Auto-retrato filosófico de Plinio Corrêa de Oliveira
22/07/2004
Plinio Correa de Oliveira
Outros
julgaram mais hábil, para detê-la, usar a sua linguagem e as suas técnicas,
e investir contra alguns dos abusos inegáveis que a própria Revolução denunciava.
Procuraram assim tirar-lhe os pretextos . Ora, combater abusos é sempre
meritório; mas quanta ingenuidade havia em imaginar que a força da Revolução
estava sobretudo na indignação causada por certos abusos contra os quais
ela bradava! A História provou a falência dessa tática. Certos abusos existentes
ainda há algumas décadas foram de tal modo corrigidos na Europa, que Pio
XII pôde dizer ao Katholikentag de Viena: Diante do
olhar da Igreja se apresenta hoje em dia a primeira época das lutas sociais
contemporâneas. Em seu âmago dominava a questão operária: a miséria do
proletariado e o dever de elevar esta classe de homens, entregue sem defesa às
incertezas da conjuntura econômica, até a dignidade das outras classes
da cidade, dotadas de direitos precisos. Este problema pode ser hoje em
dia considerado como resolvido, ao menos nas suas partes essenciais, e
o mundo católico contribuiu para esta solução de modo leal e eficaz [*].
Entretanto, a Revolução continua a rugir, mais ameaçadora do que nunca.
[*]
Pio XII, Radiomensagem de 14 de setembro de 1952, Discorsi e Radiomessaggi
di Sua Santità Pio XII , Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. XIV,
p. 313.
Assim,
sem negar o caráter meritório de tantos movimentos de sentido contra-revolucionário
no passado ou no presente, sem negar também o que há de benemérito na luta
contra injustiças que a atual ordem de coisas apresenta, parece-me que
a grande necessidade de nossos dias é assinalar os erros metafísicos fundamentais
da Revolução e a coesão íntima existente entre esses três vagalhões que
se jogaram sucessivamente contra a Cristandade ocidental: numa primeira
etapa, o Humanismo, a Renascença e a Pseudo-Reforma protestante (primeira
Revolução); mais tarde, a Revolução Francesa (segunda Revolução); e, por
fim, o Comunismo (terceira Revolução).
No
terreno da ação
Este
empenho deu sentido à minha atuação como parlamentar, professor, escritor
e jornalista.
Refiro-me
aqui apenas de passagem à minha atuação como deputado pela Liga Eleitoral
Católica na Assembléia Constituinte Federal de 1934. Ela não interessa
diretamente à Enciclopédia para a qual me foi pedido escrever.
Em
minha longa atuação no magistério quer como professor de História
da Civilização no Colégio Universitário, seção anexa à Faculdade de Direito
da Universidade de São Paulo; quer como professor da mesma disciplina no
Colégio Roosevelt de São Paulo; quer como Catedrático de História Moderna
e Contemporânea na Faculdade de Filosofia de São Bento e na Faculdade de
Filosofia Sedes Sapientiae , ambas da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo as considerações que acabo de fazer nunca estiveram
ausentes de meu espírito.
Atuando
como diretor do conhecido semanário católico Legionário, órgão
oficioso da Arquidiocese de São Paulo; como um dos fundadores e secretário
da Junta Estadual da Liga Eleitoral Católica do Estado de São Paulo; como
Presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica; e também como secretário
da Federação das Congregações Marianas de São Paulo, marquei meu apostolado
pela preocupação de lutar sempre contra a Revolução. Revolução que eu não
via apenas encarnada em movimentos de esquerda, mas também em tendências
incubadas freqüentemente em movimentos do centro, e mesmo em outros que
se rotulavam de extrema-direita. Contra estes últimos, especialmente, conduzi
campanhas enérgicas, revidadas aliás com violência. As páginas do Legionário estão
cheias da polêmica que mantive contra as várias formas de fascismo e nazismo[*],
ao tempo em que esses movimentos pareciam atingir o zênite.
[*]
Nota da redação Foram publicados no Legionário (1929
a 1947) 2.936 artigos contra o nazismo e o fascismo, sendo 447 de autoria
do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, redator-chefe e diretor do dito órgão
de 12-10-29 a 8-12-29 e de 6-8-33 a 28-12-47.
Foram
publicados 55 artigos sobre o mesmo tema em Catolicismo (1951
a 1982), 6 dos quais são do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Ainda sobre
esse tema, publicou ele também 24 artigos na Folha de S. Paulo (1968
a 1982) (cfr. Um Homem, uma obra, uma gesta Homenagem das TFPs
a Plinio Corrêa de Oliveira , Edições Brasil de Amanhã, p. 39).
A
Contra-Revolução é também o que dá sentido a minha atividade como escritor.
Em
Defesa da Ação Católica : brado de alarma contra germes de laicismo, liberalismo
e igualitarismo nos meios católicos
Meu
primeiro livro foi publicado em 1943, e se intitula Em Defesa da
Ação Católica (Editora Ave Maria, São Paulo). Era ele um brado
de alarma contra germes de laicismo, liberalismo e igualitarismo que começavam
a invadir a Ação Católica[*]. Na qualidade de Presidente do ramo paulista
dessa entidade, cabia-me abrir a luta contra aqueles erros. O livro despertou
controvérsias apaixonadas. Estas não cessaram sequer quando, em 1949, recebi
a propósito do livro uma carta de louvor calorosa, enviada, em nome do
Papa Pio XII, por Mons. João Batista Montini, então substituto da Secretaria
de Estado da Santa Sé, e depois Papa Paulo VI.
[*]
Nota da redação A obra teve duas edições. A primeira, de 2.500 exemplares,
esgotou-se totalmente. Em 1983 foi publicada uma segunda edição de 2.000
exemplares, comemorativa do 40° aniversário do seu lançamento.
Em
Defesa da Ação Católica foi aplaudido em boa parte
dos setores católicos. Entretanto, em alguns ambientes continuaram
a se expandir os germes de progressismo, culminando na onda de erros
que hoje notoriamente se estende por todo o País. Os que de futuro
escreverem com imparcialidade a História da Igreja no Brasil do século
XX reconhecerão, creio eu, que a considerável resistência que o progressismo
vem enfrentando entre nós se deve, em larga medida, ao brado de alarma
de Em defesa da Ação Católica . Pois esse livro alertou, contra
o vírus incipiente do progressismo brasileiro, muitas mentalidades
que não tinham começado ainda a sofrer a ação sedutora das idéias novas.
Como
se vê, meu primeiro livro, embora de caráter doutrinário, foi escrito em
função de um importante problema concreto, já muito atual naqueles tempos.
O
mais destacado efeito de Revolução e Contra-Revolução : TFPs e entidades
afins em 26 países, nos cinco continentes
Não
se pode dizer o mesmo de Revolução e Contra-Revolução . Pelo resumo
que dele fiz acima, é fácil perceber que seu tema não se relacionava de
perto com qualquer assunto brasileiro de atualidade em 1959, ano no qual
foi publicado. O principal objetivo da nova obra foi explicitar, aos olhos
do público, o sentido doutrinário profundo do prestigioso mensário de cultura Catolicismo ,
naquela época editado em Campos (RJ) sob os auspícios do então Bispo daquela
Diocese, Dom Antonio de Castro Mayer (* 20/6/1904, +25/4/1991) [*].
[*]
Nota da redação Convém esclarecer que Dom Antonio de Castro Mayer,
em dezembro de 1982, declarou cortadas as relações que mantinha com o Prof.
Plinio Corrêa de Oliveira e com a TFP.
Em
22 de junho de 1988, Dom Mayer participou, juntamente com o Arcebispo francês
Dom Marcel Lefèbvre, da cerimônia de sagração de quatro bispos em Ecône
(Suíça) sem autorização de Roma. Logo no dia 1° de julho seguinte, o Cardeal
Gantin, Prefeito da Sagrada Congregação para os Bispos, publicava um decreto,
pelo qual confirmava a excomunhão dos dois prelados.
Assim,
o rompimento do ex-bispo de Campos com o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira,
com a TFP e com Catolicismo ocorreu cinco anos antes de sua excomunhão.
No
Brasil, Revolução e Contra-Revolução teve quatro edições. A publicação
inicial (1959) foi feita no número 100 de Catolicismo (duas tiragens).
As edições se sucederam no mundo hispânico, nos Estados Unidos, no Canadá e
na Itália[*].
[*]
Nota da redação Além das edições em português publicadas no
Brasil (duas em 1959, uma em 1982 e outra em 1993), Revolução e
Contra-Revolução teve ainda doze edições em espanhol: Argentina
(2 edições em 1970 e uma em 1992), Chile (1964 e 1992), Colômbia (1992),
Equador (1992), Espanha (1959, 1965, 1978, 1992) e Peru (1994); duas
em francês: Brasil (1960) e Canadá (1978); três em inglês: Estados
Unidos (1972, 1980, 1993); três em italiano (1964, 1972, 1977); e uma
em rumeno (1995), perfazendo um total de 25 edições. Foi outrossim
transcrito em jornais ou revistas do Brasil, de Angola, da Argentina,
Colômbia, Espanha, França, Itália e Venezuela, alcançando uma tiragem
total (excluídas as transcrições parciais) de 123.700 exemplares.
O
mais destacado efeito de Revolução e Contra-Revolução foi ter inspirado,
no Brasil, a constituição da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição,
Família e Propriedade TFP, e fora do País, a fundação de organizações
congêneres e autônomas, que hoje vicejam em quase todas as grandes nações
do Ocidente e estendem seus ramos pelos outros continentes. Bureaux de
representação das TFPs também existem em vários países, projetando desse
modo os princípios doutrinários e os ideais de Revolução e Contra-Revolução por
26 países dos cinco continentes[*].
[*]
Nota da redação TFPs e entidades afins ou Bureaux -TFP existem
hoje no Brasil, África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Bolívia,
Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Espanha, Estados Unidos,
Filipinas, França, Índia, Itália, Nova Zelândia, Paraguai, Peru, Polônia,
Portugal, Reino Unido (Inglaterra e Escócia), Uruguai e Venezuela.
A
TFP da Venezuela foi arbitrariamente encerrada em 1984, por um decreto
iníquo do governo daquele país. Seus membros continuaram a serviço dos
mesmos ideais, em TFPs de outros países.
A
inocência da TFP venezuelana ficou amplamente comprovada com a publicação
da sentença judicial definitiva de 15 de maio de 1986, na qual se declaravam
sem fundamento as acusações levantadas contra a entidade.
Essas
entidades constituem uma grande família de almas formada em torno de Revolução
e Contra-Revolução .
Uma
transformação interna anunciada pelos próprios teóricos marxistas: a derrocada
do Estado e o surgimento da sociedade cooperativista
Em
1976, acrescentei a Revolução e Contra-Revolução uma terceira parte.
Trata-se de uma mise au point do panorama internacional transformado
pela Revolução nos cerca de vinte anos decorridos desde o lançamento da
obra, com vistas a que o leitor relacionasse facilmente o seu conteúdo
com a nova realidade de então.
O
domínio da III Revolução a comunista chegara a um estado
paradoxal de apogeu e crise. Apogeu pela extensa área que o comunismo efetivamente
veio a dominar, e pela influência que exerceu no Ocidente através da imensa
coligação de partidos comunistas, criptocomunistas, paracomunistas, além
do magma ilimitado dos inocentes-úteis. A par de apogeu, crise. Com efeito,
o comunismo entrara pari passu em declínio, junto à opinião pública.
O poder persuasório dele e sua capacidade de liderança revolucionária minguavam
dentro e fora dos limites da União Soviética. Comprometido assim o avanço
do comunismo pelo insucesso dos seus costumeiros métodos de ação e proselitismo,
optaria este, daí em diante, pela aventura?
O
fato é que, no auge de seu poder, a III Revolução deixou de ameaçar e agredir,
e passou a sorrir e pedir. Ela abandonou o caminho reto sempre o
mais curto e escolheu um ziguezague, no decurso do qual não faltavam
as incertezas.
Colocou
ela então o melhor de suas esperanças na guerra psicológica revolucionária,
que usa o sorriso tão-somente como arma de agressão e de guerra, e transfere
seu impacto conquistador, de violência (isto é, do físico e palpável),
para o campo das atuações psicológicas (isto é, para o campo impalpável).
Seu objetivo: alcançar, no interior das almas, por etapas e invisivelmente,
a vitória que certas circunstâncias lhe estavam impedindo conquistar de
modo drástico e visível, segundo os métodos clássicos.
Bem
entendido, esses métodos nada têm de comum com a mera novela jornalística
correntemente denominada de conquistas das mentes , lavagem cerebral ,
etc. Não se tratava de efetuar, no campo do intelecto, algumas operações
esparsas e esporádicas. Tratava-se, pelo contrário, de uma verdadeira guerra
de conquista psicológica, sim, mas total visando o homem
todo, e todos os homens em todos os países.
Não
seria possível descrever esta guerra psicológica revolucionária sem tratar
acuradamente do seu desenrolar naquilo que é a própria alma do Ocidente,
ou seja, o Cristianismo, e mais precisamente a Religião Católica, que é o
Cristianismo em sua plenitude absoluta e em sua autenticidade única.
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