar as asserções acima em textos de Santo Tomás ou do Magistério
da Igreja, pois são eles tão numerosos e tão do conhecimento dos que com
seriedade estudam esses assuntos, que o trabalho resultaria ao mesmo tempo
fastidioso e supérfluo. Esta observação vale também para mais algumas considerações
que se seguirão nesta primeira parte da presente exposição.
Em
função destes pressupostos é fácil definir o papel da Igreja e da civilização
cristã na História.
As
nações só podem alcançar a civilização perfeita mediante a correspondência à graça
e à Fé
É certo
que, embora o homem possa conhecer com firme certeza e sem eiva de erro
aquilo que nas coisas divinas não é de per si inacessível à razão humana
[*], dado o pecado original é impossível ao homem praticar duravelmente
a Lei de Deus. É só por meio da graça que tal se lhe torna possível. Ainda
assim, para acautelar o homem contra sua própria maldade e sua própria
fraqueza, Jesus Cristo dotou a Igreja de um Magistério infalível, que lhe
ensinasse sem erro, não só as verdades religiosas, como também as verdades
morais necessárias à salvação.
[*]
Cfr. Denzinger-Schoenmetzer , 33ª ed., n° 3005.
A
adesão do homem ao Magistério da Igreja é fruto da Fé. Sem a Fé não pode
o homem praticar durável e integralmente os Mandamentos.
Daí resulta
que as nações só podem alcançar a civilização perfeita, que é a civilização
cristã, mediante a correspondência à graça e à Fé, o que inclui um firme
reconhecimento da Igreja Católica como única verdadeira, e do Magistério
eclesiástico como infalível.
Assim,
o ponto chave mais profundo e mais central da História consiste em que
os homens conheçam, professem e pratiquem a Fé católica.
Dizendo-o,
não nego evidentemente que tenha havido civilizações não cristãs de alto
teor. Todas elas, entretanto, foram desfiguradas por estes ou aqueles traços
que destoaram chocantemente da própria elevação que sob outros aspectos
apresentavam. Basta recordar a enorme extensão da escravatura e a condição
vil imposta à mulher antes de Jesus Cristo. E nenhuma civilização houve
que apresentasse a perfeição excelsa inerente à civilização cristã.
Igualmente
não contesto que, em países de população prevalentemente cismática ou herética,
a civilização possa conter importantes traços de tradição cristã. Entretanto,
a plenitude da civilização cristã, só da Igreja Católica pode florescer
e só em povos católicos pode conservar-se cabalmente.
Tempo
houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados...
Mas perguntará alguém quando
existiu historicamente essa civilização cristã perfeita? Será a perfeição
realizável nesta vida?
A
resposta a estas perguntas chocará e irritará muitos leitores. Sem embargo,
devo afirmar que houve tempo no qual uma larga parte da humanidade conheceu
esse ideal de perfeição e para ele tendeu com fervor e sinceridade. Em
conseqüência dessa tendência das almas, os traços fundamentais da civilização
se tornaram tão cristãos quanto o permitiram as circunstâncias de um mundo
que se ia soerguendo da barbárie. Refiro-me à Idade Média, da qual, a despeito
desta ou daquela falha, Leão XIII escreveu com eloqüência: Tempo
houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época,
a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis,
as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as
relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo,
solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda
parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima
dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si
por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada
assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, cuja
memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos
que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer [*].
[*]
Encíclica Immortale Dei de 1° de novembro de 1885, Bonne Presse, Paris,
vol. II, p. 39.
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